InícioEspecialCarnavalescos que trabalharam na Série A em 2019 relatam bastidores e dramas...

Carnavalescos que trabalharam na Série A em 2019 relatam bastidores e dramas de trabalhar no grupo

O Observatório de Carnaval da UFRJ promoveu nesta quarta-feira na Faculdade de Letras um debate com alguns carnavalescos que fizeram carnavais de destaque na Série A este ano. A mesa sobre o processo de criação nos desfiles do grupo fez parte da I Jornada Acadêmica de pesquisas em carnaval. O debate foi mediado por Cleiton Almeida (EBA/UFRJ), um dos coordenadores gerais do OBCAR. Participaram da conversa Tarcísio Zanon, campeão da Série A em 2019 com a Estácio, João Vítor Araújo, que terminou na sexta colocação com a Unidos de Padre Miguel, Leonardo Bora e Gabriel Haddad, vice-campeões com a Cubango, e Jaime Cezário, que terminou na terceira colocação com a Porto da Pedra.

Embora, a maior parte dos convidados não integre mais a Série A, eles falaram das lutas e dos bastidores para colocar uma escola na avenida pelo grupo de acesso. Tarcísio Zanon revela que é fundamental a observação dos desfiles do Especial para fazer uma triagem de esculturas que podem ser reaproveitadas no ano seguinte nas escolas do grupo.

“Primeiro partimos para uma pesquisa densa dentro do barracão. É preciso olhar tudo que você tem, em termos de estruturas e almoxarifado. O carnavalesco do Acesso assiste o desfile do Especial e já pensa naquilo que vê na avenida e como pode transformar. São medidas que barateiam o carnaval. O desfile do acesso vive uma crise sem precedentes e não adianta o carnavalesco aloprar. Carnaval bom é aquele que fica pronto”, explica.

João Vítor Araújo corrobora com a tese do colega e complementa dizendo que apesar da dificuldade de se trabalhar nos barracões da Série A, quando o projeto dá certo na avenida a sensação é extremamente prazerosa.

“Eu tenho a ideia e procuro investigar se algo que esteve no Especial casa com minha ideia. As próprias escolas do acesso possuem um grande acervo de esculturas que pegam nas outras escolas. É como montar um quebra-cabeças. Você vai juntando peças e seu carnaval vai nascendo. Por outro lado você precisa de um apoio da direção da escola, pessoas que respeitam sua arte e sua ideia. É difícil, isso não dá para negar, mas é muito prazeroso quando você vê tudo pronto na avenida do jeito que você planejou”, apontou.

Leonardo Bora joga luz na crise financeira pela qual todas as escolas da Série A atravessam, o que segundo ele, praticamente inviabiliza a contratação de mão de obra qualificada, forçando os carnavalescos a literalmente botarem a mão na massa no barracão.

“Mão de obra qualificada no carnaval custa muito caro. Fazer carnaval no acesso é uma escola e tanto. Não vou glamourizar o precário, mas é possível extrair desse cenário uma linha estética. A Série A é um carnaval mais artesanal. Eu particularmente sou mais minucioso e detalhista. Nessa longa trajetória no acesso passamos por experiências que testam o tempo todo o projeto. Eu gosto muito do discurso narrativo, por ter vindo da literatura”, destacou em sua explanação.

Parceiro de Bora agora na Grande Rio, Gabriel Haddad, que possui vasta experiência como auxiliar de diversos carnavalescos de renome, ressalta que os figurinos das fantasias são a maior fatia no orçamento de carnaval em um barracão. Segundo ele explica é difícil fazer reciclagem pois o componente nem sempre devolve a fantasia.

“Os maiores gastos da escola de samba são com as fantasias. Primeiro porque você possui pouco controle dos figurinos após os desfiles. Na Cubango buscamos investir na forma e na cor. Apostamos em mais costura, reduzindo ferragens e plumas. O carnavalesco que faz Série A precisa ter muita sensibilidade e perspicácia para fazer mudanças no projeto o tempo inteiro. O desperdício no carnaval é gigantesco. Do primeiro para o segundo ano na Cubango guardamos muita coisa e isso é uma forma de resignificar o seu próprio trabalho. Mas para isso acontecer é preciso ter liberdade”, alerta.

Com a experiência de quase três décadas de carnaval Jaime Cezário falou sobre os enredos. O artista e arquiteto disse que existem enredos mais apropriados para o acesso que criam praticamente uma receita de sucesso, como vem ocorrendo em seus carnavais recentes na Porto da Pedra.

“Vejo a temática como fundamental para o sucesso de um desfile no acesso. Não adianta o carnavalesco criar algo que não case com a realidade do grupo e da própria escola. Em meu primeiro carnaval no Engenho da Rainha fiz enredo infantil. O carnavalesco precisa criar e encontrar soluções onde não tem”, finaliza.

- ads-

Roteiro dos Desfiles recebe título de Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial da cidade do Rio

O Roteiro dos desfiles, que é distribuído gratuitamente na Sapucaí, recebeu o título de reconhecimento de Patrimônio Histórico, Cultural e Imaterial da Cidade do...

Galeria da Velha-Guarda da Viradouro passa a ser Patrimônio Imaterial do Estado do Rio

A Galeria da Velha Guarda da Unidos do Viradouro - escola de samba campeã do Carnaval de 2024 - se tornou patrimônio imaterial do...

Vigário Geral anuncia renovação do casal de mestre-sala e porta-bandeira

A Acadêmicos de Vigário Geral acertou a renovação de Diego Jenkins e Thainá Teixeira como seu primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. O casal...