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Leandro Vieira busca em enredo da Imperatriz mostrar sua versão para um Brasil mais delirante

Carnavalesco também revela que prefere dar aos compositores a liberdade para produzirem uma obra com bastante ousadia, humor e comenta aquilo que não pode faltar no samba escolhido

O carnavalesco Leandro Vieira fez seis carnavais no Grupo Especial na Estação Primeira de Mangueira e sempre deixou claro a sua vontade de falar de aspectos presentes no Brasil, desde o enredo sobre os heróis esquecidos do país que suscitou no título de 2019, passando pelo “Jesus da Mangueira”, que apresentava o personagem em uma realidade que tantos jovens brasileiros passam. Além deles, em 2017 apresentou a religiosidade do país no geral e em 2016 a religiosidade e vida de uma artista tão brasileira como Maria Bethânia. E, por fim, a homenagem aos carnavais antigos com crítica social em 2018 e aos baluartes da Mangueira no último carnaval.

Foto: Divulgação

Em uma nova casa para 2023, retornando a Imperatriz, escola a qual produziu o desfile de 2020, mas agora pela primeira vez tendo a chance de propor um enredo autoral, Leandro Vieira diz querer continuar falando do Brasil, mas dessa vez buscando uma nova face para as histórias que este país nos traz.

“Eu tenho essa coisa de querer falar do Brasil, de gostar de falar do Brasil. Mas, há algum tempo eu alimentava o desejo de falar de um Brasil delirante, de caminhar para uma rota que fosse mais delirante. Só que eu achava que essa rota só podia ser mudada a partir de uma mudança, o que fez essa mudança, foi a minha troca de escola. E, acho que com a mudança de escola foi possível uma mudança de rota. Eu achei que era viável na Imperatriz poder apresentar um enredo que fosse brasileiríssimo, mas que fosse um enredo brasileiríssimo do delírio. E ao vislumbrar um delírio brasileiro, eu quis mergulhar na cultura brasileira tradicionalmente delirante, que é a cultura do cordel que se baseia no delírio para construir narrativas exuberantes. Eu juntei cordel, Virgulino, Lampião e o nordeste. A partir daí nasceu o nosso enredo”.

Com a produção de um enredo sobre um personagem tão controverso da história do nordeste e do país, há quem indique Lampião como um herói revolucionário, e outros como um simples bandido. O carnavalesco da Imperatriz, no entanto, busca não entrar nessa discussão em seu enredo, apresentando uma versão de Lampião mais humanizada.

“Eu não entro nesse debate, eu entro muito mais no caminho da construção onírica desse personagem controverso. Eu acho que eu trato o Lampião com humanidade, não com ideia de julgamento “, explica o artista.

Diferente também de 2020, quando passou pela escola no Grupo de Acesso, dessa vez Leandro poderá ver seu enredo ser transformado em um samba inédito. Naquele carnaval, a escola decidiu reeditar o desfile com a obra de 1981 “Só dá Lalá”.

“Essa possibilidade de chegar aqui, de propor um enredo autoral, de ver a ala de compositores responder a esse enredo autoral com a produção artística, isso é bonito. É bonito chegar em uma escola e ver a escola se organizar para responder à chegada do carnavalesco com uma produção artística, eu estou feliz”, admite Leandro.

O carnavalesco também revela que prefere dar aos compositores a liberdade para produzirem uma obra com bastante ousadia, humor e comenta aquilo que não pode faltar no samba escolhido.

“Eu acho que o que não pode faltar no samba de 2023 é picardia. Picardia e sacode, acho que humor é importante . Mas, o compositor tem que ter liberdade. Eu não gosto que digam o que eu tenho que fazer, então não sou eu que vou dizer o que o compositor tem que fazer. O compositor é artista igual carnavalesco. Todo artista gosta de liberdade. Acho que o compositor tem que ter só o bom senso de saber que as coisas contam uma história, existe um enredo que já está sendo transformado em alegorias e fantasias e que as coisas em escola de samba caminham juntas. Então eu acho que ele tem que ter liberdade para fazer mas entendendo que existem fantasias e alegorias que caminham juntas”, avalia Leandro.

Substituição a Rosa Magalhães

De 2022 para 2023 a Imperatriz Leopoldinense fará uma troca de gerações no cargo de carnavalesco. Rosa Magalhães, multicampeã pela escola, sai após cumprir a missão principal da escola este ano: permanecer na elite do carnaval, ainda que o desfile merecesse muito mais. Com dois títulos em seis carnavais no Especial, dois títulos também no Acesso, um com a própria Imperatriz, Leandro Vieira é o nome da vez e a principal aposta da Rainha de Ramos para em 2023 voltar a brigar pelo caneco. Sobre a troca, Leandro se diz honrado em estar em um cargo que já foi de Rosa e tantos outros, mas diz não se colocar uma responsabilidade maior por isso.

“Eu não fico nessa onda de responsabilidade. Eu não penso nessa coisa de responsabilidade, eu não penso que estou no lugar da Rosa, nada disso. Eu fico alegre de caminhar pelos caminhos onde a Rosa Magalhães passou, onde o Arlindo Rodrigues passou, onde o Viriato Ferreira passou, onde o Max Lopes passou. Não com a pretensão de estar ocupando um lugar que foi dessa gente que eu admiro. Mas, com a alegria e a humildade de achar que estou pisando no mesmo lugar que essa gente pisou. Isso para mim é motivo de alegria”, entende o carnavalesco.

Leandro Vieira completa ainda o assunto relembrando o quanto o trabalho de Rosa nos anos 1990 foi importante para fazer com que o artista despertasse o interesse e a admiração pela folia.

“Eu sou alegre por pisar na escola que a Rosa Magalhães propôs as coisas que me fizeram um dia ter admiração pelo carnaval. É motivo para mim que fui jovem, criança nos anos 90 e por causa da Rosa me interessei por um negócio que passava na televisão dentro da minha casa quando era criança, isso é motivo de alegria, não com a vaidade de estar no lugar que foi dela, mas com a alegria de uma criança que hoje está fazendo alguma coisa que a Rosa Magalhães fez antes de mim”.

A Imperatriz Leopoldinense vai apresentar em 2023 o enredo “O arrepeio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida”.

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