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Barracões: Jorge Freitas destaca força da mulher em desfile milionário como carnavalesco da Mancha Verde

Almejando o inédito título do Grupo Especial do carnaval de São Paulo, a escola de samba Mancha Verde investiu uma alta quantia em dinheiro para ver sonho se tornar realidade. Conceituado na região paulista e estreante na agremiação, Jorge Freitas assume responsabilidade como carnavalesco, desenvolvendo o enredo africano: “Oxalá, Salva a Princesa! A Saga de uma Guerreira Negra!”. Jorge recebeu a reportagem do site CARNAVALESCO no barracão localizado junto à quadra. Ele explica detalhes do tema, destaca força feminina e revela que protagonista está inserida na realidade atual.

“Quando eu fechei com a Mancha eles queriam falar da saga dessa guerreira negra. Idealizamos uma sinopse onde uma negra nasce princesa no Congo, ela é escravizada pela cobiça do invasor europeu que invadiu sua terra para roubar a maior riqueza, que era o Marfim. Ela cresce e na sua juventude é tirada das suas origens e feita escrava, ela cruza o oceano sem saber onde iria parar. Durante a viagem é marcada no corpo, é violentada, carrega em seu ventre o fruto da violação. Ao chegar no Brasil, se encanta pelas terras, pede as bençãos dos orixás e é recebida por Iemanjá. Em Pernanbuco, ela vê as mãos negras atuando nas plantações, no café, da cana-de-açúycar. Na senzala ela pede aos santos brasileiros para que abençoe e vai a luta, não só por ela, e sim pra fazer que o seu povo tenha a libertação. Ouve falar de Palmares onde poderia expressar os seus sentimentos, e lá fica cada vez mais forte, e se torna uma das pessoas que coordena os Palmares. Lá tem seus filhos, sendo que um é a história do Brasil, sem Aqualtune, não teríamos um dos personagens principais que é Zumbi dos Palmares. O papel dessa mulher a gente coloca como libertação para todas as mulheres que sofrem de violência, abusos e sempre vão em busca de liberdade. A protagonista do nosso enredo é inserida numa realidade atual, o mundo mostra isso. Todos nós somos iguais, todos temos os mesmos direitos e os mesmos deveres sem distinção de cor, de raça, de religião”.

No último setor, a escola traz a princesa Aqualtune carregando a mistura das duas regiões, Brasil e África. O sambista encontrará no desfile uma grande escultura de Zumbi dos Palmares, neto da princesa, toda esculpida por ferro.

“Eu acredito que é um desfecho nosso e uma forma muito poética de enfatizar uma parte da história do Brasil, mas também com foco no grande orixá que está nos guiando”, finaliza.

Sobre a pesquisa, Jorge Freitas conta que altruísmo e força de Aqualtune chamou sua atenção.

“O que mais me intrigou foi a bravura dessa mulher em não lutar apenas por si, e sim pelo povo no qual se sentia responsável. Tanto é que ela nasce princesa e se torna escrava, mas o ‘eu’ dela, como princesa daquele povo, fez com que lutasse e encontrasse a igualdade do negro como ser humano”.

O carnavalesco se mostra seguro ao falar sobre cronograma de barracão e brinca com alegorias prontas.

“Na verdade só estamos dando alguns retoques finais que poderiam ser deixados até pra avenida, mas como sobrou tempo, estamos fazendo dentro do barracão mesmo. Como você pôde ver, ta tudo embalado (risos)”.

Patrocínio ultrapassa o valor R$ 3 milhões

Num cenário de crise onde muitas escolas de samba diminuem a grandiosidade do desfile para que caiba no orçamento, a escola de samba Mancha Verde corre na contramão dessa realidade. Através do patrocínio da Crefisa, a entidade alviverde arrecadou R$ 3.426.370,00 pela Lei Rouanet (Lei de incentivo a cultura). Não tem relatos na história do carnaval de valor maior captado de um único incentivador, englobando também o carnaval do Rio de Janeiro.

Jorge Freitas indica destino de parte da verba e afirma necessidade de uma boa direção para administrar o valor arrecadado.

“As pessoas acham que o patrocínio é todo no carnaval, mas se tem um investimento na estrutura. Acabou o carnaval em Fevereiro, em Março já estávamos ensaiando. Pra ensaiar você abre a quadra, tem a luz, tem a água. A escola montou uma infraestrutura pra receber os seus componentes durante um ano de uma forma legal, e tem os investimentos do próprio patrimônio da quadra. Pra que a gente pudesse fazer um carnaval maior, você tem que montar uma estrutura onde tem que aumentar o tamanho do barracão, tudo isso também está inserido na verba que a Crefisa disponibilizou. Tem coisas que você não pode pagar com a lei Rouanet. O investimento é fantástico, mas você precisa de uma boa gestão pra administrar. Houve um investimento muito forte. Quando você ensaia o ano todo, quando você traz o componente ao ano todo pra dentro da quadra, isso é um investimento”.

É inevitável não esperar um carnaval competitivo da escola. Cauteloso sobre resultado, Jorge assegura estilo detalhista nas alegorias.

“Falar da vitória é uma consequência do trabalho, nós temos grandes chances de fazer um grande espetáculo, mas tudo acontece na hora. Pra que tudo isso aconteça nós fizemos um trabalho muito intenso com os quesitos que são de avenida, os 70% nós trabalhamos muito. Vamos ver na avenida esse projeto grandioso que a Mancha está preparando. Quando eu falo de grandioso é do trabalho em si, acabamento, riqueza de detalhes nas alegorias e nas fantasias”.

Bit da bateria para 2019 cresce por influência de Jorge Freitas

As apresentações do Puro Balanço provocaram curiosidade para quem comparasse com a postura do último carnaval, sentimento provocado pela presença do carnavalesco. Isso porque, ao escolher o samba-enredo, Jorge Freitas conversou com o Mestre Maradona e outros dirigentes sobre vontade de aumentar o andamento da bateria.

“Na verdade não é só aumentar o bit, é preciso conciliar três quesitos: Ritmo, dança e canto. O nosso samba precisava de um bit mais elevado para que a nossa evolução acontecesse de uma forma mais satisfatória para o desfile, são três coisas que são totalmente juntas e não tem como separar. Você tem a bateria, tem o samba-enredo e a evolução do componente, houve um consenso não só na parte de bit, mas nós trocamos as afinações dos surdos pra um tom mais apurado, com distinção entre os outros naipes. É uma medida para que tudo aconteça de maneira satisfatória. As pessoas estranham, mas é tudo técnico, nós temos que trabalhar os noves quesitos em conjunto”.

Além de carnavalesco, Jorge Freitas é cenógrafo, artista plástico, diretor artístico e, durante 25 anos, atuou como regente de banda bicampeã. Ele revela que cargos do passado influenciam no trabalho do presente.

“Não existe segredo, o que existe é o comprometimento muito grande do profissional com a agremiação com a realização do trabalho, eu amo o que eu faço. Todos os atributos que eu tinha no cotidiano insiro no trabalho, a regência me ajudou muito nessa parte harmônica, me ajudou muito na parte da evolução, isso ai é o meu segredo. Tenho uma linguagem muito didática no motivacional com o componente”.

Praticamente todas as agremiações que Jorge Freitas assinou carnaval foi campeã. Sobre desfile da Mancha, o carnavalesco garante que não considera como desafio e elogia gestão.

“Não é um desafio, a Mancha vem numa crescente muito grande. Teve alguma fatalidade que fez ela descer, e ela subiu com uma força muito grande. Eu acho que é uma das grandes potência do carnaval de São Paulo. Ela tem uma gestão de invejar, o carnaval necessita de bons gestores e na Mancha isso aqui é muito claro. Desde a sua fundação é o mesmo presidente, e ele conseguiu fazer com que a agremiação se transformasse numa potência disciplinada. Quando você chega na quadra é de uma limpeza fenomenal, e isso é no dia a dia, o cotidiano da Mancha se faz dessa forma”.

Conheça o desfile

1° SETOR –Áfica Suntuosa

“A gente abre com o grande nascimento de Aqualtune e a gente faz uma homenagem à África suntuosa que até então era de riquezas, essa é a primeira parte do nosso enredo. Era um local de muita riqueza, tanto que no samba diz ‘África, suntuosa riqueza’, e dali a gente chega a cobiça dos invasores. Ele chegam, dominam o Congo e começa o confronto do homem branco e o Congolês, fazendo os africanos se tornarem escravos”.

2° SETOR – A África Chora

“Nesse setor temos o negro transformado em escravo. Existem fatos de violência com a mulher grávida até cruzar o mar vermelho de dor, porque o negro é trazido para o mar, eles choram e tem suas lágrimas transformadas em sangue”.

3° SETOR – Tráfico do navio negreiro

“Chegamos então na nossa terceira alegoria, o tráfico do navio negreiro e recebidas em águas brasileiras por Yemanjá. Aqui chega, encontra coqueiro na terra do Maracatu, tem a colheita de algodão, de café, da cana-de-açúcar. Nos deparamos a imagem de Nossa Senhora do Rosário, onde Aqualtune pede libertação e proteção”.

4° SETOR – Pernambuco

“Ela vai a Palmares, e a expressão africana é colocada em potes de argila. Traremos os tambores que foram criados pra expressão musical do povo africano, os turbantes que os negros usavam e que virou moda no Brasil”.

5° SETOR – Afro-Brasil

“Nosso desfecho é unindo a Aqualtune com o coração afro-brasileiro. A gente termina com África-Brasil, fazendo uma grande homenagem à Aqualtune simbolizando a luta da mulher, a luta do ser humano e aparece a imagem de Zumbi dos Palmares. Zumbi vai ser uma grande peça feita durante quatro meses, toda ela em ferro porque estamos num ano de Ogum, então o ferro estará presente a essa homenagem a Aqualtune”

História do carnavalesco Jorge Freitas

“Eu sou da região serrana do Rio de Janeiro. Alguns trabalhos meus no Rio foi Portela, Vila Isabel, depois vim pra São Paulo em 1999 pra fazer aquela homenagem ao Brasil dos 500 anos. Aqui passei por quatro agremiações, foi Gaviões da Fiel, Pérola, Rosas de Ouro no qual fiquei muito tempo e Império de Casa Verde. Todas escolas que passei tive títulos, e agora uma nova experiência na Mancha Verde. Junto com meu filho fizemos Independente e ano passado subimos com o Águia de Ouro. Eu acho que essa trajetória é vitoriosa, mas o que me diferencia é o trabalho que faço com a comunidade. O trabalho de carnavalesco nada mais é que uma coisa que faz parte de dois quesitos, o trabalho motivacional que eu faço com os componentes é o diferencial, e esse trabalho é o que as escolas necessitam. É um trabalho exaustivo mas a gente vê que tem um resultado enorme”.

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