InícioSérie OuroMilton Cunha e os destaques de luxo: Luanda Ritz

Milton Cunha e os destaques de luxo: Luanda Ritz

Por Milton Cunha, Victor Raposo, Thiago Acácio, Reinaldo Alves, Tiago Freitas e João Gustavo Melo

“TRAVA NA BELEZA: Imaginários sobre o destaque de luxo de escola de samba”, que será publicado no Dossiê da Revista Policromias do LABEDIS, Museu Nacional da UFRJ, com Editoria de Tania Clemente.

Para chegar aos núcleos temáticos, fizemos uma série de entrevistas que passamos a publicar no site CARNAVALESCO, duas vezes por semana. Este material acabou não entrando no corpo do texto, por limitação de espaço, e não queríamos deixar de mostrar. É uma homenagem aos esforços destes luxuosos personagens que habitam nossos sonhos de folia! Viva os Destaques de Luxo, mensageiros do glamour.

Luanda Ritz – Estácio de Sá

O que você imagina que a plateia imagina quando te vê passando na avenida durante o desfile?

Luanda Ritz: Acho que despertamos o imaginário luxuoso de cada um, através das fantasias de nossas personagens. Pensam que somos íntimos de cada uma dessas personagens, que temos ligação com os deuses, personalidades históricas, os elementos da natureza que representamos em cada apresentação. Daí a importância de vesti-las por dentro, interiorizá-las.

Gostaria de saber como surgiu o seu interesse em ser destaque de luxo? Quando foi o seu primeiro desfile nesse posto? Como e quando foi a sua chegada na Estácio? Já desfilou em outras agremiações nesse posto? Se sim, quais?

Luanda Ritz: Surgiu da vontade de têr um lugar diferenciado na escola. Meu primeiro desfile como destaque foi no GRES Vizinha Faladeira em 1996. Já desfilei Caprichoso de Pilares, Portela, M. I de Padre Miguel, Império Serrano, Mangueira e Estácio de Sá. Eu sempre estive na Estácio. Fui nascido e criado no morro de S. Carlos. Mesmo passando por outras escolas sempre estive na Estácio, me afastei em alguns anos por questão de gestão de coordenação de destaques, mas nunca saí. Fui passista, saí em alas e me tornei destaque no ano em que a Estácio teve Grande Otelo “A prata da noite” como enredo (1986).

Como é o seu planejamento para desfilar? Qual o seu papel na concepção e elaboração da fantasia? E como é a relação do carnavalesco nesse processo?

Luanda Ritz: Primeiramente financeiro e depois adequação do espaço em minha casa conforme o tamanho da fantasia, uma vez que toda parte de adereços (bordados) são feitos por mim exceto costura, ferragem e resplendor são realizados fora. O carnavalesco é o criador do figurino da ideia central da personagem e é consultado quando há necessidade de adequar o desenho a realidade da confecção.
E em relação ao personagem/papel que você vai interpretar no desfile. Você faz alguma preparação corporal, nos aspectos de gestual e de semblante? Como que você “encarna” aquilo que está vestindo? Como internaliza as personagens que representa?

Luanda Ritz: A pesquisa é fundamental para se criar a personagem a partir da maquiagem e gestual para interpretação adequada, sem essas etapas não há “incorporação”.

Você tem apego com as fantasias? Como lida com a ideia de que ela será vista em pouco tempo pelo público?

Luanda Ritz: Minha fantasia é feita para aquele momento, só faz sentido naquele contexto, portanto o pouco tempo passa a ter valor associado ao conjunto das alas, a alegoria, a bateria. A importância da minha roupa está ligada ao valor de beleza que ela pode agregar a escola.

Pra você, o que faz uma fantasia de destaque se eternizar na mente de quem assiste os desfiles? E o que faz um destaque se distinguir dos demais destaques de luxo do carnaval?

Luanda Ritz: O que faz uma fantasia se eternizar é quando ela completa uma alegoria de forma que uma é associada a outra estão atreladas se uma é sucesso a outra também. Os destaques têm características peculiares, não são comparáveis, as cores são diferentes, o material é diferente, a personagem é diferente e a concepção de cada uma delas por cada um também. Cada um têm um processo diferenciado. Eu sou adicionado pela interpretação, não gosto de “manequins” enfeitados sobre a alegoria. Essa, pra mim, é a diferença.

Tem alguma fantasia ou fantasias por qual você sempre é lembrado (a) ou que tenha se tornado inesquecível para as pessoas? Se sim, por qual motivo isso aconteceu?

Luanda Ritz: Lembram muito da Malévola (Estácio 2016), devido minha performance durante o desfile.

Você considera o luxo essencial para a festa? Se sim, por qual motivo?

Luanda Ritz: Considero e muito. Complementam as alegorias e dão vidas as personagens citadas no enredo.

Antigamente, cada destaque vinha em uma alegoria. Hoje, com a diminuição do número de carros, isso tem sido menos frequente. Como você enxerga essa mudança? É um problema pra você dividir a atenção do público?

Luanda Ritz: Pior que o número de integrantes no carro, são as esculturas que muitas vezes escondem o destaque. Isso têm sido um dos maiores motivos de queixas do grupo destaque do RJ.

Pra você o que a figura do destaque simboliza para os demais componentes da escola? E como é a relação deles com você?

Luanda Ritz: Para os demais componentes da escola o destaque é a figura que simboliza o luxo e riqueza, sou tratada com muito respeito e deferências, até mesmo mais do que pelos gestores em alguns casos.

O carnaval vem passando por uma crise financeira e muito se fala que as escolas precisam voltar às suas raízes. Você acha que a comunidade se sente representada quando vê vocês nos dias de hoje? Sentiu alguma mudança na relação entre você e a comunidade nos últimos anos?

Luanda Ritz: Não represento a realidade e sim a fantasia, o sonho do luxo e da riqueza, afinal esse é o sentido do Carnaval, a troca de papéis, a ilusão, o imaginário.

Você falou, na pergunta ao Milton, que vocês despertam o imaginário luxuoso de cada pessoa que os assiste. Poderia falar um pouco mais sobre isso?

Luanda Ritz: Quem não se encanta com a possibilidade de ver o Rei Sol, A Lua, A mãe d’agua, A imperatriz, os Guardiões do reino não sei das quantas, o Senhor desse ou daquele universo, e tantos outros Deuses e figuras importante que habitam o imaginário da maioria das pessoas?!

Com quanto tempo de antecedência você chega no sambódromo? Em qual tipo de carro você chega? Quantas bolsas você carrega? Como são feitas essas bolsas? Tem pessoas para dar apoio? Na hora que chega e vê as alegorias desmontadas, de tarde, muito antes de qualquer pessoa, o que você sente? O que você pode contar desse processo de montagem e depois de desmontagem da alegoria? Sente tristeza de jogar lá de cima os plumeiros? Como é essa sensação?

Luanda Hitz: Moro na esquina do Sambódromo vou à tarde com meus apoios (amigos) e monto as ferragens e plumeiro e depois retorno pelo menos 2h antes do desfile, transporto minha fantasia em 6 bolsas específicas feitas de lona para suportar pesos e de tamanho proporcional ao tamanho dos ferros e da fantasia propriamente dito. Sempre conto com os mesmos apoios, são meus amigos, pessoas de confiança que focam no mesmo objetivo, para essa função não podem ser pessoas dispersas para que tudo dê certo, checam ferragens ajeitam a roupa com perfeição ao meu corpo. Os carros estão sempre semidesmontados, mas não estranho porque acompanho o projeto no barracão e sei do resultado final, só lamento a falta de estrutura na concentração e dispersão do nosso sambódromo para a proporção das alegorias e das nossas fantasias. É doído ter que arrancar de forma abrupta as pessoas de nós do resplendor que levou dias para ficar pronto a um custo alto de cima dos carros e por vezes maltratados por funcionários da empresa responsável por nos conduzir e não têm a menor ideia do valor material e muito menos afetivo que têm para nós.

 

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