InícioGrupo EspecialBela e sombria, a terceira alegoria da Mocidade gerou sentimentos controversos

Bela e sombria, a terceira alegoria da Mocidade gerou sentimentos controversos

Neste sábado, 23 de abril, aconteceu o último dia de desfiles do grupo especial do Rio de Janeiro. Terceira escola a passar na avenida, a Mocidade Independente de Padre Miguel apresentou o enredo ‘Batuque ao caçador’, uma homenagem ao orixá Oxossi. Representado pela imagem de um caçador que carrega um arco e uma flecha, ele é visto como o orixá da prosperidade.

Os orixás são figuras que formam uma das bases da cultura Iorubá. Os Iorubá são um dos maiores grupos étnicos da África negra, estão a sudoeste da Nigéria, no Togo, Gana, Costa do Marfim e Benin. É exatamente no Benin onde localizamos a cidade de Ketou, antigo Ketu, reino de mais de seiscentos anos de história e objeto de inspiração para a terceira alegoria da Mocidade.

Com aspecto sombrio, o carro é uma metáfora da destruição do antigo reino de Ketu. Há muitas histórias a respeito de Ketu, mas o carro da Mocidade mostra referência a narrativa em que após anos de conflitos entre Ketu e o reino de Daomé, os europeus que chegaram lá pensando no aumento do comércio de cativos, aproveitou a instabilidades dos reinos, dominou Daomé e levou destruição até os vizinhos em Ketu.

A ganância do homem branco foi vista por meio de enormes cabeças de navegadores europeus ao redor da alegoria, essas cabeças estavam com as bocas abertas e de lá saíam inúmeros crânios que simbolizavam os povos mortos naquela região. Nas duas laterais do carro uma série de tambores imitavam os tambores da madeira de Iroko, árvore sagrada encontrada no antigo reino de Ketu e junto a cada tambor vinha o seu respectivo Ogã, em Iorubá a palavra significa ‘aquele que bate, toca e canta’.

Em entrevista para a equipe do site CARNAVALESCO, Camilo Zamora, colombiano desfilando pela quarta vez na escola de Padre Milguel, disse que foi graças ao carnaval do Rio de Janeiro que ele ouviu sobre os orixás e uma ancestralidade preta diferente da dele. Também contou que se sente feliz de poder ter participado deste enredo que ajuda a contar mais sobre a história dos povos que formam o Brasil.

“Estou adorando estar aqui, da Colômbia eu comecei a escutar sobre Oxossi e os orixás através do carnaval do rio e passei a gostar, então estou muito feliz de estar aqui agora” contou Camilo ao site.

“Esse carro e esse enredo são a história do Brasil! História das pessoas macumbeiras, das pessoas pretas e a história que a gente tem que conhecer. Nós temos que conhecer a história preta do Brasil.” Afirmou ao complementar seu pensamento a respeito do enredo.

A fantasia de Camilo é diferente da roupa da maioria dos componentes vindo em cima do carro. Preta e verde, ela tem detalhes em dourado e simboliza antigos guerreiros europeus. Sendo assim, também há uma espécie de proteção no peitoral e abdômen, assim como um chapéu de navegador. Ambos prateados, assim como a espada empunhada.

“No meu caso, os negros foram domesticados, então eu estou representando essa parte negra que traiu os próprios negros” respondeu Camilo, quando perguntado o que representa a fantasia.

O carro estava lindo, mas sua representação sombria não deixou todos os componentes totalmente confortáveis para o desfile. Camilo Zamora estava tranquilo, mas Paulo Augusto, embora feliz, comentou do seu desconforto ao site CARNAVALESCO.

“O carro me impactou muito quando eu fui ensaiar. Ele é lindo, mas eu sei que ele vem representando a guerra. Eu confesso que tenho medo da morte, mas pela Mocidade a gente vai” disse Paulo.

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