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Lavagem da Sapucaí celebra a vida, emociona sambistas e abre os caminhos para os desfiles

Celebração que une diferentes religiões contou com a presença de representantes religiosos, além de inúmeros componentes das agremiações dos Grupos Especial e da Série Ouro

Após dois anos de saudade, a tradicional lavagem da Marquês de Sapucaí foi feita na noite de domingo. Com o objetivo de abençoar e abrir caminhos para as escolas de samba, a cerimônia deste ano teve um significado especial: o reencontro dos sambistas com o Sambódromo e a celebração da vida após momentos difíceis durante a pandemia. O cortejo, mais uma vez, encantou e emocionou o público presente. A celebração que une diferentes religiões contou com a presença de representantes religiosos, além de inúmeros componentes das agremiações dos Grupos Especial e da Série Ouro. * VEJA AQUI FOTOS

Fotos de Allan Dufes/Site CARNAVALESCO

A imagem de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro, abriu o cortejo junto com a corte do carnaval e casais de mestres-salas e porta-bandeiras mirins e adultos das agremiações, além das baianas, munidas de vassouras, água de cheiro e defumadores. Esse ano o cortejo contou com a participação especial da cantora Mart´nália, que veio no carro de som, onde cantou sambas históricos, como “Kizomba, a festa da raça”. Ao lado da cantora, os intérpretes, Nêgo, Serginho do Porto, Leonardo Bessa e Diego Nicolau, entoaram sambas-enredos clássicos de todas as agremiações. O prefeito Eduardo Paes, vestido de branco e de chapéu, acompanhou os ritmistas, junto de um tantam.

O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Perlingeiro, e o diretor de Carnaval da Liesa, Elmo José dos Santos, destacaram a importância desse momento para o carnaval e projetaram um ano de desfiles grandiosos. “É uma noite muito especial para todos nós, muita emoção e religiosidade, depois de alguns adiamentos a casa está pronta, já preparada para os desfiles e não vai ser pouco não, serão grandes desfiles, as escolas vão fazer o dever de casa”, pontuou Perlingeiro.

“Agradecer a papai do céu e a todos os orixás, é o momento de celebração, estamos celebrando a vida, obrigado a Deus por nos manter vivos e podendo continuar a ajudar manter viva a nossa raiz, vamos fazer o maior espetáculo de todos os tempos”, disse Elmo.

A lavagem começou com o sistema de som da Sapucaí tocando “Nossa Senhora”, de Roberto Carlos. Na sequência, nas vozes dos cantores Serginho Piciani e Flávia Saoli, a música “Coisa de Pele” e “A voz do Morro” foram performadas, ao som dos cavaquinhos e dos atabaques. A cerimônia seguiu com o Centro Espírita Vovó Carolina. Foi formada uma roda com atabaques para as representações de Exu e Iemanjá. Logo após, Marcelo Guimarães cantou o hino de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. A imagem do santo, que representa Oxóssi no sincretismo religioso com a religião de matriz africana, foi levada por um carro na avenida.

Em seguida, o padre Antônio, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, pediu um minuto de silêncio pelos mortos da Covid-19. Depois, o padre chamou todos os foliões e os componentes, para orar o Pai Nosso. “É um momento único, de muitas felicidades, depois de um período de pandemia, de muita tristeza, nós estarmos aqui para expressar a nossa alegria e gratidão é muito bom, feliz por estar aqui novamente e partilhar dessa alegria, sinto uma grande felicidade no coração por estar aqui junto com a nossa comunidade carnavalesca”, disse o padre.

Antes da entrada das baianas de todas as agremiações para realizar a lavagem, o comentarista Milton Cunha foi chamado ao palco para discursar para os componentes. “Chegou o dia, a hora é essa de pedir a benção das nossas mães baianas. Nossas tias protetoras, rezadeiras, curandeiras, curadoras. Mães baianas, condutoras dos destinos da sagrada família do samba”.

O que se viu a seguir foi pura emoção, nas frisas e arquibancadas as pessoas acompanhavam com atenção a passagem dos integrantes, muitas baianas carregavam nas mãos água e folhas que serviam como prosperidade e purificação. O ritual, que já virou tradição no carnaval carioca, limpou os caminhos e enviou energias positivas e sorte nos desfiles oficiais das escolas de samba.

“Estava todo mundo com saudades, é uma felicidade só, estávamos todos doidos para voltar, cada uma pela sua agremiação, defender o hino da sua escola, a saudade tava enorme, a expectativa é de muita luz para a Marquês de Sapucaí, um grande retorno para todas as escolas, que tenhamos saúde, felicidade e um carnaval esplendoroso de alegria, foi difícil ficar longe, o coração ficou apertado e a lágrima rolou, mas estamos de volta”, contou Maria da Glória, representante da Associação de Baianas do Estado do Rio de Janeiro.

Tia Nilda, de 80 anos, que representava as baianas da Mocidade Independente de Padre Miguel, falou sobre esse momento que estamos vivendo. “A emoção é muito grande, temos que agradecer a Deus por nos dar a oportunidade de estarmos aqui, então a gente precisa saber a aproveitar com pé no chão, as pessoas tem que tirar o ódio do coração, deixar o seu amigo caminhar, na vida nós estamos se reinventando, a vida é um presente, vamos aproveitar”, comentou a baiana.

O site CARNAVALESCO conversou com diversos sambistas e personalidades, que nos falaram sobre a importância do evento para o mundo do samba e também sobre seus projetos para os desfiles oficiais. “É maravilhoso estar aqui, para nós, sambistas, é a redenção da realidade, visto tudo isso que a gente passou, poder estar aqui na Sapucaí lotada ver a lavagem é muito positivo, contando os dias para os desfiles oficiais, há pouco tempo atrás parecia inimaginável que isso aconteceria outra vez. Temos certeza que todo mundo no planeta precisava disso e o sambista também, então chegou a nossa hora de cantar e de sambar muito aqui”, comentou o diretor de marketing da Liesa, Gabriel David.

Sobre a expectativa para os desfiles, Gabriel acredita que serão todos de alto nível e que poder assistir esse espetáculo será um grande privilégio. “Os desfiles serão de altíssimo nível, tenho acompanhado a Cidade do Samba diariamente, praticamente todos os barracões estão prontos, todas as escolas, sem a menor sombra de dúvidas vão entregar desfiles para serem campeãs, agora só observando todas elas vamos ter o privilégio com certeza de ver um carnaval de alto nível e tão aguardado depois de um ano sem carnaval, expectativa lá em cima e que vença a melhor”.

Porta-bandeira da Beija-Flor de Nilópolis há 26 carnavais, Selminha Sorriso esteve ao lado de seu mestre-sala, Claudinho, durante a lavagem. Eles vieram a frente das crianças do projeto de escolinha de mestre-sala e porta-bandeira que ambos têm na escola da Baixada, bastante emocionada, ela falou sobre a importância dessa noite para o samba. “Eu já me emocionei no começo, ver a vida voltando, a nossa cultura sendo preservada, envergamos, mas não quebramos, foi um momento difícil para a humanidade, a cultura sofreu muito, nós somos aglomeração mesmo, ver o dia de hoje acontecendo é gratificante, é motivo de entrar aqui, agradecer aos deuses do samba e levar mesmo a avenida, com água de cheiro e abençoar a todos e os desfiles que acontecerão em breve. É um carnaval atípico, mas não perdeu o encanto, estamos com mais amor, estamos mais agradecidos e será o melhor e maior de todos os tempos, hoje é um dia de bençãos”, disse Selminha.

Sobre a importância das crianças no carnaval, Selminha acredita que é fundamental para a manutenção e perpetuação do samba junto às gerações futuras. “Criança é o futuro, vem as tias baianas, que são as nossas tradições, os moldes da nossa cultura e vem as crianças com os seus pavilhões mostrando que o samba tá vivo e que somos resistência cultural de um povo, vamos passar de geração em geração nossa cultura, que tudo se perpetue, que seja mais 100 anos da nossa cultura sendo elevada e preservada”, contou a renomada porta-bandeira.

Estreando na Unidos da Tijuca neste carnaval, a porta-bandeira Denadir Garcia fez questão de acompanhar a lavagem, ela desfilou ao lado de outros casais logo na abertura do cortejo, bastante emocionada, ela conta que é um privilégio estar ali. “A sensação é inexplicável, foram dois anos longe, a gente tentando fazer aquilo que mais ama e com a pandemia não conseguimos, hoje eu fiz questão de estar aqui, a lavagem da avenida é muito importante e o meu desfile com certeza com papai do céu abençoando vai ser maravilhoso”, pontuou Denadir.

Durante a lavagem, em torno de 130 ritmistas ficaram responsáveis por tocar pelo percurso, o mestre Casagrande foi responsável pela liderança, mas dividiu o comando com os outros mestres presentes. Dentre eles, o mestre da Unidos de Vila Isabel, Macaco Branco, que se mostrou extremamente feliz por poder presenciar esse retorno da lavagem. “A expectativa é a maior possível, poder voltar a fazer aquilo que a gente tanto ama é muito bom, a nossa cultura, o carnaval, não tem preço, não tem dinheiro no mundo que pague viver isso aqui, isso aqui é indescritível, parecia que a gente tava preso em um livro de história sem fim, que não acabava nunca, mas graças a Deus estamos voltando a respirar o carnaval outra vez”, comentou o comandante da bateria Swingueira de Noel.

A última lavagem da Sapucaí, em 2020, foi marcada pela grande quantidade de chuva que caiu, um verdadeiro dilúvio lavou a alma do sambista naquela noite, para esse ano a previsão era novamente de chuva. Mas, nem a natureza foi capaz de estragar o que se tornou mais uma noite memorável para os cariocas. (Colaborou Gabriel Gomes)

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