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Marcelinho Calil fala do sucesso do ensaboa, gestão na Viradouro e elogia conjunto de fantasias para 2020

O jovem Marcelinho Calil, ao lado do pai Marcelo Calil, são responsáveis pelo ressurgimento da Viradouro na elite do carnaval do Rio de Janeiro. Vice-campeã em 2019, a escola de Niterói pisará na Avenida Marquês de Sapucaí como uma das principais favoritas ao título em 2020. Na série “Entrevistão” do site CARNAVALESCO, Marcelinho responde perguntas sobre diversos temas e revela a potência da vermelho e branco: “O samba pegou. As fantasias são as mais bonitas que a gente já fez na Viradouro”. Confira abaixo o bate-papo completo com o dirigente.

O favoritismo você esperava tão rápido? Ele é bom ou ruim?

“Acho que favoritismo é algo dito pela imprensa, a gente nunca absorveu esse sentimento, mas a gente entende também que o nosso trabalho, até meteórico no último ano, nos deu uma visibilidade e uma expectativa do público e da imprensa em relação ao que a Viradouro pode apresentar. Estar figurando nas escolas que estão com projeto mais grandioso é um motivo até de orgulho, uma cobrança acho que saudável, quero estar sempre com essa cobrança positiva de estar disputando um título. Eu sempre falei, podem esperar da Viradouro um grande carnaval e um grande projeto, o título é consequência de merecer e de estar na posição mais alta. Mas ter isso, esse feedback do mundo do carnaval, de que a Viradouro é uma escola que vem forte e para brigar pelo campeonato, é algo que eu entendo ser saudável”.

Qual é o fator principal para mudança da Viradouro? É só dinheiro? É só o apoio da prefeitura de Niterói?

“Basta ter ido nos ensaios de domingo e terça para você ver o que o dinheiro não compra. A Viradouro estava em situação muito delicada, talvez, a ponto de enrolar a bandeira ou no mínimo ir para a Intendente Magalhães. A Viradouro não vivia uma crise de identidade, de ‘ela está se achando como escola’, não, ela estava em uma crise de gestão, de mal emprego dos recursos, de falhas nas tomadas de decisões que envolveram os últimos carnavais até a gente chegar, uma deficiência de gestão muito grande. Em primeiro lugar, a gente procurou resgatar a escola como instituição, o carinho e o respeito com a comunidade, com os profissionais, chegar e apagar o ‘passado recente’ e falar que daqui para frente a gente vai reerguer a escola. Tem uma potência absurda, gigante e a gente tem que começar a traçar um novo caminho aqui. A gente foi mudando radicalmente algumas situações quanto a instituição, até mesmo de forma física, reestruturando e reformando a quadra nas situações emergenciais e posteriormente com coisas que achamos que deveriam ser feitas e claro pensando na competição. Ao fim de 2016, para o carnaval de 2017 a gente chega e faz o carnaval em 68 dias e é vice-campeã do carnaval naquele ano no Grupo de Acesso e em 2018 começa um projeto do zero, da nossa maneira, com os profissionais que a gente entendia que fossem os melhores para disputar o Acesso, de forma alguma falando com demérito dos que estavam em 2017, e a gente consegue fazer um projeto por completo do zero e consegue êxito até então. Em 2019 também um novo projeto e essa ascensão meteórica da escola, que é fruto de um trabalho, de um resgate desse sentimento do viradourense e aliado sim a talvez uma sorte melhor na gestão da escola. Conseguimos ter êxito um pouco mais rápido do que o previsto”.

O apoio da prefeitura de Niterói impulsiona mais o desfile? E o que responde para quem diz que isso é desigual com outras escolas?

“Penso que a ajuda da prefeitura de Niterói é maravilhosamente bem-vinda. O prefeito gosta de carnaval, sem dúvida, ele tem ajudado não só a Viradouro, como todas as escolas. É uma prefeitura que tem uma relação muito próxima com o samba na cidade, mas a gente sempre teve ajuda de Niterói e acho que isso deveria ser exaltado positivamente e não o contrário. Cada escola busca ter renda de maneira diferente, e a Viradouro é também um patrimônio da cidade de Niterói e um cartão postal. Claro que é uma vantagem, mas tem escolas que também tem um enredo patrocinado e eu acho legítimo, tem escolas que se não tem esse ano, mas já tiveram apoios das suas outras cidades, isso faz parte do carnaval. Seria minimizar muito o trabalho da Viradouro e condicionar isso a uma verba da prefeitura e eu não sinto isso. Até porque ter recursos e empregá-los da forma errada não adianta em nada e já vimos muito isso”.

O desfile de 2020 está acima do Carnaval 2019 na parte financeira?

“Financeiramente, eu acho que está parecido com 2019. É uma comparação que ela é difícil de ser feita pela identidade artística do que era ano passado. O Paulo Barros tem esse trabalho do efeito, de saída de inércia muito grande, tudo se fecha e tudo se abre, tudo aparece e tudo some, o que é muito legal e muito bonito. O trabalho desse ano é um pouco mais de dinâmica, as coisas, os efeitos e as mexidas são dinâmicas, elas vão acontecendo. A gente também conversou muito, lá na Viradouro nada acontece por acaso, nada vai ser feito de forma que foi uma surpresa internamente. A gente conversou muito sobre a estratégia de desfile, desde o início da concepção de enredo. Foram apresentadas três opções de enredo, escolhemos esse pelo cunho cultural e social que ele tem, não político, e a partir daí fomos montando uma estratégia para isso. Eu sou um cara muito fã do clássico e muito fã do moderno. A gente procura primeiro respeitar a identidade dos artistas, segundo respeitar a identidade do enredo. Ano passado, por exemplo, era completamente diferente desse ano, que temos uma densidade cultural maior do que o ano passado. Garanto que em competição o nível é no mínimo igual, porque ano passado a gente praticamente gabaritou o carnaval. As fantasias são as mais bonitas que a gente já fez na Viradouro, isso eu posso afirmar. As alegorias estão muito bonitas, como eu disse, é outra proposta, ano passado tinha moto descendo, motoqueiro fantasma, bruxa voando e esse ano a gente tem uma proposta diferente, mas competitivamente e plasticamente tão boa quanto, ou acima”.

Quando o Paulo Barros saiu qual foi sua primeira reação?

“Eu acho que houve um após a renovação um desencontro de informações, claro que não ficamos satisfeitos com algumas coisas que aconteceram e com a saída do Paulo, como foi algo que vinha, isso claro foi surpresa, mas a gente tava com esse sentimento também já de repensar alguma coisa. A primeira reação, acho que fui muito frio nessa hora, de resolver um problema que a gente tinha e de em maio estar buscando novos carnavalescos. Não fiquei preocupado, mas sim fiquei ansioso, me deu uma ansiedade de resolver logo isso. Pensar para frente, como eu sempre brinco, “saudade fica além de Barra Mansa”; e eu acho que todos os profissionais que passaram como o antigo carnavalesco ou outros e espero que sejam felizes no lugar que escolheram, no lugar que querem estar, e a gente vai trabalhar e fazer o nosso melhor como sempre temos feito. E me deu mesmo um sentimento de ansiedade, pelo mês que aconteceu para que fosse resolvido rapidamente para que pudéssemos começar o trabalho da melhor maneira possível e assim foi feito e estamos extremamente satisfeitos com o trabalho do Marcus e do Tarcísio no que diz respeito a parte plástica da escola. A escola hoje ela tem uma estrutura, ela abraça muito bem novos profissionais, porque a coisa anda e funciona, eu tenho muito carinho pela equipe de barracão que temos aqui e que é uma equipe que funciona muito bem. Tenho falado isso, que podem cobrar e esperar da Viradouro um grande carnaval e projeto”.

Você acredita que o Marcus e o Tarcísio vão mudar de patamar na carreira após o desfile de 2020 da Viradouro?

“Eleva muito e a escola também de certa forma dar uma projeção muito grande, talvez, poucos carnavalescos tenham a oportunidade de estrear ou quase estrear em uma escola que foi vice campeã do Grupo Especial, com uma estrutura legal, uma gestão que busca trabalhar de uma forma correta e séria. Naturalmente, o nome deles vai também ser bem lembrado porque a tendência é que o projeto seja maravilhosamente bem executado. E, sim, eles vão conseguir  mostrar, junto de tantas outras feras, como Julinho e Rute, Ciça, Zé Paulo e uma comunidade que canta muito e que quer muito, eles vão conseguir mostrar o trabalho deles entre os grandes trabalhos do carnaval. Acho que até eles mesmo vão concordar com isso, que estão vivendo um maior momento de projeção hoje”.

Você acha que vivemos um momento de rivalidade, no bom sentido, entre Mangueira e Viradouro, como era com Mocidade e Imperatriz, Imperatriz e Beija-Flor?

“A competição por natureza estimula a comparação e estimula a torcida, estimula a paixão e isso ficando na esfera da torcida, eu não vejo problema algum nisso, de forma saudável, pacífica e respeitosa eu vejo que isso faz parte também. Nós seríamos de uma soberba colocar Viradouro e Mangueira só e esquecer tantas outras escolas que eu jamais faria isso, tem grandes escolas no carnaval, esse ano todo mundo vai buscar o seu lugar ao sol. Não vejo Viradouro e Mangueira como polarizando essa disputa nunca e nem poderia fazer isso. Tem grandes escolas, com grandes trabalhos e grandes profissionais e que tenho muito respeito e que sei que farão um grande carnaval também”.

Você acha que o quesito Samba-Enredo já chega pré-julgado na Avenida e isso te incomoda?

“Eu acho que não é uma questão de pré julgamento. Talvez, seja o quesito mais acessível no pré desfile junto com o enredo. O enredo também você já vai com uma ideia dele apesar de não ter visto, ele já vai em tese lido para a Avenida para que aí sim a outra metade seja mostrada lá. O samba-enredo é inevitável escutar, as pessoas já vão formando a opinião e eu acho legal, mas tem que ter esse carinho, esse zelo de que o momento do desfile é muito importante. Na minha concepção, a execução com que o samba é feito, e ela está diretamente ligada a dois quesitos, cada um na sua praia, o harmonia e samba-enredo, a execução também tem que ser levada em conta. Uma das principais funções do samba, além de enriquecimento musical, que aí é uma parte técnica que eu saio um pouco disso, apesar de gostar e entender um pouco disso, eu também não posso ser tão profundo, mas além disso é de como afeta o conjunto também. Equilibrar
isso tudo é o papel dos julgadores e é o que eles buscam fazer e eu confio bastante julgamento. De fato, se você chegar com uma nota já pré determinada você esteja esquecendo de algo importante que é o fator dia e a maneira com que ele é executado na Avenida”.

Você acha que o “ensaboa” pode virar o samba do ano?

“O samba pegou. É inegável, o ensaboa ela é uma palavra que primeiro, falando da parte técnica, é completamente enquadrada na proposta, o que a lavadeira mais fazia ali às margens do Abaeté era ensaboar, dito até pela Maria de Xindó que disse até quando escutou “como eu fiz isso na minha vida”. Está perfeito e cai no conceito do carnaval. A gente defendeu no livro abre-alas, que o samba está explicando exatamente a história que nós nos propusemos a fazer, eu tenho seis alegorias que estão diretamente mostradas no samba-enredo, indo tanto ao encontro da defesa do enredo, está tudo muito claro, facilitando a leitura, uma clareza muito boa do que está sendo visto, do que está sendo cantado. Agora, a parte da brincadeira eu acho maravilhoso, o carnaval é isso, eu estava na Amaral Peixoto com alguns compositores e falei o quanto é legal o povo estar feliz, a comunidade, e faz ensaboa com a mão e brinca, isso faz parte do carnaval também, a gente não pode engessar nossa festa e esquecer do folião, da brincadeira. Há uma responsabilidade, toda uma técnica ali, toda uma preparação, mas antes de tudo há a felicidade e a alegria do componente de estar ali. O ensaboa pegou, tão grande samba para o quesito, tecnicamente, é uma grande música quanto letra e melodia. O intuito do pré carnaval que é atingir as pessoas, contribuir com um bom desfile da escola para evoluir e cantar, isso tem sido atingido, mexeu com o povo e ele consegue entrar no lúdico, no emocional, defendendo o seu quesito e estando completamente integrado a sua proposta e estratégia de desfile, acho que conseguir isso foi uma benção”.

A redução no tempo do desfile assusta e pode fazer alguma escola patinar? E a redução de cabine de julgadores?

“Acho que é um ano que a gente não tem esse período de adaptação, mas as escolas já sabem disso há algum tempo e tem que se preparar para esse novo modelo. A gente perde cinco minutos de desfile no cronômetro e tira uma cabine de julgadores, baseando-se em um casal em uma passada de samba, que seja dois minutos e pouco, você também ganha quatro minutos pouco e, na verdade, a perda ela é de alguns segundos. Na Viradouro, por exemplo, se pode reduzir fantasias, a gente tem um desfile com seis alegorias e três tripés, um desfile grande, mas que a gente está consciente e preparado. Tivemos a benção de ter a Amaral Peixoto para ensaiar, uma Avenida que consegue ser muito fiel, tanto até na distância dos módulos. A gente está com uma métrica, um projeto de desfile muito bem desenhada. Ano passado a gente teve 60 em evolução e acho que realmente a escola evoluiu maravilhosamente bem e foi perfeita, compacta onde tinha que ser, com uma dinâmica boa, um andamento dos setores e das alas de uma forma legal e a gente vai buscar manter esse mesmo nível. Como é o primeiro ano dessa mudança, pode ser que tenha um pouco mais de ajustes a serem feitos, mas é só no dia que a gente vai conseguir ver e como eu disse, tirou uma cabine e em tese você ganha algum tipo de tempo, compensa essa balança ai e cabe ao trabalho de cada gestão e presidência de carnaval montar a sua estratégia para se adaptar a isso. Acho que essa redução pode ser muito sadia no sentido de dar um pouco mais de dinâmica e vamos ver como vão ser essas três cabines, como as escolas vão passar, como é que vai ser o espetáculo também, mas pensando tecnicamente como foi a sua pergunta, as escolas tem que se preparar para isso, não consigo prever porque é o primeiro ano e de certa forma sim, pode ser que se tenham alguns ajustes a serem feitos mas vai do controle também e da sensibilidade da escola enquanto desfilar, como ela está em relação ao tempo que falta para encerrar o desfile”.

Incomoda você ouvir que a ordem de desfile pode atrapalhar o sucesso do desfile? E como é conviver com o tabu que a campeã não desfila domingo há 10 anos?

“Eu vejo isso da seguinte maneira, eu não fico muito preocupado com esse estigma, porque primeiro que o histórico da Viradouro nessa posição é muito bom, já fomos quase campeões do carnaval. A nossa experiência sendo a segunda escola de domingo foi uma experiência que por pouco a gente não ganhou o carnaval. E procuro trabalhar 364 dias do ano para que não fique rotulado como absolutamente nada. Tenho certeza que as escolas serão julgadas como sempre foram, da melhor  maneira possível, com equidade, de forma que vai ser avaliado o que cada uma mostrar na Avenida. Estou confiante quanto ao projeto, independente da colocação e espero que essa barreira dos dez anos seja vencida nesse carnaval. Até vendo por esse lado, levando em conta o que você está dizendo, é até bom a atual e vice desfilarem domingo e cedo, para que qualquer pensamento errôneo nesse sentido seja quebrado. Tirar de fato da disputa do título a campeã e a vice de
2019 é uma coisa que eu entendo que ninguém vá fazer de imediato para o próximo ano. Mas eu não vejo dessa maneira, não estou preocupado com isso e estou muito preocupado com o que a Viradouro vai apresentar na Avenida, para que ela mereça ganhar o carnaval. Tenho certeza que se assim for, o resultado vai ser feito da melhor maneira possível”.

Você já disse em entrevistas que não quer enredos políticos, mas o de 2020 é muito forte culturalmente e feminista. Como surgiu isso?

“Eu acho que aconteceu de uma forma extremamente natural. Pensamos em cunho cultural e social que o enredo tem. É genuinamente brasileiro e que conta uma história de força e de luta, de resistência de mulheres escravas, vindas da África e que com o seu suor, a sua labuta, o seu trabalho que era essa remuneração era o ganho, elas conseguiram tantas coisas naquela época comprar as suas próprias alforrias, trazendo até mais dignidade a essas mulheres perante a sociedade. Aquela sociedade ainda era adoecida desse preconceito racial, porque isso é doença, mau caratismo. Elas conseguiram ter essa voz e esse poder. Falar disso, da história do nosso povo, que somos todos brasileiros e vivemos isso, temos uma dívida histórica com o povo negro, essa é uma verdade, de escravidão e tantas coisas ruins que aconteceram. Nós temos uma dívida enorme e poder contribuir um pouco da nossa voz as mulheres, em especial a mulher negra, é maravilhoso, e isso não foi uma coisa premeditada, momento ou de um assunto premeditado, de forma nenhuma, a gente pensou na rica história da vida delas, baseado primeiro no CD que contava a história riquíssima das Ganhadeiras de Itapuã, das lavadeiras do abaeté e de tantas outras formas de ganho. Se dar a voz a mulher e mostrar essa história de luta, de vitória, é um prazer. Realmente, não tenho esse tesão de enredos politizados por si só, não é uma ideia que eu tenho para a escola. A sociedade como um todo vive um momento politicamente muito interessante, de força, seja para que lado for e ai não entra no mérito, cada um tem a sua opção política, mas essa força, essa energia no carnaval, caso a Viradouro venha a fazer enredos nesse tom. Dar voz na parte social, de mostrar histórias de representação do nosso povo nessa parte social e cultural, muito mais do que ser diretamente e objetivamente algo politizado”.

O que você pensa sobre comunicação, marketing e imagem para Liga e escolas de samba?

“Acho que como você disse, envolve tanta coisa, como você disse, envolve a relação com o poder público, porque por exemplo, esse ano a gente ficou muito preocupado com essas questões das verbas e dessa mudança repentina e outras coisas, e você acaba perdendo tempo e energia focando em um lado para poder solucionar e isso é natural. E eu não tenho essa fórmula mágica não, é algo que eu entendo que acabando o carnaval, é algo que a gente possa conversar, identificar alguns pontos que possam ser corrigidos e ser proativo para que isso aconteça. Não acha que seja uma conversa tão simples e seria leviano da minha parte chegar aqui para você batendo papo aqui e dizer em dez minutos qual é a solução do carnaval, até porque seria arrogante da minha parte de ‘que eu pensei isso e ninguém nunca pensou’. Acho que não é esse o caminho, mas de fato que conversar, e como você falou, adaptar e melhorar esses processo de comunicação do carnaval de uma maneira geral é sadia e satisfatória, e claro, vai sempre engrandecer e aumentar nossas vendas e contribuir para que a gente aumente como espetáculo. Tudo o que for para incrementar, para melhorar, eu sou a favor da gente conversar, para obviamente, respeitando toda a parte conservadora que é fundamental para a nossa festa e a nossa cultura, porque antes de ser uma grande festa é uma grande representação da cultura e da identificação do nosso povo. Sou a favor da gente trocar figurinha sempre para que não só as escolas, a Liga, como imprensa, julgadores, profissionais do carnaval, todo mundo pode contribuir para melhorar”.

O sambista fica preocupado muitas vezes com declarações dos jovens, como o Gabriel David, o Bernardo Coutinho e o Luizinho Guimarães. O que você ouve e percebe deles sobre os rumos do carnaval?

“Primeiro que eu acho que a nova geração é muito mais ampla e muito mais abrangente do que eu, o Gabriel, o Luiz, o Bernardo. Tem muita gente, até pessoas mais velhas com ideias novas e outras pessoas que contribuem muito para a festa. Nunca houve esse tipo de conversa de tirar ala de baianas ou mudar certas coisas, isso não procede, eu nunca vi isso e nunca participei dessa conversa, nem tive deles nunca isso, muito pelo contrário. Agora sobre opinião, é individualizar, não tem como eu falar o que cada um pensa, eu tento falar o que eu penso, tudo na vida são ciclos, você faz isso na sua empresa, eu faço isso na minha e na Liga o carnaval não é diferente. A Liga é uma empresa com grande êxito na sua história, ela pegou carnaval e uma situação e hoje o carnaval é muito melhor, de uma maneira geral, no todo, muito melhor como quando ela encontrou. E o processo natural da vida é esse, a gente evolui, se repensa, individualmente, como profissionais, isso faz parte da vida, se a gente vive uma época de repensar e refletir sobre algumas coisas, não é falha necessariamente de alguém, faz parte do processo e o que a gente não pode, claro, é ficar parado. Se é preciso adaptar alguma coisa, com bom senso e com coerência e paciência a gente vai conseguir dar um rumo maravilhoso para nos adaptar a esses novos modelos, todos nós, tanto as pessoas mais novas como as mais velhas, sempre respeitando sempre o samba. A essência será sempre respeitada”.

Para o futuro, você falou que quer fazer enredos biográficos. Quando será e quem?

“Eu não posso precisar para você o ano, mas gosto muito de enredos biográficos, não faço ideia de quem, até porque eu vou jogar contra, daqui a pouco isso sai e eu vou perder meu enredo. Do fundo do meu coração eu falo que não tem nada pensado para 2021 e falei isso para você ano passado. Não começo a pensar em 2021 antes de encerrar o ciclo de 2020, não tenho nem tempo agora para me preocupar com o próximo carnaval. Eu tenho algumas vontades ainda no carnaval como reeditar o “Alabê”. Espero um dia vê-la ainda na Avenida com a Viradouro, mas isso lá pra frente. A Viradouro é exatamente eclética com enredo, já teve sucesso com enredos biográficos, Anita Garibaldi, Dercy Gonçalves, Bibi Ferreira, Orfeu mais cultural, teve sucesso com enredos autorais como “Vira o Jogo” e “Vira Viradouro”, teve sucesso com um grande projeto com Alabê de Jerusalém. Ela não tem uma cara de enredos, a Viradouro trabalha com bons enredos, boas histórias e a escola abraça essa ideia, se for uma ideia rica e que agregue para o carnaval e para a escola”.

Você é a favor do carnaval competição, na disputa quesito a quesito?

“Acho que sim, eu primeiro sou fã da festa, do espetáculo, da arte e não sou um cara que vai ficar engessado, a gente gosta do carnaval solto, livre, de brincadeira, é a essência da nossa festa. Mas eu acho até que você desmembrar a competição como um todo, o papel até de vocês na imprensa e especificamente do CARNAVALESCO é fundamental até para aproximar. Você imagina, vou assistir a NFL, o futebol americano, mas chega uma hora que eu gosto de entender a regra. Seria interessante se cada já um chegasse com o enredo lido em casa, por exemplo, ou com um vídeo dizendo como foi seu enredo, não sei, ou sabendo como é o julgamento de cada quesito. Quanto ao julgamento, também saber exatamente como é feito, e acho que isso é muito legal e estimula o público de uma maneira geral a cada vez se interessar mais pela nossa festa e é o nosso papel cada vez mais trazer o público”.

O ensaio na Amaral Peixoto se tornou referência nesse ano e muito cobiçado pelos sambistas. Qual foi o segredo?

“Niterói abraça esse ensaio, como já é tradicional em outras escolas, que nunca foi interrompido. A prefeitura, a cidade de Niterói sempre teve uma relação boa e próxima desse ensaio da Amaral, a comunidade vai em peso. Paralelo a isso, é o momento da escola, que estava mais instável e agora teve um grande carnaval em 2019 e um grande projeto em 2020 e isso aproxima ainda mais. A comunidade voltar a abraçar as decisões e tudo o que vem sendo feito, e acho que tecnicamente a gente tem feito um trabalho considerável. E o ensaio, como dizem no popular, “tem bombado” o ensaio da Amaral. Está cheio e com energia, está quente”.

Vocês (pai e filho) são queridos pela comunidade. Como você sente esse período de vocês na escola? E o que pensa com as pessoas te identificarem como gestor?

“Acho que você tem que estar em um lugar onde é respeitado, onde você é querido. A partir do momento em que você já não é mais querido no lugar onde você está, eu não vou ficar agarrado aqui pelo resto da vida. Hoje, eu sou de fato o responsável pela escola, mas nesse sentido, carinhosamente abraçamos a Viradouro e acho que contribuímos para que ela saísse de um lugar que não estava tão confortável para figurar novamente entre as grandes escolas do carnaval. Nos sentimos contribuintes e estaremos juntos com a Viradouro para tudo quando ela precisar e que seja estando diretamente de frente, seja por trás e auxiliando. Acho que palavras como ‘dinastia’ ou essa perpetuação na marra não é algo que eu vejo como sadio. Temos que ser, antes de tudo, queridos e respeitados onde a gente está. Eu e meu pai trocamos muita figurinha e essa troca é extremamente positiva, a gente vai e decide tudo junto. Durante o dia nós nos falamos muito e até com a direção de carnaval também, temos esse hábito de falar muito e trocar muita ideia sobre os rumos da escola. Cada um tem um jeito, por exemplo, nos ensaios de terça eu fico diretamente ligado ao carro de som e com a parte mais técnica da bateria, ele é um cara que adora essa parte motivacional, apesar de claro entender e estar antenado a isso, brinca muito com isso e vai sempre ao microfone, assim como eu também, mas às vezes eu fico um pouco mais concentrado por uma questão mesmo de análise do ensaio musicalmente. Lá de cima eu consigo ver bem a comunidade, como ela evolui, como ela canta. Ser visto como gestor, eu fico feliz porque o carnaval é uma paixão e eu torço muito para que o carnaval tenha rumos cada vez melhores, do que precisar de mim o carnaval vai sempre ter, eu sou uma apaixonado e um contribuinte para que essa nossa festa. Saber que as pessoas têm visto na Viradouro um modelo de gestão, tanto no barracão, quanto na escola de uma maneira geral, é um honra, e o que eu puder ser espelho para outras escolas eu acho que é muito satisfatório, assim como tantos outros já foram espelhos para a gente”.

A família Calil pode passar a família Monassa na história da Viradouro em termos de títulos e resultados?

“Na nossa cabeça primeiro a gente tem muito carinho e respeito pelo José Carlos Monassa, uma pessoa em que tínhamos uma amizade fora do carnaval, e não nos vem em nenhum momento querer comparar ou superar nada da gestão e do trabalho que ele teve na escola, que foi um trabalho importantíssimo. Ele conseguiu colocar a Viradouro em um patamar de grande escola do carnaval do Rio de Janeiro, isso é total mérito dele, mas são coisas do destino, a gente veio e não estamos agarrados a nenhum tipo de comparação. A gente está aqui para fazer o melhor, fazer nosso trabalho e já que Viradouro tem um título eu espero sim conseguir mais títulos, obviamente, mas sem algum tipo de vontade de comparar o que foi, simplesmente de acrescentar. O Monassa fez esse grande trabalho até o seu falecimento e cabe a nós agora, depois de um período da escola um pouco conturbada, acrescentar e agregar à Viradouro e tentar botar muitas outras estrelas no pavilhão da Viradouro. Eu não me sinto, nem meu pai, donos de nada”.

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