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Desfiles da Década: O exuberante ‘Rio no Cinema’ do Salgueiro no Carnaval de 2011

Na estreia da série, um desfile emblemático, que apesar de ter conquistado "apenas" um quinto lugar e de ter tido um triste final, entrou para história do carnaval carioca. No ano de 2011, a dupla de carnavalescos Renato e Márcia Lage surpreendeu público e crítica, mais uma vez, ao realizar um dos melhores e mais belos trabalhos de suas carreiras

O site CARNAVALESCO inicia hoje a série de matérias intitulada de “Desfiles da Década”, na qual apresentações marcantes que passaram pela Marquês de Sapucaí, entre os anos de 2011 e 2020, serão relembradas (veja aqui a lista dos desfiles). Na estreia, um desfile emblemático, que apesar de ter conquistado “apenas” um quinto lugar e de ter tido um triste final, entrou para história do carnaval carioca. No ano de 2011, a dupla de carnavalescos Renato e Márcia Lage surpreendeu público e crítica, mais uma vez, ao realizar um dos melhores e mais belos trabalhos de suas carreiras, com o enredo “Salgueiro apresenta: o Rio no Cinema”. A grandiosidade dos carros, o bom uso das cores e as fantasias mais leves, que permitiam ao componente brincar, deram a identidade visual alegre que casou perfeitamente a proposta do enredo e arrebatou as arquibancadas.

Desfiles da Década: O exuberante 'Rio no Cinema' do Salgueiro no Carnaval de 2011

Porém, o gigantismo das alegorias também foi o grande calcanhar de Aquiles salgueirense, sendo responsável por causar diversos problemas que afetaram diretamente quesitos importantes, como harmonia, e, principalmente, evolução. Ao todo, três carros tiveram dificuldades para entrarem na Avenida devido ao tamanho. Houve ainda um quarto carro que sofreu com um princípio de incêndio. Fatalidades estas que fizeram um campeonato que parecia quase que certo, até cerca de 50 minutos de desfile, escorrer pelos dedos das mãos. No fim, a apresentação da Vermelha e Branca da Tijuca terminou com 92 minutos de duração, dez a mais do que o tempo máximo previsto pelo regulamento da época. Um final melancólico, mas que todavia não apagou o brilho de uma apresentação histórica.

CONTEXTO DO ANO

Aliás, a superação já era algo que se fazia presente desde o pré-carnaval daquele ano. Há 27 dias dos desfiles, exatamente em 7 de fevereiro de 2011, uma incêndio de grandes proporções atingiu os barracões da Acadêmicos do Grande Rio, da Portela e da União da Ilha do Governador, além de um galpão que na época era usado pela Liesa, na Cidade do Samba, Zona Portuária do Rio. Ao todo, mais de 120 bombeiros e 20 veículos antichamas atuaram no combate ao fogo e demoraram cerca de quatro horas para conseguir conter as chamas. Ninguém ficou ferido no incêndio, mas as três escolas atingidas tiveram um prejuízo milionário, sem falar do trabalho de um ano inteiro comprometido. Por conta disso, uma plenária da Liesa, realizada no mesmo dia 7 de fevereiro, definiu que não haveria rebaixamento em 2011 e que as três escolas afetadas pelo incêndio não seriam julgadas. Com isso, a disputa ficaria apenas entre as demais nove agremiações que formavam o Grupo Especial na ocasião: Unidos da Tijuca, Beija-Flor, Vila Isabel, Salgueiro, Mangueira, Mocidade, Imperatriz, Porto da Pedra e São Clemente.

“Quando cheguei na concentração e vi o Salgueiro gigantesco, lindo, nunca senti algo parecido. Minhas pernas tremiam e as pessoas nas arquibancadas gritavam é campeão”, sidclei

Em relação a Vermelha e Branca da Tijuca, o carnaval de 2011 marcava o reencontro do casal Renato e Márcia Lage após dois anos separados. Em 2008, os dois haviam feito jornada dupla no próprio Salgueiro, pelo Grupo Especial, e no Império Serrano, que na ocasião desfilava pelo então Grupo de Acesso A. Após obterem o título da segunda divisão da folia carioca, no ano seguinte, a dupla se dividiu: Renato seguiu no Salgueiro, enquanto Márcia teria a missão de manter o tradicional Império na elite. Acabou que, neste primeiro ano, cada um ficou em uma ponta da classificação final. Renato Lage conquistou o quarto título no Especial da carreira, o nono da história salgueirense, com o enredo “Tambor”. Já Márcia Lage, que na época ainda utilizava o nome artístico de Márcia Lávia, viu a reedição de “A Lenda das Sereias, Rainhas do Mar” de 1976 naufragar, ao ficar na décima segunda e última colocação, sendo o Reizinho de Madureira rebaixado (o segundo rebaixamento em três anos). Para 2010, a parceria entre Salgueiro e Renato foi renovada, ao mesmo tempo que Márcia recebeu uma proposta para desenvolver o carnaval da Estação Primeira de Mangueira. No entanto, o casamento entre a carnavalesca e a Verde e Rosa terminou antes mesmo de chegar até a Avenida, sendo ela dispensada ainda em setembro de 2009.

“Foi uma apresentação de gala da escola com um carnaval alegre e cheio de energia que transformou a Avenida em um set de filmagem”, Hélio bejani

A retomada da parceria em 2011 deu um novo gás ao casal e ao Salgueiro. Após um carnaval com carros menores em altura e largura no ano de 2010, a Academia do Samba apresentava um dos mais grandiosos conjuntos alegóricos de sua história, não apenas em tamanho, como também no quesito luxo. As alegorias juntavam o melhor da característica de cada um, mesclando o estilo hi tech de Renato, com o estilo barroco de Márcia. Por conta da pegada a bem-humorada do enredo, a proposta era ser de fato um desfile leve, tirando o volume das fantasias e colocando ele nos carros, deixando assim o desfilante mais solto.

Tal proposta já se fazia presente desde a comissão de frente, coreografada por Hélio Bejani, que ia para o quarto ano consecutivo como o responsável pelo quesito no Salgueiro. Nomeada de “Em Busca da Fama”, a comissão trazia componentes vestidos de baleiros, que realizavam diversas coreografias usando como base para os movimentos o tabuleiro das balas, que se transformava em um palco para sapateado. O auge da apresentação acontecia quando os baleiros formavam uma escadaria até o alto do elemento cenográfico, que acompanhava a comissão, e uma bailarina subia os degraus. Já no topo, ela ficava em pé, em cima de um duto de ar, recriando a clássica cena do vestido esvoaçante de Marilyn Monroe no filme “O Pecado Mora ao Lado”, de 1954.

“Para o trabalho da comissão de frente foi um ano especial, pois o enredo, Rio no Cinema, nos proporcionou a possibilidade de levarmos para a Avenida uma ideia que já pensávamos há muito tempo, o sapateado como fio condutor de toda movimentação dos antigos e divertidos baleiros do cinema. Já o desfile, como um todo, nos foi um tanto quanto frustrante, pelo fato do Salgueiro ter perdido o campeonato devido ao estouro do tempo permitido. Mas, falhas a parte, foi uma apresentação de gala da escola com um carnaval alegre e cheio de energia que transformou a Avenida em um set de filmagem, contagiando o público que deslizou de suas próprias realidades para vivenciar aquele momento como as verdadeiras estrelas do maior espetáculo da terra”, relembrou Hélio Bejani ao site CARNAVALESCO.

Logo depois da comissão, foi a vez do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Sidclei e Gleice Simpatia, se apresentarem. Com uma fantasia luxuosa e nas cores da escola, o vermelho e o branco, a dupla esbanjava carisma e demonstrava sintonia, mesmo se tratando do primeiro ano deles juntos. Na ocasião, Gleice estava no seu quinto carnaval conduzindo o pavilhão principal do Salgueiro; enquanto Sidclei retornava para a Academia do Samba depois de 11 anos afastado.

“O carnaval de 2011, para mim, tem uma importância muito grande, uma emoção… Eu estava voltando para minha casa, era o Salgueiro me abraçando, me trazendo de volta. E eu estava dançando com a Gleice, uma porta-bandeira excelente, um ser humano incrível… Aquilo já me emocionava desde quando eu retornei a quadra, na apresentação. Então, quando cheguei na concentração e vi o Salgueiro gigantesco, lindo, nunca senti algo parecido. Minhas pernas tremiam e as pessoas nas arquibancadas gritavam ‘É campeão’. Era tudo muito bonito, as fantasias, os carros maravilhosos. O Salgueiro estava impecável”, relatou Sidclei em entrevista ao site CARNAVALESCO.

Repleto de luzes e com muito neon, marca registrada do carnavalesco Renato Lage, o abre-alas salgueirense encerrava o primeiro setor. O carro em questão retratava os antigos cinemas da Cinelândia, como o Cine Odeon. Na frente da alegoria, que era toda nas cores da agremiação, o interior de uma sala de cinema era retratado, com direito a público e um grande telão. Telão este que intercalava cenas clássicas de filmes que falaram ou tiveram o Rio como cenário; com imagens do público na Sapucaí, feitas na hora por um cinegrafista contratado pela escola. Uma aposta certeira, que não só garantiu interação, como também animou quem assistia a apresentação do Salgueiro ao vivo.

Mas a beleza e os acertos não ficavam restritos aos carros alegóricos. Com um conjunto de fantasias que também era de se encher os olhos, seja pelo luxo ou pelo acabamento impecável, o belíssimo figurino da ala de baianas do Salgueiro era digno de destaque no segundo setor. Vestidas de Carlota Joaquina, as senhoras vinham com uma roupa volumusa, com direito a plumas, que tinha um degradê na saia e um vermelho forte na parte de cima. Apesar do tamanho, a fantasia aparentava certa leveza, devido ao bailado solto e os giros constantes das baianas. Havia ainda um leque como acessório, que dava um charme a mais para a ala.

No entanto, nem tudo era perfeito. Desde o início do desfile, o Salgueiro já apresentava problemas para colocar os carros na Avenida, justamente por conta do tamanho gigantesco deles. Um dos primeiros a ter dificuldades para fazer a curva de entrada foi o segundo carro, intitulado “O Tesouro Perdido de Atlântida”. Após conseguir entrar na pista, a alegoria ainda apresentou dificuldades de locomoção, chegando a abrir clarões com a ala de baianas que vinha na frente.

Apesar do problema, a apresentação salgueirense seguiu e cada vez mais conquistou o público. A partir do terceiro setor, a característica satírica e bem humorada do enredo ganhou destaque, com a presença mais predominante de alas com representações e fantasias irreverentes. O ápice disso aconteceu durante a passagem da ala denominada “Malandragem”, que trazia os típicos malandros da Lapa, com direito a terno branco e chapéu panamá, tendo à frente o passista Carlinhos do Salgueiro interpretando Madame Satã, figura lendária da região boêmia do Rio. O momento da coreografia em que os malandros levantavam Madame Satã para o alto arrancava aplausos e gritos das arquibancadas. Tanto Carlinhos, como a ala como um todo, arrebataram ainda a crítica, que concedeu a performance diversos prêmios.

Outro momento que causou frenesi foi a passagem da quarta alegoria, chamada de “Yes, nós temos Bananas… Pandeiros e Balangandãs”. O carro tinha uma enorme escadaria, em que 40 bailarinos faziam diversas coreografias com sapateado. O barulho dos sapatos era captado por microfones espalhados pelo carro e transmitidos para o público através de caixas de som. Tratava-se de mais uma proposta que buscava aproximar o espectador das frisas e das arquibancadas do que se passava na pista. Novamente, algo acertado.

Conforme o desfile avançava e o tempo de apresentação transcorria, novos problemas surgiam. Depois do drama com o segundo carro, outra alegoria também apresentou muitas dificuldades para entrar na Sapucaí. No caso, a sétima alegoria, intitulada de “Hollywood é Aqui”. O carro era um dos mais aguardados de todo o desfile, justamente por trazer o “King-Kong” pendurado no relógio da Central do Brasil, algo tão comentado no pré-carnaval daquele ano. A expectativa era tanta que, ao conseguir fazer a curva e entrar na Avenida, o setor um começou a comemorar enlouquecidamente o feito. Porém, aquela altura, a escola já havia aberto um enorme buraco até a ala seguinte. Para piorar a situação salgueirense, logo em seguida, a oitava e última alegoria, denominada de “O Prêmio da Academia”, teve problemas no acoplamento de quatro esculturas, demorando para entrar na Avenida e abrindo mais um grande buraco na escola.

“Cheguei na dispersão e Salgueiro é campeão. Todos me falavam isso. E eu fui trocar de roupa ali embaixo do túnel, aquele que vai para Rua do Riachuelo, e naquela época a gente costumava ligar para casa para ver como é que foi o desfile. Eu muito feliz naquele momento, as pessoas me parabenizando, dizendo que o Salgueiro já era campeão, e em fração de segundos, terminei de tirar a roupa, liguei para casa e me falaram que um carro quebrou. O carro do King Kong não tava entrando. Aquilo dali já me deu uma frustração. Daí fiquei ali na dispersão, via que a escola não andava, até que de repente começou a chegar os carros e ficar um em cima do outro, tinha virado um filme de terror aquilo dali. Eu, junto com a minha porta da bandeira e com alguns diretores, fomos tentar ajudar. O Salgueiro era tão grandioso que propriamente a ala da força não dava vazão para dispersar os carros. A situação ia ficando cada vez mais complicada, todo mundo chorando e eu, como salgueirense, empurrando carro”, recordou Sidclei.

Enquanto o drama para colocar a sétima e a oitava alegoria acontecia, o Salgueiro estava completamente parado na pista. A demora para resolver a situação foi transformando a empolgação do componente em tensão. Após a entrada dos carros, a escola teria de correr para evitar estourar o tempo máximo regulamentar. Mas, infelizmente, não foi possível. Aos 80 minutos, faltando dois para atingir o limite, o oitavo carro ainda nem tinha cruzado a faixa de meio de desfile da Marquês de Sapucaí. Pouco antes, para poupar tempo, a bateria Furiosa do Salgueiro passou direto pelo segundo recuo.

“Foi o ano da fatalidade. Um samba acontecendo na Avenida, uma escola pulsando, com pinta de campeã e a imagem que eu tenho é o carro de som parado pouco depois de onde ficavam os jurados do Estandarte de Ouro. Na pista, você não sabia o que estava acontecendo, você estava ali envolvido com outras coisas, e o tempo passando… Depois, a gente passa direto pelo box da bateria… São essas as imagens que eu tenho do desfile de 2011. Um samba absolutamente na medida certa do ponto da sátira do enredo, um samba cantado pela escola, mas um desfile que tem aquele gostinho de que perdemos para nós mesmos”, afirmou Dudu Botelho, um dos autores do samba do Salgueiro de 2011.

E mesmo com as adversidades, a parte musical do Salgueiro foi fundamental para não deixar o desfile morrer. O samba da escola, que não era um dos mais celebrados no pré-carnaval, não só funcionou de forma excelente, como conseguiu sintetizar bem o clima alegre proposto pelo enredo. A obra composta por Anderson Benson, Dudu Botelho, Luiz Pião e Miudinho foi entoada a plenos pulmões pelos componentes do início, principalmente, até o fim. Um dos fatores que possibilitam isso foi a boa performance do carro de som, que na ocasião contava pela primeira vez com um trio de intérpretes no comando: Quinho, Serginho do Porto e Leonardo Bessa.

Outra peça fundamental para o rendimento do samba foi a bateria Furiosa do Salgueiro. Com uma fantasia chamada de “Furiosa Tropa de Elite”, os ritmistas vieram vestidos como agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio, o Bope. Tendo comando de Mestre Marcão, que nesse ano contava com o auxílio luxuoso de Mestre Paulinho, a bateria deu um verdadeiro show com direito a coreografias, muitas bossas e paradinhas. A rainha Viviane Araújo, que na época realizava seu quarto desfile no posto, já demonstrava completo entrosamento, além de muito carisma e samba no pé.

Ao final dos desfiles, mesmo com todos os problemas, o Salgueiro despontava na opinião de crítica e público como uma das melhores apresentações do ano. Entre os prêmios obtidos, a escola faturou duas categorias do Estrela do Carnaval: melhor ala de baianas e melhor conjunto de alegorias. Porém, mesmo com este reconhecimento, o estouro de dez minutos do tempo máximo e a provável perda de pontos no quesito evolução tornavam a briga por título distante. Na quarta-feira de cinzas, isso se confirmou e a escola terminou a apuração em quinto lugar. Um fator curioso no mapa de notas da agremiação é que um dos quesitos mais despontuados foi alegorias e adereços, que também foi o único a não receber nenhum dez. De cinco jurados, foram duas notas 9,9 e três notas 9,8. Para efeito de comparação, até mesmo o quesito evolução teve uma nota dez, na segunda cabine de julgamento.

A classificação final do carnaval 2011 do Grupo Especial terminou com a Beija-Flor de Nilópolis em primeiro lugar, com 299,7 pontos. Já o vice-campeonato ficou com a Unidos da Tijuca, que terminou a apuração com 1,3 ponto a menos que a campeã, totalizando 298,4 pontos. Encerrando o pódio, a terceira colocada foi a Estação Primeira de Mangueira, que ficou com 297,2 pontos, 1,2 ponto abaixo da Tijuca e com uma diferença de 2,5 pontos para Beija-Flor. O quarto lugar na tabela ficou com a Unidos de Vila Isabel, que foi seguida pela Acadêmicos do Salgueiro e Imperatriz Leopoldinense, que completavam as seis escolas do desfile das campeãs. Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos do Porto da Pedra e São Clemente terminaram nas últimas posições, mas sem correr riscos de rebaixamento.

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