Por Daniela Safadi. Fotos: Magaiver Fernandes

Estreantes em 2019 com três notas 10, tendo menos de dois meses de trabalho à frente da bateria do Salgueiro, mestres Guilherme e Gustavo Oliveira já se preparam para criar algo em cima do futuro samba da escola que será escolhido no dia 11 outubro, data da grande final da disputa de samba. Sem querer antecipar paradinhas e bossas, os comandantes da Furiosa vão direcionar suas atenções para conhecer as obras que durante as eliminatórias, que começam no dia 7 de setembro.

“A gente prefere pensar paradinhas e bossas só depois que já tiver o samba porque a gente gosta de construir as convenções em cima do samba. Não tem porque a gente começar a trabalhar alguma coisa agora e depois tentar encaixar no samba. É mais difícil e gasta mais tempo fazendo isso. A gente vai começar uma temporada de apresentação e a partir deste momento a gente já fica de olho naqueles sambas que começam a fluir na melodia. Tem melodias que são muitos marcantes e pedem alguma coisa” conta Guilherme.

Anunciados em dezembro de 2018, a dupla que até então fazia parte da Furiosa, teve pouco mais que dois meses para preparar a bateria para o desfile de 2019 substituindo mestre Marcão que já estava há 15 anos a frente dos ritmistas da Academia do Samba. Além de voltar no Desfile das Campeãs com um honroso quinto lugar no desfile sobre Xangô, Guilherme e Gustavo só receberam uma nota diferente de 10, um 9,9 prontamente descartado pelo corte da menor nota. Para muitos estrear no comando da bateria em uma escola tão tradicional como o Salgueiro pode trazer um nervosismo além do normal, mas segundo Guilherme, não houve tempo para que os irmão compartilhassem desse sentimento.

“Claro que foi algo muito especial, é difícil assumir essa responsabilidade próximo ao carnaval. Mas, sinceramente, nós não tivemos tempo de ficar nervosos. Pois havia muita coisa pra resolver. Além dos ensaios, havia muitos eventos da escola, e também tinha que reorganizar toda a dinâmica da bateria. Então, quando a gente piscou já estávamos no carnaval. Mas, é claro que na hora, no dia, deu aquela tensão normal”.

Para Gustavo, a proximidade da dupla, criada no Salgueiro, com passagens por diversos cargos na bateria, foi um diferencial para o sucesso no trabalho.

“Pra mim, foi um momento especial pela gente ter sido criado aqui no Salgueiro, aqui na rua (Silva Teles) mesmo, e nosso pai trouxe a gente para o samba. Eu costumo dizer que eu zerei a fase da bateria, porque eu passei por todas as fases que você pode passar em uma bateria, contando escola mirim e principal. Eu fui ritmista, diretor,e agora mestre da escola principal. Não era o que a gente esperava agora, mas a gente aceitou de braços abertos, para trabalhar na nossa escola. Está sendo um momento mágico, estamos conseguindo expor nossas ideias e a galera está vindo com a gente. Gente criada com a gente aqui. Muita gente da comunidade voltando, galera da rua entrando na bateria. A gente vê a felicidade estampada na galera e isso nos dá muito ânimo para trabalhar”.

Durante o curto percurso de preparação para o desfile, os irmãos Guilherme e Gustavo, precisaram conviver com algumas críticas vindo principalmente por meio de redes sociais. Guilherme conta que o foco no trabalho foi fundamental para não se abater com críticas negativas.

“Na internet havia muito desconfiança (com o trabalho). A gente sabe que a internet é terra sem lei, então se você se deixar levar por isso, atrapalha muito. Mas, eu parei de ler comentários, e as críticas. Porque tem crítica positiva que ajuda, que constrói, mas há também muita coisa negativa, crítica que só serve para ofender, porque as pessoas não medem as palavras na internet. Eu falei pro Gustavo: ‘Cara, a gente não está acostumado com essa exposição’. Era o momento de agir com inteligência. A gente resolveu focar no trabalho”.

Renovação no carnaval carioca

Não é novidade que as escolas de Samba do Rio de Janeiro tem apostado em “crias” da casa para comandar seus setores. Em 2019, houve uma “enxurrada” de estreias no comando das baterias. Vila Isabel, Mangueira, Ilha, Grande Rio, além do Salgueiro estrearam mestres no Grupo Especial. Gustavo valoriza essa renovação para o desenvolvimento do carnaval do Rio de Janeiro.

“A renovação é muito importante pro samba, e é bom porque é uma galera formada dentro da escola, que tem um amor, tem o carinho da galera e essa renovação é muito importante para as escolas, para o futuro do samba. Não quer dizer que as pessoas param no tempo, mas todo mundo tem que se adequar também a modernidade. Olhando pros novos mestres e as boas notas que estão conseguindo, isso mostra que a renovação tem dado resultado”.

Parceria dos irmãos já vem de muito tempo

Dividir o comando da Furiosa não é a primeira atividade que os irmão Guilherme e Gustavo realizam juntos. Parceiros na noite carioca acompanhando músicos na percussão, os mestres de bateria contam que algumas brigas acontecem a frente da bateria do Salgueiro mas não interferem no trabalho.

“Além do Salgueiro, a gente sempre trabalhou com música, acompanhando músicos, e a gente sempre trabalhou junto, sempre. Principalmente porque a gente é irmão, e sempre que alguém me chamava pra alguma coisa e faltava outro percussionista, eu falava ’vou levar meu irmão’. E ele fazia a mesma coisa. A gente briga muito, muito! De se xingar mesmo! Ma,s as brigas duram 2 minutos, depois a gente se entende, e as pessoas entendem porque é briga de irmão” conta Guilherme.

Gustavo também reforça o entendimento dos dois que vem mesmo com as brigas e ressalta a responsabilidade que o já falecido pai seu Toninho teve na entrada dos dois irmãos, criados a poucos metros da quadra do Salgueiro, no mundo do samba.

“A gente discute o tempo inteiro. Mas, é aquela discussão de 2 minutos. Já discutimos em cima do palco, na bateria, mas é uma parada de coração. Nunca gostaria de passar a frente dele e sei que ele também nunca quis passar por cima de mim. A gente tá sempre muito junto, temos mais uma irmã e na vida somos muito colados. Somos uma família muito unida. Nosso pai já é falecido, é por ele que estamos aqui e a gente brinca que se ele estivesse vivo ia estar ‘maluco’ com a gente aqui”.

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