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Leandro Vieira fala do projeto do Império Serrano na série ‘Barracões da Série Ouro’: ‘É o cavalo certo para receber esse enredo’

Artista cita as conformidades entre as tradições, uma vez que ambos possuem legado de resistência, são pautadas na religiosidade afro brasileira, o corpo que dança, luta, enverga mas não quebra

Apesar de sua última participação no Grupo Especial ter sido em 2019, que acabou levando a escola de volta a Sério Ouro, o Império Serrano nunca chegou a deixar de ser uma das escolas mais esperadas na avenida. De cara nova e apostando em um carnavalesco renomado, Leandro Vieira, a escola promete fazer o possível e o impossível para realizar um desfile lindo na Marquês de Sapucaí.

Com enredo autoral, Leandro Vieira, carnavalesco consagrado graças a seus trabalhos na Estação Primeira de Mangueira e o título na Imperatriz em 2020, estreia na escola esse ano e contou em entrevista ao site CARNAVALESCO como surgiu a ideia do enredo.

“O enredo do Império chegou para mim em 2019. Isso é curioso. O Besouro apareceu enquanto eu estava pesquisando os heróis esquecidos e subalternizados na história do Brasil, que foi o enredo da Mangueira naquele ano ‘História para ninar gente grande’. Mas eu achei tão fabuloso o conteúdo da narrativa oral em torno do Besouro, que eu achava que ele tinha condição de me trazer uma narrativa bonita, em termos estéticos e em termos conceituais. Portando acabei guardando esse enredo para um momento em que eu vislumbrasse a possibilidade de o fazer. Surgiu o convite do Império, e hoje eu me dou conta de que não havia escola melhor para retratar esse enredo. Quando eu recebi o convite para trabalhar no Império, automaticamente eu já tinha o enredo, o Besouro e o Império Serrano tem muitas ligações. Quando fui contratado eu já tinha a vontade de fazer esse enredo e acabei achando o corpo certo. O Império Serrano é o cavalo certo para receber esse enredo”.

Leandro também contou que as semelhanças descobertas por ele em suas pesquisas entre o Império e o Besouro são enormes. “Feijões da mesma concha”, brinca o carnavalesco ao citar as conformidades entre as tradições, uma vez que ambos possuem legado de resistência, são pautadas na religiosidade afro brasileira, o corpo que dança, luta, enverga mas não quebra.

“Foi muito bacana ir construindo esse enredo e descobrindo a cada dia em que eu estava fazendo uma fantasia, uma alegoria, que eu estava trabalhando no enredo certo, para a escola certa e na hora certa”, relatou Leandro.

Cidade do Samba 2

Mesmo com toda essa empolgação e expectativa em cima do desfile do Império Serrano, as dificuldades da escola seguem duras, assim como para todas as outras coirmãs presentes no grupo. Leandro, que atua também como carnavalesco na Mangueira, vivencia essa discrepância de verbas e condições de trabalho entre o Grupo Especial e a Série Ouro bem de pertinho. Mesmo sendo totalmente contra o favoritismo entre as escolas, o carnavalesco reconhece a alta responsabilidade de trabalhar em uma escola como o Império Serrano.

“Eu penso muito na Mangueira e no Império como iguais, não vejo diferença entre as duas, mas claro que no Império as coisas funcionam de forma diferente, até mesmo pelas condições. Sem dúvida alguma o maior desafio é fazer uma escola que tem todas as dificuldades que as escolas do Grupo de Acesso possuem e saber que mesmo assim essa escola é apontada como a possível campeã do grupo em que desfila. A diferença entre o Império e essas escolas, é a expectativa, que por sinal não é minha, eu detesto. Não fui contratado para ser campeão, não penso em campeonato, nunca pensei e gosto de não pensar. Mesmo sem pensar em campeonato já ganhei três vezes. Favoritismo é a pior bobeira que existe. Mas a grande dificuldade é essa”.

Quando questionado sobre a criação de uma Cidade do Samba 2, Leandro se mostrou totalmente a favor e ainda ressaltou a tamanha urgência desse planejamento. “Essa questão da Cidade do Samba para a Série Ouro é importante por conta da dignidade do espaço de trabalho de quem trabalha lá. Barracões sem banheiro, sem telhado, as situações dos barracões são precárias, e a do Império Serrano não é diferente. Acho que esse espaço com uma estrutura mínima para fazer um espetáculo que quer ter o mesmo nível do Grupo Especial, que é o exigido inclusive, que seja algo acima da média, tem que ter o mínimo. Essa nova Cidade do Samba é urgente, justamente por estar ligado com o espaço de dignidade dos trabalhadores do Carnaval”, desabafou.

Desfile 2022

Embora possua todas as dificuldades, ainda sim é momento de alegria! Foram dois anos sem carnaval, logo, a ansiedade está a todo vapor, e no Império as coisas não estão diferentes. A escola da Serrinha sempre é muito ovacionada pelo seu canto e sua energia. Mediante a isso, Leandro acredita que o problema da escola é outro, e alegou estar tentando corrigir.

“O problema nunca foi o canto, a dança, ou a maneira como a escola se comporta nos desfiles. Nesse sentido o Império Serrano é escola de Grupo Especial, grande como a Mangueira, Portela, Salgueiro. Quando a questão é o corpo, o Império Serrano está entre as grandes. As dificuldades do Império sempre foram as questões de organização do barracão, fantasias. O que eu posso responder sobre o projeto que Império Serrano vai apresentar, é que nós estamos tentando corrigir essas falhas que a escola sempre teve no que é administrativo e na entrega do que é o desfile”.

Com os pés no chão, finaliza: “Para não ser otimista demais, acho que podemos esperar um Império Serrano minimamente organizado para chegar lá em pé de igualdade com as grandes da disputa onde ele está inserido”.

Apesar do estilo mais tradicional presente na agremiação, a escola vem apostando em figuras modernas do carnaval, entretanto, ainda sem perder sua verdadeira essência. Ainda sobre o desfile, o carnavalesco acredita fortemente na ideia de que o verdadeiro triunfo da escola será a sua bateria. Apaixonado pela bateria do mestre Vitinho, Leandro mostrou ser fã desse trabalho contemporâneo, além de se identificar.

“Eu olho para o Vitinho no Império Serrano e tenho a sensação de que o trabalho dele incendeia a escola de uma tal maneira, que é a bateria do Império Serrano que a gente espera, mas ao mesmo tempo é outra coisa, é o Império Serrano que não quer ser velho, sempre falo isso inclusive. Ser tradicional não quer dizer ser velho. É muito contemporâneo e moderno querer ser tradicional. Então eu acho que o Vitinho e o que ele implementa na bateria do Império é tradicional e também contemporâneo, mas não tem nada de tradicionalista. Por isso eu acho que o grande triunfo do desfile do Império Serrano é a bateria, a qualidade musical que o mestre de bateria imprimiu numa escola envelhecida”, concluiu.

O Império Serrano será a oitava escola a desfila no dia 21 de abril, encerrando a noite de desfiles do Carnaval 2022 da Série Ouro.

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