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Grande Rio mostra o jeitinho brasileiro em desfile com falhas de enredo

Por Vinicius Vasconcelos. Fotos: Allan Duffes e Magaiver Fernandes

Protagonista da última virada de mesa do carnaval, a Acadêmicos do Grande Rio propôs para 2019 um desfile com claras intenções de rir das desgraças cometidas pelo ser humano. Sejam elas intencionais ou não. Elaborado pelo carnavalesco Renato Lage, o enredo “Quem nunca…? Que atire a primeira pedra”, ferozmente criticado no pré-carnaval, passou pela avenida dividido em cinco setores, 30 alas e seis carros alegóricos no tempo de 1h14.

A comissão de frente foi o grande destaque da escola caxiense. Numa coreografia moderna e sem elementos cenográficos gigantescos, Hélio e Beth Bejani trouxeram seus bailarinos executando passos que haviam viralizado na internet com youtubers famosos caíram na graça do público. O auge da apresentação foi quando os emojis operados por drones sobrevoaram a passarela. Apesar da criatividade na cabeça da escola, o mesmo não aconteceu no decorrer do desfile que ficou aquém do que se espera da capacidade dos artistas Renato e Márcia Lage. Os quesitos sob responsabilidade dos carnavalescos possuíam problemas de falta de acabamento.

Samba-enredo

Elaborado pelos compositores André Diniz, Cláudio Russo, Moacyr Luz, Gê Martins, Licinho Júnior e Elias Bililico a obra teve diversos comentários negativos antes do desfile, mas que mesmo assim não abalaram a escola de Caxias. Em seu primeiro ano na escola como cantor oficial, Evandro Mallandro tomou para si a responsabilidade de cativar o público e executou o samba com maestria. Desde os tempos de Renascer o intérprete já vinha se destacando e em sua estreia solo na elite do carnaval não foi diferente. Ainda na concentração o cantor exibiu seu cartão de visitas com sua potência vocal. O trecho “se errei, peço perdão / renasce a Grande Rio” era esbravejado pelo componente como se realmente fosse um pedido de desculpas de cada um que estava desfilando.

Comissão de frente

Dividida entre quatorze integrantes vestidos de roupa preta com ladrilhos brilhantes e um personagem vestido de Moisés, a coreografia trouxe apenas um pequeno objeto de cena que não impedia a visão de nenhum dos espectadores. Elaborada com alguns passos de funk, os dançarinos se comunicavam com o profeta através do uso de emojis bastante conhecidos no universo das redes sociais. No último momento da coreografia enquanto o profeta manuseava um grande smartphone, a indumentária dos demais dançarinos ficava completa quando eles vestiam as cabeças de emojis e de repente elas sobrevoavam a Sapucaí através de drones, causando um verdadeiro frisson.

Mestre-sala e porta-bandeira

Dançando juntos pela primeira vez, Daniel Werneck e Taciana Couto vestiam uma fantasia luxuosa e com as cores da escola. Enquanto ele usava faisões verdes e cristais no peito representando o rei do jogo de xadrez, ela tinha em sua fantasia faisões vermelhos com tons mais escuros que causavam um belíssimo efeito visual no momento do giro. A parte de cima da fantasia da porta-bandeira possuía algumas peças do jogo em evidência. Ao redor dos dois os guardiões de casal se vestiam como sentinelas defendendo o casal real. Os passos executados foram feitos com categoria. Na terceira cabine de julgamento houve um deslize do casal. Quando estavam terminando sua coreografia o mestre-sala demorou para segurar a bandeira, mas soube contornar.

Harmonia

O canto da escola teve seus altos e baixos. Ainda no clima de entrada de avenida, na primeira cabine as alas do setor inicial esbravejavam o samba-enredo. Nas cabines seguintes o canto foi oscilando e em algumas alas se tornou quase nulo como foi visto na décima primeira, a ala dos “Haters”. Logo em seguida na ala dos passistas que representavam “Panapanã” faziam entoavam o samba dando mais força para as demais alas. O canto aumentava consideravelmente nas frases finais dos dois refrões.

Enredo

Na tentativa de fazer uma abordagem irreverente aos maus hábitos do ser humano, o dedo na ferida foi colocado. A pergunta “Quem nunca?” poderia ser feita em diversas alas como a quinta, que representava “Se beber não dirija”, a oitava que trazia as “Fake News”. Todos que assistiram puderam se enxergar no decorrer do tema e refletir sobre o que tem sido feito. Nesse quesito a proposta foi executada com louvor e mostrou principalmente os erros que são desconsiderados pela população. O último setor com tons brancos predominando não fazia bom casamento com as cores mostradas a frente.

Evolução

A proposta de desfilar mais solta funcionou. Fora do modo robotizado que tem ocorrido em alguns desfiles de escola de samba, a escola optou por dar liberdade ao componente que brincou carnaval da maneira mais alegre possível. Nem mesmo as alas coreografadas ficaram completamente presas e tinham seu momento de respiro para desfilar liberdade.

Fantasias

Apesar da fácil leitura nas 30 alas divididas em cinco setores, o acabamento das fantasias ficaram um pouco a desejar. Na quarta ala, que representava os “Motoboys”, diversos componentes estavam sem o objeto que servia como farol da motocicleta quebrado e/ou faltando na roupa. A ideia inicial do carnavalesco foi respeitada mas a concepção não seguiu a mesma linha. Tendo em vista que o trabalho de barracão pode interferir positiva ou negativamente no quesito. Algumas outras alas como a “O universo ao seu alcance”, estava com os objetos do costeiro caindo.

Alegorias

A proposta de carros com visual mais aberto e com leitura de fácil entendimento foi mantida por Renato Lage. Até o quarto setor da escola havia fácil leitura, mas o quinto e sexto não condiziam com o restante. A ideia de trazer Einstein no quinto carro fez com que o enredo entrasse num sistema solar que não aparentava corresponder com a proposta inicial de desfile da escola. O sexto carro “Nada será como antes” encerrava o desfile com uma mistura de branco e prata deixou a desejar no acabamento.

Bateria

Também estreante na noite, mestre Fafá e seus 270 ritmistas souberam dosar no uso de bossas e fizeram algumas pontuais para levantar a obra no momento certo. No trecho final antes do refrão principal havia uma paradinha que animava o desfilante que tinha responsabilidade de responder o samba-enredo sem deixar atravessar.

Outros destaques

Carregado de beldades o desfile da Grande Rio contou com a presença de nomes como Carla Diaz com uma fantasia ousada intitulada de “Pare e olhe”. A ex mulher do cantor Wesley Safadão, Mileide Mihaile também esteve presente e chamou atenção pelo decote utilizado. Com uma fantasia vermelha repleta de faisões, a rainha de bateria Juliana Paes distribuiu sorrisos e muito samba no pé.

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