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Fábio Ricardo destrincha desfile da Mocidade na série ‘Barracões Grupo Especial Rio’: ‘Escola precisava de um enredo afro’

Tema não era tratado desde 1976 pela escola, que levará Oxóssi para a Avenida na tentativa de melhorar plástica criticada em 2020

A espera foi longa, mas a Mocidade Independente de Padre Miguel, enfim, levará um enredo afro para a Marquês de Sapucaí. Com o ‘Batuque ao Caçador’, a escola vai homenagear o orixá Oxóssi, além de fazer uma reverência à bateria ‘Não Existe Mais Quente’ e aos grandes mestres que a comandaram. À reportagem, o carnavalesco Fábio Ricardo revelou que a temática afro já era um desejo antigo da comunidade e explicou como a ideia do enredo chegou até ele.

“Quando eu fui contratado pelo presidente Flávio, já havia a ideia de fazer esse enredo. A escola já queria fazer um enredo afro que há muitos anos não fazia. E aí se uniu essa ideia a fazer uma homenagem ao padroeiro da escola e da bateria. Rolou até aquele boato que ia ser Azeite, mas é papo que surge por aí. A partir daí eu entro, e começo a me reunir com as pessoas da escola para pensar o enredo. Por sempre respeitar onde estou pisando, fui entender o que a escola estava precisando”, disse Fábio, que emendou:

“Um, ela precisava de um enredo afro, com toda uma plástica afro; dois, ela quer fazer essa homenagem ao padroeiro; e três, que é homenagear a bateria. Essas três vontades se uniram e surgiu esse enredo. O presidente me deu toda liberdade para desenvolver o enredo e eu fui montando. Poderia se chamar ‘Oxóssi’, ‘Odé’, ‘Caçador’, mas dentro dessa atmosfera de estudo, a gente optou pelo ‘Batuque ao Caçador’, pela forma como a gente iria montar o enredo”, completou.

O último enredo afro da Mocidade havia sido em 1976, com ‘Mãe menininha do Gantois’, do gênio Arlindo Rodrigues. Candomblecista, Fábio Ricardo explicou que a construção do Carnaval passou por várias pessoas, desde o historiador André Luis Júnior, ao jornalista Fábio Fabato, que escreveu a sinopse do enredo, até o diretor Marino, que trouxe a essência da escola ao tema. O carnavalesco, que demonstrou preocupação em não transformar 2022 em um ‘Vira, Virou’ (enredo campeão em 1990), falou sobre o que lhe chamou mais atenção durante a pesquisa para o desfile.

“O que mais me chamou atenção nessa pesquisa foi conhecer mais sobre a Mocidade. Porque antes, eu só via os grandes carnavais que a escola já tinha feito. Então, eu tive a grande e grata surpresa de logo no meu primeiro ano de escola fazer um enredo que aprendi a história da escola a fundo. Isso que para mim foi o mais legal. É muito bom fazer esse serviço para a Mocidade e ao mesmo tempo aprender sobre ela, porque todo ano o carnavalesco tem uma grande aula de história”, contou Fábio, antes de completar:

“Eu trabalho tudo dentro do barracão, faço meus horários aqui, crio, desenho, pesquiso na Cidade do Samba. E eu, nessa pandemia, tive a felicidade de fazer isso tudo em um momento único meu. Eu acho que também estava com a essência do orixá vibrando em mim. Foi muito marcante para mim essa montagem de enredo, de um orixá muito respeitado, que tem importância gigante na escola e na vida de qualquer pessoa, além de ser o orixá que eu sou feito”, revelou o artista.

Aos 47 anos, Fábio Ricardo faz seu primeiro ano na Mocidade. Antes, o carnavalesco já havia somado trabalhos por outras grandes escolas, como: Grande Rio, São Clemente, Império Serrano, Rocinha e Unidos de Padre Miguel. Presente no mini desfile na Cidade do Samba, o artista afirmou ter ficado impressionado com a força da comunidade e rasgou elogios ao samba, comissão de frente, e ao casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Ao CARNAVALESCO, Fábio afirmou que o grande trunfo da Mocidade será a retomada da grandiosidade da escola, e os componentes se sentirem parte do enredo.

“A palavra campeonato é consequência do que vai acontecer lá na hora, na Sapucaí. Não estou sendo pessimista, pelo contrário, estou muito otimista. Vou tentar fazer o meu melhor com todos os recursos que eu tenho à disposição. Agora, sobre o desfile, independente das fantasias, carros alegóricos, quero respeitar a escola e trazer de volta a imagem de grandeza que é característica da Mocidade, sem desmerecer que passou por aqui. O grande diferencial acho que vai ser a própria escola enxergar o que ela queria e precisava ver na Avenida. A força dos componentes vai levar à Mocidade a um grande desfile”, comentou Fábio.

Em 2020, em um enredo sobre Elza Soares, rodeado de expectativas, a Mocidade não fez grande desfile na questão plástica. No quesito fantasia, a Estrela Guia perdeu três décimos, que lhe renderia o título caso gabaritasse o quesito. A agremiação ainda levou um 9,8 em Alegorias e Adereços, mas a nota foi descartada. Por conta disso, a escola optou por uma troca de carnavalescos e trouxe Fábio Ricardo, que conseguiu nota máxima nos quesitos citados no desfile pela Unidos de Padre Miguel há dois anos.

“A escola me contratou exatamente por conta disso, das fantasias e alegorias. Eu desenhei todas as fantasias e fiz todos os pilotos, agora elas estão sendo reproduzidas. As alegorias, a mesma coisa. O meu melhor eu estou dando para conseguir sempre as notas 10, como tem acontecido nos últimos anos. Eu gosto de ser elegante nos meus carros, de ser limpo e de fácil entendimento. Não adianta fazer luxo pelo luxo, ou coreografia por coreografia. Eu faço tudo com base e conhecimento, dentro do que foi proposto, não fazer por fazer”, explicou o carnavalesco.

No desfile, a Mocidade trará Oxóssi com uma anunciação em um primeiro momento, passando por suas origens e orixás relacionados. Na sequência, a Estrela Guia contará histórias e lendas de Oxóssi, seguida da chegada do orixá ao Brasil. Por fim, a escola fará uma grande homenagem à bateria ‘Não Existe Mais Quente’ e seus mestres citados no samba, com a tradicional batida do agueré para o orixá. O último setor terá fantasias de baterias de desfiles históricos da Mocidade. Fábio Ricardo encerrou com uma explicação do desfile setor a setor.

Entenda o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel

1° SETOR
“Nosso primeiro setor vai ser uma grande anunciação a esse grande orixá, um tributo a Oxóssi. Nesse setor já vamos abordar a ancestralidade desse grande batuque que surgiu há milhares de anos, com o toque do agueré. Nós vamos pedir permissão a Orum, para que Orunmilá determine o caminho certo que a Mocidade vai tomar para contar essa história. Então, já teremos no início esse toque do agueré com os tambores africanos, com uma grande falange de olodés, que é um conjunto de caçadores”.

2° SETOR
“No segundo momento, a escola vem falando sobre a origem desse orixá, onde nasceu, quem está envolvido e qual a família dele, representado pelos idilés. E entre as alas vem toda família dele, Exú, Ogum, Iemanjá. Neste setor, a gente explica porque Oxóssi é o senhor da prosperidade, da caça. Então tudo sobre a forma dele entra nesta parte. Falamos da importância de Ogum, irmão que deu a ferramenta e ensinou ele a caçar. Vamos abordar também Ossain, que é o orixá do plantio, onde Oxóssi aprendeu o poder da cura e feitiços através da planta”.

3° SETOR
“No terceiro momento, vamos mostrar os itans, que são as lendas de passagens de Oxóssi por alguns outros orixás, como: Iansã, por qual Oxóssi foi extremamente apaixonado; Otim, que foi uma amiga caçadora inseparável dele; Oxumaré, que foi a cobra que ele não podia matar, como tem na letra do samba; e Oxalá, o deus maior que deu muitas missões para Oxóssi. Então são esses itans, que são contados em casas de candomblé e em rodas de xirê, e a gente transmite isso para a Sapucaí”.

4° SETOR
“O quarto setor é a passagem dessa essência e energia do orixá e chegada dele ao Brasil. E aí, por aqui, já chega de uma forma discriminada, onde entra o sincretismo religioso, no qual Oxóssi é representado por São Sebastião. E nesse setor, os negros chegam ao Brasil como escravos e tem contato com os indígenas que já estavam aqui. E aliados os dois povos, também nasce a Umbanda. E a gente fecha esse quarto momento da escola com uma grande reverência a todas as casas de candomblé por todo o Brasil que tocam esse agueré. E esses tambores, que saem da ancestralidade, passam pela família, dos itans, de guerra e chegam às casas de candomblé, que são os atabaques. E é justamente em uma dessas casa, a da Tia Chica, que nasce e é levado o agueré para dentro da bateria da Mocidade”.

5° SETOR
“O último setor vai ser uma grande bateria, homenageando todos esses grandes mestres que fizeram história na Mocidade. E a gente termina o desfile justamente com a ancestralidade, só que dessa vez dos grandes mestres que marcaram a bateria com o toque do agueré aqui dentro. Nessa constelação de estrelas dentro da estrela maior, que é a Mocidade, a gente tem o conjunto de pessoas que são parte da história da escola. A gente retorna, então, à essa ancestralidade não só de Oxóssi, como a da bateria da escola”.

Ficha técnica:
Número de alegorias: 5
Número de tripés: 1
Número de alas: 31
Número de componentes: 3500
Carnavalesco: Fábio Ricardo
Diretores de barracão: Wagner Félix e Alex Furtado
Aderecistas de carros alegóricos: Luciano Furtado e Junior Fontoura (Mineiro)
Projetistas de alegorias: Fernanda Teixeira e Renato Esteves

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