InícioGrupo EspecialMilton Cunha e os destaques de luxo: Nelcimar Pires

Milton Cunha e os destaques de luxo: Nelcimar Pires

Por Milton Cunha, Victor Raposo, Thiago Acácio, Reinaldo Alves, Tiago Freitas e João Gustavo Melo

“TRAVA NA BELEZA: Imaginários sobre o destaque de luxo de escola de samba”, que será publicado no Dossiê da Revista Policromias do LABEDIS, Museu Nacional da UFRJ, com Editoria de Tania Clemente.

Para chegar aos núcleos temáticos, fizemos uma série de entrevistas que passamos a publicar no site CARNAVALESCO, duas vezes por semana. Este material acabou não entrando no corpo do texto, por limitação de espaço, e não queríamos deixar de mostrar. É uma homenagem aos esforços destes luxuosos personagens que habitam nossos sonhos de folia! Viva os Destaques de Luxo, mensageiros do glamour.

Nelcimar Pires – Imperatriz

O que você imagina que a plateia imagina quando te vê passando na avenida durante o desfile?

Nelcimar Pires: Estar como destaque é viver por hora, uma sensação única e indescritível. É se sentir extravagante, sui generis, e ao mesmo tempo se sentir parte num quebra-cabeças de 3.500 peças. É olhar para as arquibancadas e camarotes e ler nos olhares inarredáveis, em fragmentos de segundos, a admiração do belo e da elegância. É notar em rostos desconhecidos, o olhar de deslumbramento diante daquilo que a visão define, mas a boca não consegue descrever. É render-se ao fascínio e glamour que vão além do valor em cifras da fantasia, e se submeter ao valor colossal que só quem concebeu, idealizou e trajou é capaz de delinear. Eh Milton só pra falar aqui aquela parte que eu falo sobre o quebra-cabeça de mil e quinhentas peças, eu me refiro a a ao número de de componentes de uma escola, que é tudo um quebra-cabeça. Eu calcutrês mil e quinhentos componentes, né? Que é uma média, tá? Se achar que deve mudar isso aí, aí você que sabe, tá bom? Mas eu eu citei isso aí, mas eh, dentro dessa situação, tá bom?.

Gostaria de saber como surgiu o seu interesse em ser destaque de luxo? Quando foi o seu primeiro desfile nesse posto? Como e quando foi a sua chegada na Imperatriz? Já desfilou em outras agremiações nesse posto? Se sim, quais?

Nelcimar Pires: Bem, a minha primeira vez que eu resolvi desfilar como destaque de luxo foi lá para 1995 eu montei uma roupa roxo dourado que foi um Imperador Bizantino. Antes disso, eu vinha fazendo fantasias de luxo para minha irmã. Ela desfilava nos Congos em São João da Barra, que hoje virou escola de samba. Era bloco Congos e hoje virou escola, né. Hoje é uma escola de samba lá. E em 1995 resolvi fazer meu primeiro destaque de luxo, que antes eu só fazia para ela e eu falei: “Não, agora eu acho que eu vou fazer para mim também.” Então por alguns anos saímos eu e ela juntos nessa escola, na época era bloco ainda aí a gente passou a desfilar juntos até o meu primeiro ano na Imperatriz ela também me acompanhou, tá. Depois ela seguiu a vida dela, não quis mais desfilar. Então já deixei de fazer as fantasias para ela ir passei a dedicar só em fantasias de luxo para mim. Aí minha entrada na Imperatriz foi em 2006 que foi o Luís 14 o Rei Sol numa roupa toda amarelo com marrom. Foi em 2006 que eu entrei na Imperatriz e daí para cá tô na Imperatriz até hoje. Que eu participei de um desfile no brazilian Carnival Ball, em Toronto no Canadá. E em 2005, que foi o meu encerramento na Portela. Eu levei em torno de 9. Quer dizer 9 anos? Eu entrei na Portela e 98 numa aula em 98, e de 98 para cá não lembro agora quanto que dá, mas eu fiquei na Portela até 2005, foi meu último ano que foi com uma fantasia naquele carro do metal, o carro da guerra que foi um Arcanjo da Paz, uma roupa azul bebê em 2005. Aí eu recebi um convite do Wagner junto com presidente da Rocinha, que era o Maurício Matos. Foi com eles que eu viajei para Toronto. Maurício Matos que começou a me pegar para poder viajar o mundo com ele e ali me fez o convite para eu ser abre alas da Acadêmico da Rocinha e desfilar para a Imperatriz. Deixar Portela e partir para Imperatriz. Foi aí que aceitei o convite e tô na Imperatriz até hoje como na Rocinha. Eu levei quatro anos na Rocinha, acho que foram quatro anos sendo Abre Alas com o símbolo da borboleta. Todos os anos eu desfilei de Borboleta, né. Cada uma vinha em uma história do enredo, mas sempre uma borboleta.

Como é o seu planejamento para desfilar? Qual o seu papel na concepção e elaboração da fantasia? E como é a relação do carnavalesco nesse processo?

Nelcimar Pires: Meu querido, é o seguinte… Qual o meu planejamento para desfilar? Meu planejamento, eu sou uma pessoa muito organizada. Eu trabalho muito. Luto muito, né. Eu sou estilista, de noiva, de roupa de festa e tudo. Então eu venho juntando meu dinheiro eu venho guardando todo meu trabalho como se fosse minha grande preciosidade, né. Porque nos momentos de crise, nos momentos caídos, você tem como fazer uma bela roupa pelo material que eu guardo muito bem guardado. Como agora eu tô nessa pandemia, não estão podendo fazer nada, tá tudo parado, meu ramo tá morto no momento. Então eu tô fazendo uma fantasia toda bordada à mão no estilo antigo. Voltei a década de 70 com aqueles mantos enormes, quatro metros e meio de manto ricamente bordado. Então eu tô fazendo uma roupa da minha ideia como sempre fiz na época dos Congos em São João da Barra. Tô criando a minha própria fantasia e fazendo com todo o material que eu tenho em casa, entendeu? Então tô fazendo uma bela roupa, mas com tudo que eu tenho em casa. Então com esse meu planejamento é o seguinte, eu tenho muito material e quando eu preciso botar uma plumagem nova na roupa eu sempre compro pavão desidratado e pluma branca e vou estocando, vou guardando. Quando chega o figurino de hoje, quando eu sento com o carnavalesco… Que tá aqui nessa pergunta… Qual a minha relação com o carnavalesco? Sempre foi muito boa com todos eles. Eu Sempre respeitei o trabalho deles. E todas as mudanças que eu faço eu tô sempre conversando com eles, dizendo que eu tenho isso, poderia fazer isso, eu sempre pergunto! Então quando eu chego no carnaval o carnavalesco não toma susto com a minha roupa não. Pode tomar um susto e achar que tá boa, tá bonita, mas que eu modifiquei, que eu acabei com figurino dele eu acho que eu nunca tive problema com carnavalesco nenhum não. Eu sempre me dei muito bem com todos eles, eu passei por vários carnavalescos. Como tá aqui na sua pergunta que eu não respondi que a pergunta (Quantas agremiações eu passei? E se eu desfilei sempre de destaque no posto?) Todas elas. Sim! A única vez que eu desfilei em uma ala foi pela primeira vez e 98 na Portela ala da Paz de Seu Bené que ele sim foi meu padrinho, ele quem me apresentou ao seu Carlinhos de Maracanã, que no ano seguinte eu passei ser destaque da Portela. Mas o meu relacionamento sempre foi muito bom. Com relação a todas as escolas, eu passei pelo Porto da Pedra, Viradouro, Portela, Rocinha, Salgueiro, Imperatriz. Não sei se a Porto da Pedra eu falei. Ai não sei se eu falei todas, mas eu acho que foram essas que eu já desfilei, tá? Eu acho que foram essas. Ah, a Vila Isabel! Como eu fui esquecer da Vila Isabel? Tá vendo? Tem escola que eu posso esquecer. Bem enfim, se eu lembrar depois eu vou lembrando eu vou passando para você. Então eu acho que a pergunta 2 eu acho que eu consegui te responder toda. Se tiver alguma dúvida você, por favor, entre em contato comigo novamente. Pode me perguntar, tá? Eu tô totalmente aberto aqui para você.

E em relação ao personagem/papel que você vai interpretar no desfile. Você faz alguma preparação corporal, nos aspectos de gestual e de semblante? Como que você “encarna” aquilo que está vestindo? Como internaliza as personagens que representa?

Nelcimar Pires: É muito legal essa pergunta… Muitos me perguntam isso. Quando eu recebo o figurino, né qual personagem eu vou representar? Se eu faço caras e bocas? Olha, eu costumo tentar seguir legal meu papel. Por exemplo, teve um ano que eu saí no Salgueiro, “Entre o Céu e o Inferno”, eu fui o diabo. Então tive uma maquiagem diabólica, eu usei lentes brancas nos olhos, lente amarela aliás, amarelo ouro. Eu fiz uma maquiagem maravilhosa, foi maravilhosa essa make, e tudo. Mas os meus trejeitos, a minha resposta com público, que eu sinto aquele público… Aquela energia que eles passam para mim é a que eu quero passar para eles. Uma energia de uma pessoa feliz, uma pessoa que está liberando aquela energia para eles, assim como eu estou pegando. Aquela troca de energias. Então eu sou sempre o mesmo. Canto muito! Tento cantar o enredo. Se eu me perder no samba, minha boca não para de bater. Mas junto com a boca batendo o sorriso travado canto a canto do seu rosto. São poucos momentos que podem me pegar meio sério na avenida. De repente uma cabeça que tá pesando muito aí eu firmo um pouco a cabeça assim, mas depois abro o meu sorriso de novo e ali eu vou levando com os meus gestos, com meu semblante da melhor maneira possível para o meu público. Que eu digo meu público porque, naquela hora, parece que é só você e eles estão só te vendo, entendeu? Eu boto isso na minha cabeça. Então ali eu olho para todos e aceno para todos como se eu conhecesse que eu tivesse vendo alguém ali da minha família ou alguém que me apreciasse, que me amasse tanto, entendeu? E como eu encarno? Eu encarno aquilo que eu visto. Eu visto aquela roupa. Minha maquiagem eu posso carregar um pouco mais. Se é um semblante mais angelical eu vou fazer um angelical, mas nunca deixo de colocar os meus cílios. Fazer aquela maquiagem escandalosa, jogar glitter, jogar pedrarias no rosto, como fazia os antigos, o Clóvis bornay. Você não via o Clóvis bornay erguer uma roupa dele com a cara lavada. Você não via o Evandro de Castro Lima com uma cara lavada. Você não via esses principais antigos do carnaval com cara lavada. Então, eu me afeiçoei muito eles, eu me baseei neles, porque eu passei essa época. Eu passei pela transição, né? Quando eu entrei no Glória para concorrer, eu peguei o último suspiro dos concursos de fantasia, e Deus me premiou, né? Além de eu ganhar e ser último hors concours e depois acabou, morreu. Já entrou uma nova fase. Eu fui premiado por Deus porque era um sonho muito grande eu ter um troféu daquele da Natan joias, aquela máscara que falam em ouro branco torcida com pedras brasileiras. Então não é pelo valor do troféu, mas o valor do simbolismo dele, de ter aquele troféu é maior riqueza! E hoje eu tenho cinco, com a graça de Deus. Então eu acho que é isso e me encanta muito tudo isso.

Você tem apego com as fantasias? Como lida com a ideia de que ela será vista em pouco tempo pelo público?

Nelcimar Pires: Eu me apego sim! Eu me apego as minhas roupas porque um custo muito alto. É uma dor de cabeça muito grande. São noites e dias sem dormir direito preocupado em querer estar bem, em querer fazer o melhor até para mim, entendeu? Isso é para mim não é nem pelo carnavalesco, não pelo público e sim para mim. Porque eu quero estar sempre bem, eu quero estar mantendo o meu nome em alta nisso aí, mesmo que de repente eu possa estar fazendo… Que seja uma roupa mais simples, mas que eu possa estar fazendo uma roupa digna, uma roupa altura, uma roupa que tenha uma boa energia. Então aquela roupa que eu depositei minha energia, eu depositei meu suor, eu vesti aquela roupa eu tenho apego sim. Eu não sou de emprestar roupa para outro vestir. Eu sou muito místico nisso aí. Eu não gosto de outro suor, de outra situação na minha roupa. Eu não gosto. Eu sou uma pessoa meio meio complicadinha nisso aí de botar outra pessoa para vestir. Depois que uma outra pessoa veste eu prefiro vender a roupa, Fazer qualquer negócio dela, desmontar, aproveitar material… Agora vestir aquela roupa novamente eu não visto não. É muito… Eu acho que eu nunca vesti uma roupa que alguém vestiu, entendeu? Por isso que eu não sou de alugar roupa. Se quiser você compra, agora alugar minha roupa para alguém vestir e depois eu tenho que vestir eu não faço não, entendeu? Já é de mim mesmo, já é da minha criação, do que eu aprendi. Eu sou meio complicadinho para isso, entendeu? Então eu me apego sim, e se eu tiver que desfazer eu desfaço sem dó e sem piedade porque eu já usei, já usei muito, e aquela que eu uso menos eu faço uma pequena modificação para poder ter que usar ela mais vezes em algum evento, alguma festa… Que graças a Deus eu sempre fui convidado para várias festas de destaques de premiações no exterior. Já levei muita roupa minha para exposições para tudo. Então são roupas que eu já usei bastante. Então sou bem feliz nisso. Então algumas eu até já vendi, muitas eu já vendi, né. Fiz dinheiro delas e com dinheiro delas eu comprei novos materiais, entendeu? Então eu acho que ele tá aí, a resposta da pergunta 4. Espero ter passado certo aí para você. Tá bom?

Para você, o que faz uma fantasia de destaque se eternizar na mente de quem assiste os desfiles? E o que faz um destaque se distinguir dos demais destaques de luxo do carnaval?

Nelcimar Pires: O que faz uma fantasia se destacar e se eternizar? Ela se eterniza, meu querido, é pela energia eu acho que você passa pela roupa, como você veste… Eu sou um tipo de pessoa, por exemplo, um evento de destaque, eu gosto de vestir a minha roupa e tentar jogar toda minha energia em cima daquilo ali e fazer minhas caras bocas e tentar desfilar aquela roupa como antigamente, como se fosse Lago dos Cisnes você tentando, com o máximo de… por pior peso da roupa, você mostrar que ela tá leve, que você possa mostrar o melhor dela, entendeu? Mostrar cada detalhe. Se você passar parece tá carregando uma cruz ou você se sacode muito, por exemplo. Eu Neucimar não sou fã daquela, daquele você apresentar uma roupa de destaque com um samba-enredo não é a minha, eu não gosto. Até me apresento quando não tem o que fazer, não tem como mudar, eu até me apresento, mas eu sou mais as músicas de tema, o tema que você pode usar sua roupa, entendeu? Eu sou mais esse tempo passado, esse antigo que você desfilava com a sua roupa com o som dos órgãos ou música orquestrada, ou uma valsa, uma Edith Piaf entendeu. Eu gosto disso aí! Então, eu acho que faz eternizar é um modo como você apresenta com sua roupa, entendeu. Eu acho que faz eternizar aí! Você acaba se destacando dos outros destaques quando você mostra uma uma situação diferente entendeu? Eu não gosto de vir me sacolejando com uma fantasia, fazendo meus barulhos com as minhas franjas como se eu fosse uma mulata que to ali, uma passista, entendeu? Não vem fazendo isso. Eu prefiro fazer um desfile exibindo aquele traje ali em mais elegância eu acho que aí tá a diferença que faz até eternizar o seu traje perante os olhos das pessoas.

Tem alguma fantasia ou fantasias por qual você sempre é lembrado (a) ou que tenha se tornado inesquecível para as pessoas? Se sim, por qual motivo isso aconteceu?

Nelcimar Pires: Qual foi a fantasia que você sempre é lembrado e que tenha tornado inesquecível? Eu acho que a fantasia que se tornou inesquecível para mim e para e para muitas pessoas foi a fantasia que foi o Astro Rei. Aquela fantasia do Sol do enredo da Portela em 2004 em que a Porta falava: “A lua apaixonada chorou tanto que do seu pranto nasceu o rio-mar”. Foi nesse enredo Amazonas, né. Então é essa roupa o sol que eu vim naquele carro da lua chorando e o sol atrás, né. Eu acho que essa roupa ficou eternizada sim na mente de muitos inclusive na minha. E essa roupa foi a que aqui mais eu usei. Eu recebi milhões de Prêmios em Várias escolas de samba que teve festa de destaques e eu fui a quase todas nesse ano. Eu acho que foi o ano que mais teve festa de destaque. Recebi pela beija-flor, recebi pelo Porto da Pedra, recebi por Várias escolas que me chamavam, não lembro agora. Eu lembro do beija-flor porque o troféu foi um colibri verde e esse troféu todos eu tenho até hoje e esse me marcou muito que foi na quadra da beija-flor. Nossa eu fui ovacionado nesse dia com essa roupa quando eu entrei para receber o troféu, não me esqueço e eu tenho até de frente para foto aqui uma foto gigante que eu tenho essa roupa aqui no meu quadro. Foi uma roupa que me marcou muito! E ela combinou demais aquele laranja com dourado quando o sol nasceu que foi aquele, foi durante o dia que eu desfilei então a roupa gritou muito eu acho que foi aí que chamou muita atenção, entendeu? Então eu acho que a roupa de 2004, o Astro Rei, foi a roupa que mais, eu acho que foi inesquecível sim, tá bom?

Você considera o luxo essencial para a festa? Se sim, por qual motivo?

Nelcimar Pires: Se eu considero o luxo essencial? Sim eu acho que o luxo é essencial. Eu acho que o luxo é luxo. Todas as pessoas gostam de riqueza, gostam de ver muito brilho, muito tudo em cima de uma pessoa. Eu acho que o luxo é super essencial e o motivo é que traz a riqueza para o Carnaval, né. Eu acho que o carnaval cresce muito com o destaque de luxo. Por isso que os destaques de luxo saiam dos clubes oficiais e iam para Avenida com todas as pompas e circunstâncias. Vinham para o chão, para uma avenida e eram idolatrados, e tinha cordões a volta do destaque para que ele pudesse passar numa avenida, não sei se você chegou a ver isso, já soube dessas histórias, né. Então era um espetáculo! Então eu acho que o luxo é essencial sim!

Antigamente, cada destaque vinha em uma alegoria. Hoje, com a diminuição do número de carros, isso tem sido menos frequente. Como você enxerga essa mudança? É um problema pra você dividir a atenção do público?

Nelcimar Pires: Essa pergunta é bem complicada, né? Porque no momento que nós vivemos é uma guerra de ego muito grande, né. Principalmente entre os destaques. Com essa diminuição de carros e destaque tem que se dividir, virar destaque lateral e não Central. Às vezes tem um Central e 2 laterais, mas eu acho que, por exemplo, um destaque Central é o destaque Central fica sendo como oficial. Os outros dois será que ele sabe que eles vão ser lateral? Eles tem que saber disso na hora. Você quer desfilar? Então aqui o destaque Central é Fulano. A escola tem que ver quem faz até uma melhor roupa, eu acho, eu penso assim. Porque o ego, a briga de ego é muito grande e para dividir é bem complicado, né. Porque você gasta, você vira suas noites, como já falei. Você se mata. Muitos eu sei que deixa de fazer mil coisas para poder ter que fazer o seu destaque, né. Se prejudicam até, mas faz seu destaque para depois passar ali e às vezes nem aparece o nome porque quando é um destaque lateral não aparece nem um nome numa tela de TV. Hoje nós temos até o Milton Cunha que além de aparecer o nome o Milton fala sobre aquele destaque. Então o Milton ele enaltece muito. O Milton é como se fosse um anjo da guarda dos destaques de hoje, é o que eu considero. Mas como diminuir o muito carro que hoje também tá sendo muito dividido os carros, eu acho que também diminuiu muito destaque, porque muito destaque bom já se foi. Eu acho que muito se foram, muitos deixaram de desfilar e os novos eu sinto, eu Nelcimar eu sinto, que muitos novos não querem estar sentado como eu tô sentado aqui bordando, vamos dizer com… Ah desculpa o termo a bunda doendo, entendeu? Bordando, e aqueles trabalhos repetitivos, entendeu. Muitos não querem isso. Querem fazer ali “chapô-colô”, fez, aconteceu, puxou o tecido e virou destaque, entendeu. Eu não sei se eu penso que destaque é isso para mim. Eu acho que destaque é às vezes uma roupa pequena, bem feita, muito bem bordada, com muito carinho, muita gente meteu a mão ali para poder bordar pelo menos um pedacinho, como a lantejoula, o paetê, a miçanga. São materiais nativos, vamos dizer assim, que quase ninguém ouve mais falar, mas que para mim aquilo ali é grande luxo do carnaval porque virou um, para mim é hiper luxo hoje você fazer uma roupa bordada com paetê e miçanga porque são mãos, bordado à mão. É a maior riqueza que hoje você não encontra. Então, para mim, o verdadeiro luxo tá nisso aí, entendeu? Às vezes você, com uma pequena roupa, tá mostrando mais luxo do que uma grande roupa.

Pra você o que a figura do destaque simboliza para os demais componentes da escola? E como é a relação deles com você?

Nelcimar Pires: Para mim aqui nessa sua pergunta, o que ele simboliza? Ele simboliza o enredo, a história que é contada, entendeu? Às vezes vem uma ala toda de Dom Pedro, mas o Dom Pedro principal, que tá contando a história, que tá trazendo aquela ala ou fechando a ala, é o Dom Pedro que tá no carro, que eu acho que é a maior riqueza, o maior símbolo, aonde ele tem mais foco. É como se fosse um foco direcionado naquela peça-chave, aquela peça principal. Então, o símbolo maior é aquele foco ali. É o destaque que está simbolizando a história do enredo onde vem aqueles componentes que podem estar com a mesmo segmento de roupa, mas ali são vários componentes com uma roupa. E o símbolo maior ele tá ali no isolamento, ele tá isolado sendo focado. Então eu acho que é o símbolo maior, né do enredo tá ali. E a minha relação com eles… Nossa, é a energia, é que você olha ou para trás ou olha e ver na sua frente aquela ala toda é vibrando, cantando sambando, carregando aquele enredo, aquela história que é você que naquela hora ali eu esqueço que eu sou Nelcimar, eu lembro que eu sou o rei sol, eu sou Dom Pedro eu sou aquele anjo, eu sou aquela figura que está ali que eles estão cantando. Então é como se eu ali eu sou um símbolo maior, entendeu. E sendo aquele destaque. Não sei se dá para você entender a minha, o meu jeito, né, o que eu estou falando, né.

O carnaval vem passando por uma crise financeira e muito se fala que as escolas precisam voltar às suas raízes. Você acha que a comunidade se sente representada quando vê vocês nos dias de hoje? Sentiu alguma mudança na relação entre você e a comunidade nos últimos anos?

Nelcimar Pires: Olha eu sempre soube que a alma de uma escola tá na comunidade. Eu sempre gostei de escolas que tenham uma comunidade, uma comunidade forte. Eu sempre tive um grande sonho de desfilar numa Mangueira da vida. Por conta daquela energia da comunidade, mas sei que lá na Mangueira é tudo muito difícil, tudo muito complicado. Então foi que me fez até desistir de ter que desfilar em uma Mangueira na vida, né. Mas a comunidade é tudo! E eu bato palma que eu acho que a escola que mais traz uma comunidade eu acho, eu não sei, se entender muito, porque eu sou apenas um destaque, eu acho que a Mangueira e eu bato muita palma para isso. Então a comunidade é importantíssima para uma escola. E a minha relação com eles é tirar o chapéu, a roupa inteira para esses deslumbres, esses poderosos chamado os componentes de uma comunidade, porque eles para mim é a alma da escola. Então é o meu… Como que eu falo? Ai, espera aí, como que você falou aqui? É que eu leio e vou falando, né. A minha relação com uma comunidade é essa de ver a comunidade como as grandes estrelas daquela escola, porque a escola sobrevive por conta deles, entendeu? Muitos até quando botam as pessoas que vêm de fora, turista, a escola vem fria. Não é uma escola com garra, ela não vem forte, entendeu? Então eu vejo na comunidade uma peça fundamental para uma escola de samba.

Você falou, na resposta ao Milton, sobre os olhares de contemplação da beleza pelo público. Conte mais um pouco sobre esse momento de troca entre você e quem está te contemplando?

Nelcimar Pires: Bem, aquele pequeno texto que eu mandei por Milton. Aquilo ali é assim, como eu já te falei, é uma energia muito forte em você viver aquele momento, aquela hora aquilo é uma sensação única. Todo ano é a mesma coisa que eu sinto quando dá queima de fogos, que você vai entrar na Avenida, o coração bate na boca. Então você se sente, você vira o grande rei, aquela peça, aquela pequena peça, como eu falei lá aquela peça de um quebra-cabeça. Em média de 3500 pessoas peças, né. Então você é uma peça daquelas 3500 que estão todas se unindo para poder montar aquele quebra-cabeça para poder passar em uma avenida e roubar aqueles olhares de arquibancadas, camarotes, aqueles olhares que passam em segundos e muito pouco tempo, mas que é uma admiração e um sentimento que não sei descrever. Então você olha aqueles rostos desconhecidos, aquelas pessoas que você nunca viu na vida e que estão olhando, deslumbrando com aquela visão, né que é você. Você é a grande visão. Então não dá para descrever aquilo tudo, aquele fascínio e você ser aquele glamour. Que você esquece de tudo que você passou, as suas noites mal dormidas, seus dias mal vividos, é o valor que você gastou da sua roupa, que você acaba gastando por mais que você tenha materiais, que você guarde muita coisa como eu, eu cuido muito dos meus materiais, eu trato dos meus materiais como ninguém. Então eu tenho uma riqueza! Eu tenho broches que hoje ninguém tem esses broches, que eu comprei e que hoje eu nem sei se eu consigo comprar nos lugares onde eu comprei. Tem uns que eram na antiga Silmer que nem existe mais. Eu comprava meu material na antiga Silmer era maior… Mas então eu tenho esses materiais que eu sei que eu não vou ter mais, eu não desfaço, se eu tiver que vender uma roupa eu arranco esse material e guardo, entendeu? E eu tô eu tô fazendo isso. É o que eu acho dessa sua pergunta, e respondendo à pergunta passada sobre a crise… Eu acho que a crise ela pode até acontecer… Você lembra quando a ilha do governador veio toda colorida com aquele enredo: “Colorir, Olha aí o colorir…” Aquele enredo o que tinha… Gente, foi a maior riqueza aquilo ali para mim. Aquilo ali, na crise que a escola estava passando, ninguém dizia que ela tinha uma crise naquela época, porque ela veio… Eu me arrepio só em ter que te contar, falar isso, conversar isso aí com você… Então eu acho que a crise não existe quando você tem uma grande comunidade.

Também falou que o valor do destaque está além dos valores gastos com a fantasia. Qual o valor seria esse? O que ser destaque simboliza para você?

Nelcimar Pires: O valor que eu falei ali naquele texto que eu passei para o Milton, é um valor não é só financeiro que você tem. Os seus gastos, você abre mão, como já disse, abre mão de mil coisas para poder você ter que montar o seu destaque, para você ser aquele destaque ali. Então você abre mão de muitas coisas. Inclusive, quantas noites eu deixei de estar curtindo meu verão, de estar indo a um show com os meus amigos de beber, de fazer o que eu tenho vontade de fazer, porque eu tinha que tá montando meu destaque para poder desfilar na escola. E aqui o nosso verão é maravilhoso. Então tem vários shows, vários tudo! Então eu não tenho… Eu deixava de fazer tudo isso para poder eu estar terminando meu destaque. Então o grande valor do destaque é isso aí. É o valor além de financeiro que você tem um gasto absurdo para você ser aquele destaque, para você ser aquela peça que eu te falei, aquela peça fundamental de uma escola. E que o meu simbolismo desse destaque é isso, de você ser aquela estrela fazendo jus àquele enredo que foi oferecido, que foi entregue na tua mão. Aquela história que você é como um artista, um ator de uma novela que vai representar aquele papel, ele vai olhar aquele script, ela e vai ter que encarnar, ele vai ter que ser um louco, ele vai ter que ser um pobre, ele vai ser um milionário, ele vai ser uma pessoa do mal, uma pessoa do bem, ele vai ser uma coisa que não é ele. Então eu acho que o símbolo maior do destaque é isso aí de você representar uma história, eu acho. É mais ou menos por aí.

Com quanto tempo de antecedência você chega no sambódromo? Em qual tipo de carro você chega? Quantas bolsas você carrega? Como são feitas essas bolsas? Tem pessoas para dar apoio? Na hora que chega e vê as alegorias desmontadas, de tarde, muito antes de qualquer pessoa, o que você sente? O que você pode contar desse processo de montagem e depois de desmontagem da alegoria? Sente tristeza de jogar lá de cima os plumeiros? Como é essa sensação?

Nelcimar Pires: Olha, como eu saio daqui de Campos, eu enfrento 5h30 em torno de viagem, né? Então, eu saio daqui de Campos geralmente 10 horas da manhã e vou direto para a Marquês de Sapucaí. Quando eu não vou direto, eu passo antes no barracão da escola para poder pegar alguma coisa que eu preciso ou saber de alguma coisa que ainda tem pessoas lá no barracão como todo ano eu faço, entendeu? Aí eu vou direto para avenida. Lá na avenida, eu procuro um lugar para ficar que geralmente eu fico, quando é no lado do Balança, eu fico lá naquele estacionamento que tem ali, na boca da avenida, na boca da concentração, né? Do curral, né, que a gente chama de curral de entrada. Tem um estacionamento maravilhoso que tem banheiro. Tem a TV que eu fico me controlando pela TV passando os desfiles. E ali a gente fica à vontade, a gente lancha, a gente come, conversa e fica batendo papo e ali a gente monta nossa rodinha, né, de desfile, aguardando a hora. Independente da hora da escola que geralmente é raro, eu acho que é raro de eu chegar lá que a escola é a primeira a entrar na avenida. Aí é sempre mais cedo, mas quando é da terceira escola para lá, eu sempre chego ali tipo 6h. Eu já vou descendo tudo do meu carro e vou carregando para o meu carro, o carro que eu vou desfilar. Então eu tento montar entre 6h/7h e eu deixo minha roupa montada, independente de eu estar dentro do curral ou fora, eu monto a minha roupa todinha logo e já deixo pronta e vou para me maquiar, entendeu?! Levo minhas roupas todas nas bolsas de nylon dublado para proteger. Quando é carrinho, eu não faço bolsa e tento fazer uma arrumação ali no meio do meu resplendor. Uma sacolinha dentro que eu adapto no resplendor para embrulhar bem as sacolas e saco de lixo e enfio tudo nessa bolsa, tá?! Para quando terminar o desfile, lá, porque não é a concentração e sim a dispersão. Que quando termina que você tem segundos para vir desmontando aquela roupa, porque os carros alegóricos estão indo embora. Então, às vezes, eu só vou terminar de desmontar minha roupa lá numa esquina, lá embaixo, entendeu? E, geralmente, por exemplo, eu na Imperatriz […] A Imperatriz me dá três apoios e minha mãe, como desfila também na escola, eles dão um apoio para minha mãe. Então, na verdade, eu fico com quatro apoios. E depois que tá tudo pronto nós vamos para avenida. Três ficam comigo e um fica com a minha mãe, entendeu? Mas na hora da montagem, que eu sempre gosto de arrumar tudo cedo, eu […] os quatro estão trabalhando comigo. Eu trago daqui de Campos, levo de Campos, tá? Não, não pego ninguém de lá e tudo. São pessoas que já estão totalmente preparadas aqui comigo, entendeu? Que sai daqui de Campos e quando tá um tempo complicado com chuva, alguma coisa assim, eu monto toda ferragem, todo bordado, e deixo tudo pronto lá no carro, né? E as embalagens de plumas todas dentro dos sacos de lixos amarrados e tudo em cima do carro. Quando já chego maquiado e que já está no curral e, passou um pouco a chuva, eu vou monto a plumagem toda que ainda eu tenho uma hora para poder antes de começar […] eu cálculo mais ou menos uma hora para mim, entendeu, só para botar pluma. Porque eu já tô pronto e botar a roupa eu me visto rápido. Minha roupa, graças a Deus, eu sempre faço de um modo que eu posso […] que eu me visto bem rápido, apesar de ser muito pesada, eu deixo para vestir quase no último furo, né? A desmontagem é aquela loucura, né? Desmontar roupa é como eu te disse, é como desmontar uma alegoria andando. Eu saio daqui de Campos em uma Sprinter. Eu sempre alugo uma Sprinter que fica comigo à disposição, o motorista que ele me cobra R$ 1.500. Eu pago essa Sprinter, ela fica comigo direto até terminar o desfile, para poder voltar para Campos. Terminou o desfile, catei tudo, enfiei tudo dentro do saco, joguei dentro da Sprinter que a Sprinter eu levo com reboque, entendeu? Então geralmente[…] aí eu divido parte no reboque, parte dentro da Sprinter. Eu tento colocar o máximo de coisa no reboque que o meu reboque é muito grande. Ele cabe todas as peças maiores, pedaços das armações. Tudo que eu faço é bem desmontado, mas cabe tudo no reboque para dar mais conforto aos meus auxiliares, né? As pessoas estão indo para os meus apoios para poder […] que na volta é muito cansativo, né? Porque são 5h de volta, 5h30 de volta. Aí quando chego, eu tenho que parar o carro e tirar tudo da Sprinter, botar para dentro da minha casa para essa Sprinter ir embora com Deus. E assim é durante […] foi […] são mais de 20 anos de carnaval no Rio de Janeiro, fazendo essa brincadeira de viagem, né, com relação com o carnaval. Tem que amar muito, gostar muito disso.

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