A Paraíso do Tuiuti foi novamente para a rua, na noite da última segunda-feira, e tomou conta do Campo de São Cristóvão para realizar seu segundo ensaio do tipo visando o Carnaval de 2024. Já passava das 22h quando a tradicional queima de fogos tomou conta do céu, marcando o início de mais um treino, que teve uma duração de pouco mais de uma hora. Os principais segmentos estiveram presentes no encontro, que teve como grandes destaques o desempenho espetacular da bateria “Super Som” e o canto aguerrido da comunidade. No ano que vem, o Tuiuti será a quinta escola a cruzar o Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro, pelo Grupo Especial. Na ocasião, a azul e amarela apresentará o enredo “Glória ao Almirante Negro!”, uma homenagem ao marinheiro João Cândido, que atuou na liderança da Revolta da Chibata. O desenvolvimento do tema é do carnavalesco Jack Vasconcelos.

Fotos: Diogo Sampaio/CARNAVALESCO

“Esse segundo ensaio foi sensacional, ainda melhor que o da semana passada. E a tendência é essa, pois vamos lapidar o nosso trabalho para chegarmos em janeiro com ele pronto. Isso vai acontecer aos poucos. Hoje já ocorreram algumas novidades, como o mestre Marcão executando a bossa dele bem melhor, comissão de frente simulando as apresentações nos módulos de julgamento, enfim várias coisas diferentes na comparação com o primeiro treino. Então, a partir de agora, é aperfeiçoar esse trabalho. Temos um samba muito bom, muito fácil de se cantar, bem tranquilo. Prova disso é que toda a comunidade cantou muito hoje. Além disso, a evolução foi perfeita, com os componentes soltos, brincando, conforme era de fato a nossa ideia”, analisou André Gonçalves, diretor de carnaval do Paraíso do Tuiuti, em entrevista concedida para a reportagem do site CARNAVALESCO.

Comissão de frente

De volta ao Paraíso do Tuiuti depois de uma rápida passagem pela Estação Primeira de Mangueira, a coreógrafa Cláudia Mota, que irá dividir em 2024 a responsabilidade da comissão de frente com Edifranc Alves, trouxe uma apresentação para o ensaio de rua marcada pela teatralização e pelos passos marcados. Nela, o grupo formado por 11 integrantes, sendo três mulheres e oito homens, realizava movimentos que traduziam em dança a história contada pela letra do samba. O ponto alto ocorria quando uma das componentes era erguida e se jogava de costas, sendo segurada pelos outros. Essa performance completa foi feita pelo menos três vezes no decorrer do treino, durante as paradas que simulavam as cabines de julgamento.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Em seu terceiro trabalho consecutivo como defensores do pavilhão principal da agremiação, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane apostou na simplicidade neste segundo ensaio de rua. Com relação ao figurino, os dois vieram com camisas da escola. Na parte de baixo, ela apostou uma saia longa na cor azul e ele em uma calça social cumprida na mesma tonalidade. Já na dança, a dupla apostou em um bailado mais tradicional, com um ritmo mais cadenciado em comparação ao estilo intenso característico do casal. Eles demonstraram bastante sincronia, com movimentos precisos e gestos longilíneos. Em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO após o término, os dois fizeram um balanço desse treino no Campo de São Cristóvão e explicaram a decisão de não realizarem as coreografias que estão preparando para o carnaval do ano que vem.

“Ensaio de rua é sempre bom para a gente pegar ritmo, testar alguns movimentos para incluir na coreografia, mas hoje não fizemos nada daquilo que estamos trabalhando nos últimos meses. Esse ano a gente resolveu não mostrar, fazer um pouquinho mais de mistério. Então, usamos esse ensaio, basicamente, só para vir testando coisas aleatórias, que nós dois e todos aqueles que estão envolvidos na nossa preparação vão entender, mas que quem vê de fora não consegue. A nossa intenção é essa, pelo menos momentaneamente. No entanto, cedo ou tarde teremos que ensaiar com a nossa coreografia, não tem jeito, mas isso é algo para ser discutido só lá para frente”, afirmou Raphael.

“Foi um ensaio muito bom. Diferentemente do primeiro, a gente fez as cabines virando para se apresentar, por exemplo. E apesar de, como o Raphael mesmo frisou, a gente não ter feito a nossa coreografia, conseguimos testar algumas coisas, algumas ideias que surgiram ao longo dos nossos ensaios fechados. Então, foi um bom termômetro para gente. É bom poder fazer gradativamente. Como a gente teve o samba antes, tivemos bastante tempo para testar outras coisas, deixar a coreografia ali um pouquinho guardada, sem aparecer muito aqui no ensaio de rua. Somente lá na frente, quando essa coreografia estiver quase que totalmente pronta, é que a gente vai apresentar ela para o público”, complementou Dandara.

Samba-enredo

Após realizar disputa de samba nos dois últimos carnavais, o Paraíso do Tuiuti decidiu para 2024 voltar a apostar suas fichas no modelo de encomenda. Para isso, a escola recorreu a um time estrelado de compositores, bastante conhecidos da casa, formado por Cláudio Russo, Moacyr Luz, Gustavo Clarão, Júlio Alves, Alessandro Falcão, Pier Ubertini e W Correia. O resultado foi uma obra de excelente qualidade, tanto em letra quanto em melodia, que tem crescido de rendimento a cada etapa, mantendo essa tendência neste segundo ensaio de rua. A performance segura do intérprete Pixulé, já extremamente entrosado com os demais cantores do carro de som, se mostrou um dos fatores principais para essa evolução. Aliado a isso, a ousadia da bateria, que usou e abusou das bossas e convenções, trouxe um brilho a mais para composição e contagiou boa parte dos presentes no Campo de São Cristóvão.

Harmonia

Depois de perder pontos preciosos no quesito em 2023, o Tuiuti está fazendo a lição de casa para corrigir as falhas e esse trabalho já demonstra seus primeiros resultados. Mesmo com a temporada de ensaios de rua ainda em sua fase inicial, é notório o crescimento do canto da agremiação em comparação aos anos anteriores. Prova disso é que em todas as alas foi possível observar a maioria dos componentes entoando o samba. Como destaques, as baianas se sobressaíram como um dos cantos mais fortes da escola; assim como a última ala, que chamou a atenção por ter esse afinco mesmo estando longe do carro de som. Na obra em si, vale mencionar como os pontos de maior rendimento o refrão principal, com os versos “Liberdade no coração/O dragão de João e Aldir/À Cidade em louvação/Desce o Morro do Tuiuti”, e a subida para ele, especialmente o trecho “Salve o Almirante Negro/Que faz de um samba enredo/Imortal!”.

Evolução

Ao longo de mais de uma hora de ensaio de rua, o Paraíso do Tuiuti manteve uma evolução solta e leve, sem registros de problemas graves. Apesar dos componentes estarem mais livres dentro das alas, não houve embolamentos, nem a abertura de clarões significativos. De um modo geral, o ritmo adotado foi um pouco mais cadenciado, com momentos pontuais de parada que ocorreram justamente durante as apresentações da comissão de frente e do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira nas cabines simuladas de jurados. Vale mencionar também que a entrada e na saída da bateria no recuo aconteceu de forma tranquila, sem abrir buraco ou causar transtornos.

Bateria

Um dos maiores destaques desse segundo ensaio de rua do Paraíso do Tuiuti foi a bateria “Super Som”. Os ritmistas comandados por mestre Marcão tiveram uma atuação arrebatadora, contagiando componentes e espectadores. Tal performance foi fundamental para o bom rendimento do samba-enredo. Ao todo, seis bossas foram executadas durante o treino, além de terem sido explorados alguns desenhos e nuances a partir da letra e da melodia do hino oficial. Um exemplo disso ocorria no primeiro verso do refrão principal, “Liberdade no coração”, em que a batida do órgão era simulada.

“A resposta positiva do componente da escola, do público que está assistindo, é algo muito gratificante, assim como ver a rapaziada da bateria focada naquilo que a gente vai fazer na Avenida. Tivemos algumas mudanças em relação ao primeiro ensaio, algumas pontas soltas que hoje amarramos, e o resultado ficou maneirinho, legal para caramba. Ainda coloquei mais algumas coisinhas ali, algumas maluquices minhas, umas ideias que surgiram na hora, e ficou bem bacana. É bom quando os caras abraçam a causa, pois é aí que a coisa flui melhor. Então, graças a Deus, estamos trabalhando duro, evoluindo a cada dia e a cada ensaio, e vamos embora. Só tenho que agradecer a essa rapaziada, a toda a minha diretoria pela dedicação deles e ao comprometimento que estão tendo com o trabalho”, avaliou mestre Marcão em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, logo após o ensaio.

O comandante da “Super Som” ainda assegurou que esse trabalho realizado nos ensaios de rua será extremamente o mesmo que levará para o desfile oficial. “É com essa pegada aí que vamos para a Avenida. Estamos trabalhando com 142 BPM (batidas por minuto) e está bom para caramba. Acho que agora está se encorpando, o samba está funcionando bem, as pessoas estão ouvindo mais, os próprios ritmistas estão assimilando o que a gente quer, qual é o propósito daquilo dali, entendeu? E, graças a Deus, está fluindo tudo, até melhor que o planejado”, relatou mestre Marcão.

Outros destaques

A rainha de bateria Mayara Lima é sempre uma atração à parte quando se trata de Paraíso do Tuiuti. Com um figurino simples, um maiô vazado na cor dourada, a beldade atraiu todos os holofotes para si durante a sua passagem no ensaio de rua, seja pela sua simpatia ou por seu irretocável samba no pé. A interação dela com os ritmistas também chamou bastante atenção, tendo seu ápice no momento em que Mayara sambava de forma sincronizada com as bossas e desenhos executados pela bateria “Super Som”.