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Entrevistão com Gabriel David: ‘A escola de samba não pode ser usada para fazer crítica com viés ideológico’

Quem entra na sala de Gabriel David no barracão da Beija-Flor se depara com uma imagem curiosa. O dirigente, ainda criança, em 2010, ao lado do pai, o presidente de honra da escola, Anísio Abrahão Davi, momentos antes do desfile da Deusa da Passarela. A imagem deixa claro: Gabriel não caiu no carnaval de para-quedas, embora possua conceitos modernos sobre a festa.

Gabriel recebeu a reportagem do CARNAVALESCO para a série ‘Entrevistão’. O bem sucedido empresário nega que seu camarote na avenida desrespeite o espetáculo com som vazando para a pista, admite erros que levaram a Beija-Flor ao seu pior desfile da era Sambódromo e não foge do debate político: ‘Eu acho que a crítica deve ser geral, não enviesada. A escola de samba não pode ser usada como instrumento ideológico’, opina.

A Beija-Flor tem suas estrelas, Neguinho, Selminha. Mas tem recebido figuras como Jojo Toddynho e Gabigol. É uma política de aproximar a escola dessas personalidades?

“Na verdade, convidamos duas pessoas em 2018. A Jojo e a Pablo. A Jojo comprou o barulho, virou Beija-Flor na veia. A casa dela sempre que ela quiser. Não vejo como uma política. Quem quiser conhecer a quadra é muito bem-vindo. Temos sim um trabalho para atrair cada vez mais gente. Muitas escolas aboliram seus ensaios,. Nossa ideia era movimentar, gerar mais uma receita. É legal ir para o ensaio da Beija-Flor”.

A escrita de fechar carnaval e vencer será mantida em 2020?

“Toda vez que a Beija-Flor fechou ela fez excelentes desfiles. Não é só porque vai fechar que já é campeão. Isso é coincidência”.

O desfile de 2019 é para esquecer ou é um aprendizado?

“De maneira nenhuma quero esquecer. Se você esquecer seus erros como vai melhorar? Erramos e precisamos aprender. Entendo o que foi bom, o que foi ruim e evoluir”.

Quem é a grande adversária na disputa do título?

“Eu acho que é ela própria. Quando encerramos carnaval com cara de Beija-Flor com atmosfera a coisa flui. A Beija-Flor é julgada com muito rigor. Não estamos preocupados com outras mas com o nosso. Ganhar será consequência do grande desfile”.

Almir e Dudu Azevedo são muito parceiros na condução do projeto. Como é a parceria com eles?

“Com Almir é uma parceria de longa data. É um amigo da família. Tenho um carinho de filho por ele. Ele é quem me coloca no chão, quando eu viajo muito. Às vezes ideias muito mirabolantes não têm como serem realizadas. Ele ama a Beija-Flor tanto quanto eu e meu pai. Dudu faz a junção entre o administrativo e o artístico. É uma surpresa maravilhosa. A comunidade o abraçou. A figura de um diretor de carnaval fez muita falta em 2019. Tem sido um cara incansável. Acho que ele vai permanecer aqui por um longo tempo”.

Muitos dizem que você pensa em acabar com baianas, velha-guarda. Como são suas ideias nesse sentido da tradição?

“As pessoas falam muito também. Eu nunca disse isso. Estou no carnaval por amor. Eu não ganho dinheiro aqui. E se eu gosto é pelo que o carnaval já é. Eu penso que precisamos unir o tradicional e o inovador. Eu busco esse caminho. A mesmice eu não gosto, mas a tradição precisa ser respeitada sempre. Agora temos que colocar da melhor forma. Questionar é interessante. Não me meto na criação, Mas tento alfinetar buscando a inovação. A inovação é bem-vinda. Não pode ter medo de errar. Se não deu certo tura. O regulamento cerceia muito os artistas”.

O Paulo Barros é o seu sonho de consumo?

“Paulo é Beija-Flor doente. Eu sou fã demais dele, nunca escondi, nem pretendo esconder. Hoje somos 100% Cid e Louzada. Penso sim em assistir os desfiles dele, não em trazer ele. Mas não fecho porta para ninguém, o que dirá para um cara desse talento. Mas Cid e Louzada tem demonstrado um entrosamento incrível, estou muito satisfeito com eles”.

Como você analisa os enredo com críticas sociais e políticas?

“Se a crítica for geral ela é válida porque ela dá voz ao povo. Mas não pode haver a tomada de partido. O carnaval não pode agredir entidades públicas só porque você discorda. Eu friso isso porque a escola de samba não pode ser de esquerda, nem de direita. Ela tem que dialogar com o povo. Essa discussão nunca pode estar nos desfiles. Nossa crítica em 2018 foi diferente da Mangueira. Estamos indo para um viés apelativo. Eu não gosto. Pedi muito que não tivéssemos qualquer viés político esse ano. Me arrependo de ter batido nessa tecla em 2018. Em 2018 negociamos com a Caixa na época do governo Temer. O que o carnaval fez? Colocou o presidente de vampiro. O Crivella é um péssimo prefeito, mas deu R$ 1,5 milhão para cada escola. O que fizemos? Colocamos o prefeito como diabo. Agora o governador Witzel está nos ajudando. O que vamos fazer? Bater nele? Acho que a negociação com o poder público pode ser mais dura, mas é preciso ter muito cuidado na hora de bater, pois queiram ou não eles são figuras importantes. Se você tem outra ideologia faça suas críticas de maneira privada. Não usa a escola de samba para isso”.

Como a escola de samba pode comunicar melhor?

“Falta dinheiro para fazer coisas bacanas. Mas bato muito nessa tecla. A comunicação tem que ser mais eficaz. Aproximar o público do entendimento do desfile. A gente que é fanático e entende sabe o que acontece ali. Mas e o cara que não é, acho que precisamos pegar esse público. Existem mecanismos que poderiam ajudar”.

Os camarotes vão ocupar o lugar das frisas em um futuro próximo? E como resolver a questão do som vazando para a pista?

“Acho que o som não vaza. Se vazasse seríamos notificados pela Liesa e pagaríamos uma multa. O que acontece é que nos intervalos fazemos ações, não vou deixar o cliente sem nada. Eu entrego experiência. Temos também que parabenizar a Liesa, a Central de Vendas, pois desde 2012 não se vendia tudo com tanta antecedência. No futuro os camarotes serão segmentados. Acho que vão tomar o espaço das frisas sim, não sei quanto tempo vai demorar”.

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