InícioSérie OuroUnidos da PonteEstudo da sinopse: Unidos da Ponte 2020

Estudo da sinopse: Unidos da Ponte 2020

Nome do enredo: Elos da eternidade
Nome do carnavalesco: Lucas Milato

Unidos da Ponte: Em tempos líquidos, sombrios, o que nos redime são os elos com a eternidade

Vivemos em tempos líquidos, nada é para durar, afirmou o filósofo Zygmunt Bauman, em seu livro que trata da fragilidade das relações humanas, na contemporaneidade e, seu caráter efêmero. A solidão está presente nessa perspectiva onde a tecnologia nos aproxima, ao mesmo tempo que nos distancia. Mas, eis que surge a Unidos da Ponte e nos apresenta um contraponto, nos traz o que perpassa a humanidade desde o seus primórdios: a necessidade de se ligar ao que é eterno, a vontade de ser eterno e, a compreensão de que nos eternizamos na herança que aqui deixamos, no momento da partida. Religião em latim significa religare, ligar novamente, no sentido de retornar às origens, ou seja, ao criador. Para 2020 a escola de São João de Meriti além de trazer uma discussão mais filosófica, ancora sua narrativa, principalmente, nos elos que eternizam o mundo do samba, o legado que as escolas constroem através da união da sua comunidade, sendo esse, o ponto chave do enredo.

Os autores da sinopse, logo na abertura, explicam que partem da relação que há entre a humanidade e a eternidade, o que norteia a sinopse. Na sequência, apresentam uma importante contextualização, problematizando a fase conturbada em que vivem as escolas de samba, como a difícil relação estabelecida com a atual gestão da prefeitura do Rio. Estendo essa interpretação aos problemas gerados pelas próprias escolas de samba que diminuem sua credibilidade. Por exemplo, as viradas de mesa e, o distanciamento afetivo com os cariocas. Nesse contexto, os elos do samba podem se romper, mas “a cada samba cantado, a cada sambista eternizado, acrescenta-se um novo elo na corrente. Assim, a velha guarda é o ponto de conexão entre o passado e o futuro.”

Lucas Milato parte de um tema abstrato e o conecta com real, com os problemas que o carnaval vem enfrentando. A Sinopse é narrada em primeira pessoa, por um baluarte, seguindo uma sequência lógica. Na primeira parte “O Início”, o vazio, os deuses. Depois “O Desejo” de eternizar-se fisicamente, não se preocupar com a morte, viver com e como os deuses, no Olimpo. O homem tentando de várias formas ser imortal. Na terceira parte intitulada “Eternizando-se” o homem compreende que o corpo vai “mas o legado fica e faz o nome reverberar no tempo.” E, por último, “Eternizados” a sinopse afirma que o samba se eterniza no Olimpo, junto dos deuses do carnaval, que são os próprios sambistas. Se eterniza na relação com o passado e a Ponte se eterniza através da sua história, se eterniza no presente, com a escola entrando na avenida. A velha guarda é o presente que se conecta com o passado, para se eternizar no futuro. É a identidade da escola, o seu lastro, a sua força e resistência.

A Unidos da Ponte faz um alerta ao sambista para o momento atual pelo qual passam as escolas de samba, uma importante contribuição para os temas que serão levados à Sapucaí no carnaval 2020. O momento é de união em tempos de crise, tempos instáveis, movediços, em que, por vezes, estamos sós, desalentados, nesse moinho, nesta roda viva que não para. A Ponte nos lembra que podemos nos unir na vontade de fazer um mundo com mais amor, por favor! Um mundo com mais tolerância, em que, por exemplo, ninguém seja atacado por sua religião, como acontece com as de matriz africana. Vamos lembrar aos que hoje se levantam contra essa festa profana que “samba é nó na madeira, é moleque mestiço, foi difícil bancar, resistência que a força não calou, arte de improvisar.” Em outras palavras, contra a força, há sim, resistência. E aqui está ele: o samba!

O que podemos esperar desse desfile? Através de uma descrição feita ao final da sinopse, podemos supor uma abertura de desfile com o caos, o vazio inicial, seguido do cosmos, planetas e estrelas. Na sequência, o segundo setor apresenta tentativas usadas pela humanidade, para se eternizar, através de determinadas crenças, como a ambrosia, uma comida exclusiva dos deuses. Elixir, alquimistas, pedra filosofal, fonte da juventude e o diabo estarão nesse setor, representando a busca da humanidade em se imortalizar.

No terceiro setor, nomes importantes da pintura, escultura, escritores, artistas em geral, devem passar na avenida. Nesse momento, o homem percebe que se a finitude física é irremediável, a sua eternização pode ser realizada através de suas obras em vida, o seu legado para a posteridade. Já no último setor, o sambista é o elo da eternidade a ser mostrado, nomes importantes para o mundo do samba e para a Unidos da Ponte devem ser representados. A velha guarda, possivelmente, fechará o desfile como o elo mais importante entre o passado e o futuro do samba.

O recado para os sambista é claro: os Elos da Eternidade residem na capacidade que mundo do samba deve possuir para resistir às pressões político-ideológicas do momento. O samba precisa se religar a sua essência, que emana do povo, o mesmo que o gerou no passado, se reconectar com a própria cidade do Rio. Então, vamos nos unir, resistir, com afeto e tolerância. Vamos dar esse primeiro passo e eternizar o carnaval de 2020. Mesmo que seja por quatro dias, no meio da avenida, por 55 minutos. A Ponte quer o seu carnaval eterno enquanto dure o seu desfile. Mas, sem esquecer o porvir, o seu inventário deixado como herança através desses elos com a eternidade.

Podemos concluir que as escolas de samba se eternizam na união dos seus componentes, no giro protetor das baianas, na infinita sabedoria da velha guarda, no batuque abençoado das baterias, com seus ritmistas em transe. Se eterniza nos elos afetivos que são criados por toda a comunidade, na paixão do sambista e o seu elo de amor eterno com a sua agremiação. As escolas de samba se eternizam no fazer carnavalesco, no suor e na lágrima e, às vezes, até no grito de campeão! E, assim, deixam o seu legado que não só não deixa o samba morrer, mas o torna eterno.

Evoé deus Dionísio! Evoé deus Baco! Salve o samba, salve o carnaval, essa eterna
felicidade profana!

Autor: Max Oliveira – [email protected]
Doutorando em História – PPHR/UFRRJ
Membro efetivo – OBCAR
Leitor orientador: Mauro Cordeiro de Oliveira Junior
Doutorando em Sociologia e Antropologia da UFRJ (PPGSA/IFCS/UFRJ)
Instagram: @observatoriodecarnaval_ufrj

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