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2º dia de desfiles em Porto Alegre: a bateria parou e o Porto Seco cantou

Por Beta Redação*. Fotos: Liane Oliveira

Nervosismo misturado com a sensação de contar os 60 anos de uma das escolas mais tradicionais de Porto Alegre: esse era o clima no barracão da Imperadores do Samba no Complexo Cultural do Porto Seco. Os integrantes estavam cuidadosos com os últimos ajustes nas suas fantasias para que tudo saísse perfeito para a apresentação aos jurados e à comunidade. Encerrariam, assim, uma espera que durava desde 2017, quando houve o último desfile na cidade.

Conhecida como “escola do povo”, a Imperadores do Samba foi a penúltima agremiação a desfilar na segunda noite do “carnaval da resistência”, como tem sido chamada a iniciativa das escolas de samba de organizarem um desfile neste ano sem apoio da prefeitura.

Nascida no bairro boêmio da capital, a Cidade Baixa e com o lema, “Nós somos a resistência do Samba”, o carnaval da Imperadores contou a história dos seus 60 anos de samba e diversas lutas. A coroa e os leões, que são os símbolos da escola, mostraram a união e a tradição no carnaval gaúcho. A escola é a segunda maior campeã do carnaval de Porto Alegre, com 19 títulos conquistados na série ouro e dois títulos na série prata.

Já passava das cinco da manhã quando a vermelho e branco pisou na avenida para apresentar o desfile que deixou quem estava no Complexo Cultural do Porto Seco em êxtase, já que os componentes vinham alegres e cantando a todo pulmão. A história da escola foi contada em 20 alas e três carros alegóricos. Desde o seu chão, África, até o seu reconhecimento como patrimônio da cultura em Porto Alegre e integração social dentro da cidade.

Para o diretor de carnaval da escola, Júnior Gonçalves, que está na escola desde os nove anos de idade, é uma a responsabilidade enorme apresentar e representar sua escola, tanto dentro da avenida como fora. “A Imperadores não é só sua história de quando seis amigos resolveram montar um grupo na Joaquim Nabuco, ela atravessa o limite do bairro e vai além. Acho uma tarefa bem difícil pensar junto com a Diretoria Executiva para ter um pouco de cada um em cada detalhe apresentado, mas o amor que temos pela escola, nos contagia muito mais”.

Os membros da escola dizem que é impossível pensar na Imperadores e não lembrar de Eloí Lourenço Martins, pois ele é o único fundador da escola que ainda está presente na agremiação. Aos 75 anos, Eloí acumula a experiência de quem desfilou em todos os carnavais da Imperadores. Ele comemora junto com a escola e acredita que esse ano o título será da Imperadores. No barracão, antes de partir para a concentração, todo mundo o cumprimentava “Está bonito demais!”, reagiu ele ao ver o carro abre-alas pela primeira vez.

Eloí foi destaque da última alegoria, que ilustrava o aniversário da escola com um bolo gigante e nos destaques laterais, pessoas que foram importantes para a instituição, como antigas rainhas, princesas, mestre-sala e porta-bandeira: o povo que faz a Imperadores.

A escola empolgou durante o seu desfile, com força e determinação, passou em toda extensão da avenida e arrancou aplausos do público que ainda acompanhava os desfiles. Para surpresa do público e dos jurados, os músicos pararam de cantar e a bateria somente fez a marcação no compasso di bumbo e para a alegria dos mestres de bateria, o público continuou a cantar o samba-enredo. “Foi estratégico e muito bem ensaiado com a bateria, ficamos felizes e não esperaria outra reação. Todo mundo sabe o nosso samba”, disse Júnior.

Os membros que passavam a linha amarela – ponto marcado como final do desfile – chegavam à dispersão comemorando. Para o presidente Érico Leoti, a escola trabalhou muito para que o desfile fosse impecável. “Deu tudo certo. Como nosso lema diz que somos a resistência do samba, não podia ser diferente neste carnaval em que estamos falando muito de resistência e sabemos o quão trabalhoso foi para cada um que está aqui”, comentou.

Festança brasileira

Quando a avenida foi dominada pelo amarelo e branco, a mensagem ficou clara: o leão voltou.

Com direito a casamento na roça no meio da passarela, a Império da Zona Norte trouxe para a pista uma verdadeira festa de São João. O enredo do desfile deste ano da primeira escola de samba do Grupo de Ouro a se apresentar na segunda noite de desfiles no Porto Seco, exaltava a mensagem de São João Batista, um homem que pregava a paz, o amor e a fraternidade.

“A vida é pé no chão e fé no coração, com toda humildade. Olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo pra encantar a multidão, as estrelas estão sorrindo”, dizia a letra da música. E foi assim que a escola chegou até o sambódromo: simples e entregue ao público.

Segundo o diretor de carnaval Júlio César Lemos, 63, o Julião, que realizou seu 35º carnaval à frente da escola, mesmo diante das dificuldades para a realização do evento, a Império se mobilizou para levar o seu melhor até Porto Seco.

“Eu vejo esse carnaval como um grande passo para nós carnavalescos. A partir de agora, tomamos um caminho próprio para andarmos com as nossas pernas, sem estar lá na prefeitura pedindo meia dúzia de dinheiro. A reestruturação e o sofrimento que estamos passando agora têm sido muito doloridos, mas com certeza vai ser muito benéfico para os nossos carnavalescos no futuro”, declara Lemos.

O brilho da bicampeã do carnaval de Porto Alegre não ficou por conta apenas das roupas encantadoras e dos três carros alegóricos que a agremiação levou para a avenida, mas também pelo envolvimento dos espectadores. O ritmo contagiante do samba-enredo foi interpretado por Gabriel Pereira, que entra para a história do carnaval gaúcho por ser o intérprete mais jovem, com 21 anos.

A alegria que a escola conseguiu transmitir ao público durante os 55 minutos em que esteve na passarela, deixou registrado que, como de costume, a união fez a força. Apesar das limitações, a Império chegou mostrando que o trabalho em conjunto fez diferença, fortaleceu sua voz, sua mensagem e fez bonito. A mensagem expressa foi de que ninguém ali deixará o carnaval morrer.

“Mais do que resistência, esse é o carnaval da sobrevivência. É preciso manter essa cultura viva. Se não tivéssemos desfile neste ano, acredito que estaríamos acabando com a alegria, seria muito difícil retornarmos. Apesar das dificuldades, nosso carnaval vai permanecer. De outra forma, com outra gestão e outro formato. Sabemos que o samba nunca vai morrer, mas o carnaval também não pode”, reflete Julião.

Majestade resiste

Última escola de Samba a entrar no Porto Seco nesse carnaval, a Estado Maior da Restinga mostrou que continua com seu brilho e realeza. Isso esteve justificado no enredo “Em terras tinguerreiras prevalece a verdade, quem foi rei nunca perde a majestade!”. Nove vezes campeã do Grupo Especial, a Tinga levou 22 alas, dois carros alegóricos e dois tripés.

Dois dias antes do desfile, o presidente da agremiação, Richer Almeida Kniest, disse que o desejo era mostrar na avenida que o carnaval não morreu frente à crise, à falta de recursos do Poder Público e ao abandono do Porto Seco. “Carnaval é uma cultura que contribui para a sociedade, movimenta a economia”, destaca.

Kniest diz que a Restinga vai para “brigar” pelo título, mas também reforça a dedicação das demais escolas de samba. “Tudo o que foi visto na avenida, é resultado do esforço de todas as escolas da série ouro, da série prata, escolas convidadas e da iniciativa privada”, finaliza.

Na concentração, Graziele Gomes, porta-estandarte da escola já aos 12 anos, estava ansiosa para entrar na avenida já na concentração. “Eu estou na escola desde os cinco anos. Por não ter desfilado ano passado, estou muito ansiosa porque foi um carnaval de resistência e recuperação. Quero que a escola faça bonito”, relata.

Ainda desfilaram no sambódromo do Porto Seco, as escolas da série prata Cobacabana, Vila Mapa, Vila Isabel, União da Tinga e Império do Sol.

* A Beta Redação é o laboratório experimental dos alunos de Jornalismo da Unisinos, em participação especial para o site CARNAVALESCO. Participaram desta cobertura: Diego Alan de Mello, Dyessica dos Santos Abadi, Graziele Iaronka da Silva, Gustavo Bauer Willrich, Jéssica Carina Mendes dos Santos, João Henrique Rosa, Juliane Kerschner, Júlio César Schenkel Hanauer, Lianna Kelly Kunst, Liane Oliveira, Marcelo Janssen Neri da Silva, Matheus Klassmann, Stefany de Jesus Rocha, Thiago Borba, Vitor dos Santos Brandão da Silva e Vitorya da Cruz Paulo. Orientação e edição: Everton Cardoso e Felipe Boff.

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