InícioGrupo Especial'O carnaval sem resistência preta não existe', diz George Louzada

‘O carnaval sem resistência preta não existe’, diz George Louzada

Com o lema de luta, resistência e permanência, o artista é orgulho para todos os sambistas

Berço do samba e casa de família como referência. O coordenador da ala de passistas da Mocidade e Unidos de Padre Miguel, George Louzada, 30 anos, morador de Madureira é um dos milhares de apaixonados pela arte do carnaval carioca. Com passagens na Unidos de Bangu, Beija-Flor e Salgueiro, o artista leva na bagagem mais de 14 anos de carreira. Ele é o personagem do “Lugar de Fala” desta semana e recebeu o site CARNAVALESCO para o bate-papo. Cada sambista tem um ponto de partida, Louzada, deu os primeiros passos em casa.

“Graças a duas tias que me levaram desde muito novo a todas as escolas de samba e desfiles na Sapucaí”.

A família tem grande influência sobre as decisões dos filhos e o passista aprendeu com as matriarcas de casa o caminho da alegria. Entre outros nomes que marcaram a história do dançarino ele cita a coordenadora de passistas da Portela, Nilce Fran, e Aldione Sena.

“Duas mulheres fortes de fibra e precursoras da militância do passista. Se hoje há uma resistência na categoria de passistas devemos muito a essas mulheres que conseguiram formar um caminho para que nós hoje pudéssemos trilhar”.

E o caminho é repleto de conquistas e obstáculos enriquecedores. Em 2007 George iniciou a coordenação na ala de passistas da escola mirim Estrelinha da Mocidade. O desempenho dos trabalhos e as premiações nas apresentações despertaram a atenção dos dirigentes da agremiação. Em seguida, Louzada ganhou um espaço como passista e assumiu a ala no mesmo ano. O ponto alto foi em 2010 quando o dançarino passou a exercer a função de coordenador do grupo icônico de passistas, cargo que está há 10 anos.

“Desempenho um trabalho na Unidos de Padre Miguel há 7 anos onde conquistamos bastante espaço, até que no último carnaval assumi a função de diretor artístico, responsável por toda parte coreográfica das alas da escola”, disse o artista.

Além da influência das duas tias, o artista recebeu o impulso na mãe, Lizete Barboza, a quem ele tem um amor incondicional. “Independente, assídua e fanática, cresci com esse sentimento borbulhando em mim”, afirmou.

O apoio materno se transformou em coragem e hoje é possível enxergar um talento em desenvolvimento na história do carnaval.

“Desafios no samba enquanto preto, gay e gago foram muitos. O principal de tudo foi me fazer entender que eu posso e que isso não era um impedimento para ascensão. A cada desafio eu renovei as minhas energias para conquistar mais espaço. Junto com isso vieram prêmios, reconhecimentos, e, graças a Deus, uma linda trajetória na dança do samba”.

A cada dia uma nova oportunidade nasce no coração das pessoas e o sambista faz do seu trabalho um meio para externar todos os pensamentos e sentimentos, pois ele encontra a liberdade para se expressar. E um dos frutos dessa exposição é a força para continuar. “Dificuldades todos nós temos, cada qual no seu lugar, a sua dificuldade será maior para você, assim como a minha será maior pra mim, e assim sucessivamente”.

Em 2020 o Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP-RJ) divulgou um dossiê de crimes raciais que apontou a Zona Oeste do Rio como a região com a maior concentração de ocorrências racistas. Nos períodos entre 2019-2020, mais de 1,7 mil pessoas sofreram ataques à cor de pele, o formato do nariz, o tipo de cabelo e as diferenças religiosas.

A prática diária não conta com os casos que são subnotificados, ou seja, onde a vítima não faz um Boletim de Ocorrência. O diretor da ala de passista da Mocidade, George Louzada, sentiu na pele as consequências deste ato no ano passado. “Dentro da escola de samba não, mas vivi um caso de racismo dentro da rede de supermercado Multi Market, em agosto do ano passado, sido na luta por justiça nos tribunais”.

Com o lema de luta, resistência e permanência, o dançarino da verde e branco não parou com os projetos. Um deles é o Passos da Zona Oeste na quadra da Unidos de Padre Miguel que prepara diversas pessoas para os desfiles.

“Nós pretos temos que estar a todo instante mostrando nosso valor e assim o faremos”.

Fã de ensaios, feijoadas, shows, viagens e eventos, Louzada, sabe aproveitar os momentos e exige de si mesmo nas atividades realizadas. “Eu me cobro muito em tudo que faço, o perfeccionismo me atrapalha muito, precisei trabalhar isso dentro de mim”.

O comportamento do dançarino faz parte da rotina de homens negras e mulheres negras que se cobram para ter um futuro melhor, conquistar o lugar desejado e alcançar os objetivos. “O único momento que meus olhos brilham, é na hora dos fogos e do grito de guerra na voz do Wander Pires, depois disso eu desligo, e só ligo novamente na dispersão”.

O forte vínculo com a área artística abriu novos caminhos. Biólogo de formação e atuante na indústria da moda, Louzada, trabalha como motorista de aplicativo e ministra aulas online para alunos de fora do Brasil. As aulas de samba no pé não tem um tema específico, mas usa a escola para ensinar o samba ao público de 06 a 60 anos em média. ”Todo ano levamos uma lição não só para avenida, nesse período o maior aprendizado está sendo o de solidariedade e empatia”.

Sobre o relacionamento com Maycon Francisco, Louzada é seguro e respeitado. “Nunca sofri preconceito, já senti olhares de pessoas, mas acredito que diante da minha posição no carnaval não falaram nada. Mas, em sua grande maioria, tanto meus superiores quanto amigos sempre se mostraram muito solícitos e amáveis com meus relacionamentos”, finaliza Louzada.

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