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Mocidade Alegre leva ‘Yasuke’ ao Anhembi com desfile marcado pela fantástica narrativa teatralizada

A Mocidade Alegre foi a quinta escola a se apresentar na noite deste sábado, dia 18 de fevereiro, pelo segundo dia de desfiles do Carnaval de São Paulo de 2023. O principal destaque do desfile foi a narrativa da saga do lendário “guerreiro com a força de dez homens”, o escravo levado da África ao Japão que se tornou o primeiro samurai negro da história. Um espetáculo teatralizado no melhor estilo oriental, finalizado com uma hora e três minutos. A escola do Limão levou para a Avenida este ano o enredo “Yasuke”. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Comissão de Frente

Batizada de “A miscigenação de duas culturas milenares, África e Japão”, a comissão de frente da Mocidade Alegre teve como objetivo mostrar, através de episódios da saga de Yasuke, como a união dos saberes de ambas as culturas moldou aquele que ficou conhecido como um dos maiores samurais de sua época. Apresentou personagens que compuseram o exército do Daimiô, do qual o guerreiro se tornou líder, um ator atuando como a Sabedoria Ancestral e o próprio Yasuke, que uma vez integrado à cultura japonesa, se une a outros componentes formando assim o “Guerreiro com a força de um dragão”.

O figurino foi um espetáculo à parte. As roupas dos samurais, em preto com detalhes prateados, tinham uma espécie de verniz na pintura que dava ainda mais brilho, e somado às katanas que empunhavam, formavam um belo conjunto. O que se viu na Avenida foi a representação de um teatro tradicional japonês para retratar a saga de Yasuke, com um elemento alegórico representando uma floresta de bambu servindo para alternância entre os atos. Uma comissão de frente bem diferente do habitual, mas sem exageros para poluir o visual. Excelente quesito da Morada do Samba.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Jefferson Gomes e Natália Lago se apresentaram com fantasias que representaram “Nzazi e Nzuzu, o encontro das forças sagradas”. De acordo com a mitologia banto, originária dos povos que viveram em Moçambique, que é onde Yasuke teria nascido, Nzazi é o Deus Pai da Justiça e Nzuzu, a Deusa das Águas e Senhora da Sabedoria. Simbolizaram a justiça feita a Yasuke ao ser reconhecido pelos seus valores e as águas do mar que conduziram o guerreiro ao Japão.

O casal cumpriu com as obrigatoriedades do quesito através de uma dança ritmada de acordo com o andamento dos versos do samba. O cortejo do Mestre-Sala foi feito com excelente encaixe de finalização, somado a giros bem executados e um minueto realizado um de lado para o outro. Nos pontos em que foram observados, não houve falhas de sincronia e nem problemas com o pavilhão, com o casal conseguindo superar o desafio da chuva que retornou para molhar a Avenida ao longo do desfile.

Harmonia

A harmonia da Mocidade Alegre deveria ser estudada pela NASA. Como é possível tantas pessoas cantarem forte do início ao fim de um desfile e ao mesmo tempo de maneira tão empolgada? Parece algo de outro mundo, e somado aos apagões da bateria “Ritmo Puro”, realizados em pontos diferentes do samba, são provas de como a comunidade da Morada é unida e apaixonada por sua escola. Impecável. Os 40 pontos só dependem dos jurados.

Enredo

O enredo da Mocidade Alegre visou contar a saga de Yasuke do momento em que partiu da África em direção do oriente, passando pelo reconhecimento das virtudes do guerreiro pelo daimiô Oda Nobunaga, governante da região de Kyoto no século XVI, sua ascensão ao posto de maior samurai de sua geração até os últimos registros consolidados a respeito da sua vida no Japão. O desfile se encerrou ilustrando como os jovens negros da atualidade contam com virtudes do lendário guerreiro para superar os desafios que a realidade impõe diariamente.

Quando o enredo foi anunciado, o carnavalesco Jorge Silveira garantiu que se trataria de uma mistura de Japão e África. Dados os ingredientes da receita, o que se viu na Avenida foi o contar da saga de um africano como se fosse um gigantesco teatro japonês, com atos que seriam facilmente entendidos em um desfile no famoso Carnaval de Asakusa. Yasuke teve sua história celebrada da forma mais didática possível, com seus valores humanos e de samurai honrados do início ao fim do desfile. O desfecho do desfile contou com um comovente último carro que foi adereçado com diversos bilhetes típicos das árvores dos desejo japonesas, com um portal tradicional japonês e um jovem negro brincando com um origami de pássaro, mas vestindo roupas comuns da juventude atual da periferia.

Evolução

O que a Mocidade Alegre faz quando o assunto é evolução só vendo para crer. A escola desfilou com uma grande volumetria, o desfile passou sem deixar brechas e com andar constante e límpido, e quando o último carro já passava pela Monumental ainda restavam 25 minutos para o fechar dos portões. A direção de harmonia comandada por Magno Oliveira está de parabéns, porque foi certamente a melhor escola neste quesito, com o desfile finalizando em uma hora e três minutos sem causar nenhuma preocupação com o tempo.

Samba-Enredo

Fruto da junção de duas obras finalistas do concurso realizado pela escola, o samba da Mocidade Alegre narra de maneira poética as diferentes passagens do enredo, com irreverência e exaltando os elementos mais marcantes da saga de Yasuke, como no refrão do meio que resume o momento em que o daimiô, após desconfiar da possibilidade de existir um homem de pele preta, manda seus subordinados lavá-lo e, ao se dar conta de que era real, o admira pela sua beleza e o reconhece pela suas virtudes, mostrando como podem ser diferentes as maneiras como povos podem encarar o diferente de si. O desfecho da última parte do samba retratando a simbologia de Yasuke para os jovens negros dos dias de hoje.

Junções de samba costumam ser muito contestadas quando ocorrem, e na Mocidade Alegre é uma decisão rara, com a última ocorrendo para o desfile de 2008. Mas o desfile provou que a aposta foi certeira, e o samba não apenas narrou de maneira linear o que se viu na Avenida como foi completamente abraçado pela comunidade e o público que compareceu ao Sambódromo do Anhembi. A bateria “Ritmo Puro” apostou em várias bossas e apagões ao longo de toda letra da obra, elevando ainda mais o nível do espetáculo.

Fantasias

As fantasias da Mocidade Alegre buscaram representar em sua maioria os personagens e símbolos que marcaram a saga de Yasuke. Uma exótica mistura de elementos africanos com roupagens típicas de enredos que ilustram as culturas orientais se fez presente.

A aposta se mostrou uma receita de sucesso. Fantasias que uniram luxo, facilidade de leitura e leveza para os componentes brincarem o Carnaval de maneira despreocupada. Da parte do enredo que focou na herança ancestral africana de Yasuke, a roupagem foi a esperada para um típico desfile afro. Quando o personagem desembarca no Japão, porém, o padrão das vestimentas muda completamente e passa a apresentar diversos elementos da cultura oriental de forma carnavalizada. Era muito fácil entender o que cada segmento queria contar, fazendo do desfile da Morada do Samba um excelente espetáculo visual e cultural. Destaque especial para a ala das baianas, com as mães do samba representando a Sakura, flor de cerejeira, que estavam incrivelmente belas segurando sombrinhas japonesas.

Alegorias

Os carros alegóricos da Mocidade Alegre serviram de palco para, pontualmente, narrar as passagens mais relevante do enredo proposto. Partindo do Abre-alas, “A saga de Yasuke pelos mares sagrados de Nzuzu”, que ilustrou a viagem do guerreiro para o Japão, passando para o segundo carro, “Na morada de daimiô, a pele retinta de Yasuke reluz a beleza e a verdade”, que fala do momento em que os japoneses perceberam a verdade sobre o herói e se admiraram por isso. O terceiro carro, “Yasuke, o primeiro samurai negro na Terra do Sol Nascente”, é a consagração do samurai africano que ascendeu a um dos maiores guerreiros de sua época, e finalizando com “Na memória de Yasuke, o poder da pele preta”, que simbolizou a presença de Yasuke na essência de superação de cada jovem negro.

Seguindo a mesma linha das fantasias, o Abre-alas, que de acordo com a presidente Solange Cruz foi a primeira vez que veio apenas com as cores da própria escola, era na essência uma alegoria em estilo afro. A parte japonesa do desfile nessa alegoria se limitou às tradicionais máscaras oni japonesas, em elementos rotatórios que do outro lado exibiam máscaras tribais africanas. As alegorias dois e três foram responsáveis por contar o primeiro contato dos japoneses com Yasuke e a sua consagração como grande samurai que foi. O desfile foi encerrado com uma alegoria simbolizando a inspiração da herança de Yasuke para os jovens negros da atualidade, com os bilhetes das árvores de desejo e o origami como simbologia japonesas mais marcantes. Os carros foram todos de leitura muito fácil e de acordo com a proposta apresentada pela escola. Causaram grande impacto no público pela sua beleza, principalmente da terceira alegoria que no topo continha uma maravilhosa escultura de um dragão circundando uma katana. Mais um quesito forte dentro do excelente espetáculo apresentado pela Morada do Samba.

Outros destaques

Um belo momento marcou a arrancada do desfile da Mocidade Alegre. Igor Sorriso deixou o momento aos cuidados de Didi Gomes, voz feminina da ala de canto da escola, que comoveu a todos os presentes com sua voz marcante, que já tinha se destacado nos ensaios técnicos e novamente foi um espetáculo à parte no desfile da Morada do Samba.

A bateria “Ritmo Puro”, com seu sempre impecável desempenho, contou com um capricho adicional nas fantasias. Eram duas roupas diferentes, sendo uma delas específica para os chocalhos. A Rainha da Bateria, Aline Oliveira, também ganhou um presente na forma da sua fantasia, contando com um capacete remetendo ao dos samurais mas com um mecanismo que abria e fechava a parte dos olhos.

Vale um apontamento adicional para o sensacional time da direção de harmonia da Mocidade Alegre. A confiança que eles possuem um no outro é tamanha que a comunicação flui com grande facilidade, com comandos visivelmente fáceis de entender até mesmo na preparação para os apagões. Ao mesmo tempo, os diretores de ala confiam tanto na comunidade que alguns se viram para o público, chamando os expectadores para entrar no canto. É algo de bastidores, mas que impressiona quem acaba observando.

Os componentes da Mocidade Alegre já estão mais do que acostumados a desfilarem duas vezes no mesmo ano, e com base no que a escola apresentou na Avenida em 2023 a recomendação é de que guardem bem as fantasias porque as chances de acontecer de novo são grandes. Um conjunto pleno da mais pura essência da Festa de Momo. Assistir a Mocidade Alegre faz um bem enorme para qualquer apaixonado por Carnaval.

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