InícioGrupo EspecialMilton Cunha e os destaques de luxo: Maria Helena Cadar

Milton Cunha e os destaques de luxo: Maria Helena Cadar

Por Milton Cunha, Victor Raposo, Thiago Acácio, Reinaldo Alves, Tiago Freitas e João Gustavo Melo

“TRAVA NA BELEZA: Imaginários sobre o destaque de luxo de escola de samba”, que será publicado no Dossiê da Revista Policromias do LABEDIS, Museu Nacional da UFRJ, com Editoria de Tania Clemente.

Para chegar aos núcleos temáticos, fizemos uma série de entrevistas que passamos a publicar no site CARNAVALESCO, duas vezes por semana. Este material acabou não entrando no corpo do texto, por limitação de espaço, e não queríamos deixar de mostrar. É uma homenagem aos esforços destes luxuosos personagens que habitam nossos sonhos de folia! Viva os Destaques de Luxo, mensageiros do glamour.

Maria Helena Cadar – Salgueiro

O que você imagina que a plateia imagina quando te vê passando na avenida durante o desfile?

Maria Helena: O que eu acho que uma pessoa sente ao ver um destaque de luxo, além da admiração , uma vontade de estar naquele lugar , ostentando aquela fantasia.

Gostaria de saber como surgiu o seu interesse em ser destaque de luxo? Quando e como foi o seu primeiro desfile nesse posto? Como e quando foi a sua chegada no Salgueiro? Já desfilou em outras agremiações nesse posto? Se sim, quais?

Maria Helena: O interesse em ser destaque de luxo, eu sempre tive, pois saia como desfilante do Salgueiro há muito tempo e sempre admirando aquelas fantasias maravilhosas. Aconteceu que um dia, no ano de 2004, o Maninho que era muito amigo do meu marido através da criação de cavalos, nos convidou para jantar com ele e sua família e depois assistirmos a um ensaio na quadra do Salgueiro. Lá, ele chamou meu marido ao escritório e perguntou se poderia me convidar para desfilar como destaque. Meu marido concordou e ele então fez o convite. Saí com a fantasia “MONSTRÓLEO” que representava o petróleo no enredo da Cana de Açúcar, produzindo o álcool como combustível. Ao meu lado, a figura de um Sheik, fechando as torneiras do petróleo. Cheguei ao Salgueiro no carnaval de 1990, também a convite do Maninho, juntamente com um grupo de amigos. Como destaque, só desfilei no Salgueiro, mas como participante, saí algumas vezes na Imperatriz Leopoldinense, também a convite da sua diretoria.

Como é o seu planejamento para desfilar? Qual o seu papel na concepção e elaboração da fantasia? E como é a relação do carnavalesco nesse processo?

Maria Helena: Meu planejamento para desfilar, depende muito do momento. Como faço parte da equipe de destaques do Salgueiro, fico aguardando a definição por parte do carnavalesco, de qual personagem vou representar. Na concepção da fantasia, tenho pouca influência, mas na confecção sim. Eu e o estilista que as confecciona, o Belisário Cunha, procuramos entender o que o carnavalesco procurou transmitir com aquele desenho e o transformamos em uma fantasia. Nossa relação com o carnavalesco é a melhor possível. Procuramos levar a ele tudo que imaginamos na confecção e trocamos ideias sobre a viabilidade da execução.

E em relação ao personagem/papel que você vai interpretar no desfile. Você faz alguma preparação corporal, nos aspectos de gestual e de semblante? Como que você “encarna” aquilo que está vestindo? Como interioriza a personagem que está representando?

Maria Helena: Em relação ao personagem que vou representar, procuro fazer um estudo sobre o mesmo e dentro disso , saberei como me comportar durante o desfile. Cito como exemplo a minha fantasia de Carmen Miranda, que me fez aprender muito sobre o seu comportamento durante a vida artística. Sempre procuro encarnar o personagem que estou representando e durante o desfile sinto-me como se fosse ele.

Você tem apego com as fantasias? Como lida com a ideia de que ela será vista em pouco tempo pelo público?

Maria Helena: Tenho muito apego às minhas fantasias, tanto é, que tenho todas elas guardadas em um museu particular, todas montadas em manequins, da mesma forma como eu desfilei. Cada uma está composta até com os sapatos, colares, anéis, etc. como no dia do desfile. Não me importo se as pessoas vão poder admira-las por alguns minutos, pois isso faz parte do jogo, mas eu e meus amigos poderemos admirá-las por muito tempo.

Pra você, o que faz uma fantasia de destaque se eternizar na mente de quem assiste os desfiles? E o que faz um destaque se distinguir dos demais destaques de luxo do carnaval?

Maria Helena: O que faz uma fantasia de destaque eternizar aos olhos de quem a vê, além da beleza, é o que ela representa. Acho que não há grandes diferenças entre os destaques de luxo do carnaval. Todos são belíssimos. Às vezes um pode aparecer mais do que o outro, mas com certeza são detalhes. Todos são belíssimos.

Tem alguma fantasia ou fantasias por qual você sempre é lembrado (a) ou que tenha se tornado inesquecível para as pessoas? Se sim, por qual motivo isso aconteceu?

Maria Helena: Tenho dezessete fantasias no meu museu, todas lindíssimas e muitas premiadas, mas tem uma que eu considero especial e com a qual ganhei o prêmio de melhor destaque de luxo daquele ano. Trata-se da “MATRIÁFRICA”, no enredo Senhoras do Ventre do Mundo, uma fantasia toda em tons avermelhados e que deslumbrou o público presente.

Você considera o luxo essencial para a festa? Se sim, por qual motivo?

Maria Helena: Acho que o luxo é essencial no Carnaval. O público gosta e admira as fantasias luxuosas. Sempre foi assim e sempre será. As fantasias temáticas precisarão existir , mas coroadas com o luxo dos destaques.

Antigamente, cada destaque vinha em uma alegoria. Hoje, com a diminuição do número de carros, isso tem sido menos frequente. Como você enxerga essa mudança? É um problema para você dividir a atenção do público?

Maria Helena: Não me importo que eu vá desfilar com outro destaque no meu carro. Evidentemente cada um estará representando um personagem e tem que fazer a sua parte no enredo.

Pra você o que a figura do destaque simboliza para os demais componentes da escola? E como é a relação deles com você?

Maria Helena: O destaque representa para os outros componentes, um ideal a ser alcançado. Todos admiram, têm o maior carinho, e se imaginam naquele lugar. A minha relação com as pessoas que desfilam no mesmo carro que eu, é a melhor possível, mesmo porque, ficamos quase uma hora nos locais onde vamos desfilar e temos oportunidade na concentração de nos conhecermos e bater longos papos, antes do início do desfile.

O carnaval vem passando por uma crise financeira e muito se fala que as escolas precisam voltar às suas raízes. Você acha que a comunidade se sente representada quando vê vocês nos dias de hoje? Sentiu alguma mudança na relação entre você e a comunidade nos últimos anos?

Maria Helena: Não só o carnaval vem passando por uma grave crise financeira , mas todos os setores vêm sofrendo com isso. As Escolas de Samba terão que se reinventar e procurar suas origens, onde se fazia um carnaval com menos dinheiro e mais garra. Não têm outra alternativa. Eu particularmente, me dou muito bem com as pessoas da comunidade que tenho a oportunidade de conviver, principalmente nos ensaios da Escola, onde tenho uma grande quantidade de amigas e amigos que são da comunidade Salgueirense. Nunca senti nenhuma diferença de comportamento comigo, pelo contrário, são sempre muito amáveis com minha pessoa.

Você falou, na resposta ao Milton, que as pessoas devem sonhar estar no lugar de vocês no desfile. Acredita que vocês ocupam, no imaginário das pessoas, um lugar considerado impossível de ser atingido por elas?

Maria Helena: Acredito que passa na cabeça de todos que assistem a um desfile, o desejo de estarem naquele local. Podemos ocupar um lugar especial no imaginário das pessoas, mas não impossível de ser atingido. Vários fatores podem influenciar nessa possibilidade, mas nada é impossível.

Com quanto tempo de antecedência você chega no sambódromo? Em qual tipo de carro você chega? Quantas bolsas você carrega? Como são feitas essas bolsas? Tem pessoas para dar apoio? Na hora que chega e vê as alegorias desmontadas, de tarde, muito antes de qualquer pessoa, o que você sente? O que você pode contar desse processo de montagem e depois de desmontagem da alegoria? Sente tristeza de jogar lá de cima os plumeiros? Como é essa sensação?

Maria Helena: Na verdade, eu chego à concentração com uma hora e meia de antecipação, porque o ateliê que produz minhas roupas, se encarrega de montá-las na armação da escola e desmonta-las na dispersão.

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