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Paraíso do Tuiuti faz enredo politizado, a favor da resistência e disputa por uma vaga nas campeãs

Por Vinicius Vasconcelos. Fotos: Allan Duffes e Magaiver Fernandes

O Paraíso do Tuiuti veio para o carnaval de 2019 com a missão de superar o vice de 2018. Graças ao seu último desfile, onde impactou a todos os presentes com sua beleza plástica somada a crítica social, os holofotes desse ano se voltaram para a escola de São Cristóvão, que abordou novamente um enredo politizado. “O Salvador da Pátria” trazia a história do bode Ioiô com alusão a um certo político brasileiro “nordestino, barbudo, baixinho, de origem pobre, amado pelos humildes e por intelectuais”, como bem diz a sinopse. E ainda fazia uma crítica ao atual governante do país dizendo que o povo “iria conhecer um mito de verdade”. O bode, que viveu em Fortaleza no século passado, se tornou uma figura histórica da cultura cearense. A história conta que o protagonista e fio condutor do enredo foi eleito vereador em 1922 como forma de protesto a política local. O bode que hoje está empalhado num museu, virou um tema muito bem contado e conquistou os presentes na Marquês de Sapucaí.

Um bom desfile foi feito pela escola, mas sem a chance de credenciá-la ao título. Ainda não será esse ano que a comunidade de São Cristóvão levará o troféu. Erros pontuais em evolução e alegoria gerados pela dificuldade do carro em entrar na avenida podem fazer a escola perder décimos que farão falta. Além disso, o enredo deixou uma sensação de que a qualquer momento as cutucadas indiretas a políticos seriam mais agressivas colocando realmente o “dedo na ferida”. Porém, isso não aconteceu.

Comissão de frente

O estreante Felipe Moreira elaborou uma coreografia com passos de balé e movimentos leves. Na apresentação os políticos e coronéis vendiam a cidade num palanque de praça e em seguida sofriam represália dos moradores do lugarejo. Em meio a discussão dos políticos x população surgia um dos dançarinos vestido de bode com rodinhas nos braços e nas pernas. Ao aparecer, ele espantava os políticos larápios que iam correndo para o centro da praça. Ao subirem no tripé percebiam a fama do Ioiô e caíam um por um até o bode surgir no meio deles com a faixa presidencial. Os políticos então retornavam e retiravam a faixa empurrando o vencedor para a população que o aclamava. Durante a passagem nos módulos a comissão foi ovacionada pelos presentes e aplaudida pelos jurados nas cabines.

Mestre-sala e porta-bandeira

Trajados com fantasias nas cores do sol escaldante nordestino, elaboradas com faisões amarelos e laranjas, Marlon Flores e Danielle Nascimento executaram o bailado de forma perfeita. A porta-bandeira usou e abusou das caras e bocas e o rapaz riscou o chão com seus passos. Sob as bençãos do cisne da passarela, Vilma Nascimento, mãe de Danielle, o casal não passou por problemas nas apresentações que ainda contou o samba na ponta da língua. No trecho “O Tuiuti me representa” ambos batiam no peito como forma de declaração de amor a escola e ao momento que estão vivendo como defensores do pavilhão azul e amarelo.

Harmonia

A escola lançou a moda no Grupo Especial de encomendar samba e seguiu a fórmula para esse ano. Essa escolha fez com que tivessem mais tempo de ensaio e consequentemente um chão mais potente. O canto forte dos componentes deve muito a qualidade do samba-enredo e a vontade do integrante de afirmar novamente que 2018 não foi por acaso. As alas cantaram com muita gana e conquistaram o público. Nas paradinhas feitas pela bateria durante refrão principal a Sapucaí vinha abaixo cantando muito forte. Apenas no quarto módulo quatro de julgamento foi onde se percebeu uma leve queda no canto da comunidade.

Samba-enredo

Celsinho Mody e Grazzi Brasil se firmaram mais uma vez como os dois grandes acertos provenientes do carnaval paulista. O rendimento positivo da obra se deu muito pela magnífica execução dos cantores que cantam juntos pelo segundo ano consecutivo. O timbre suave dela foi somado a voz mais firme dele e resultou em um excelente desempenho. Atrelado aos cantores principais, soma-se o time de canto e cordas que os acompanhavam. E ainda a bateria Supersom de mestre Ricardinho que ousou nas bossas sem perder o entrosamento com a equipe musical.

Evolução

Tudo ocorria de maneira perfeita no desfile do Tuiuti até que a última alegoria a ser posicionada na avenida não conseguia ser alinhada de maneira perfeita. Pouco antes do primeiro módulo de julgamento um buraco de grandes proporções se formou, podendo prejudicar a escola na avaliação do quesito. Houve correria entre os empurradores de carro até conseguir alinhar o carro com perfeição. A partir daí, o desfile voltou a desenvolver sem erros no chão da escola. Apesar dos problemas a escola concluiu seu desfile com tempo de 1h14.

Enredo

O enredo começou sendo contado seca nordestina. Um sertão em nas cores avermelhadas e laranjadas deram o tom no primeiro setor da escola que impactou pelo belo conjunto visual. Foi muito mais do que a história do bode e sim uma cutucada leve na atual conjuntura política brasileira. Se esperava um pouco mais a partir do que foi lido na sinopse no que se refere a apontar o dedo nas feridas abertas provenientes da corrupção, por exemplo.

As críticas mais pesadas vieram apenas em algumas alas pontuais como a 29ª que trazia um embate entre o bode da resistência, com seu punho serrado, e a coxinha ultraconservadora com armas em punho. O último carro da escola foi o grito contra o autoritarismo. Ativistas das minorias estavam presentes e entre eles havia a frase “Quem mandou matar Marielle Franco”.

Fantasias

Um Paraíso bem vestido passou pela avenida. O bom gosto do carnavalesco deu a escola fantasias de fácil leitura e um verdadeiro tapete visual quando visto de cima. No segundo setor a ala “Vendedores do mercado” chamava atenção pelo volume impactante. A vigésima segunda, “Mamulengo Coronel” também impactava. Em geral as fantasias eram bem acabadas e seus artefatos não caíam pela avenida.

Alegorias

Um enorme e impactante abre-alas mostrou aos presentes que um volumoso conjunto de alegorias estava por vir. O sertão cearense foi palco para os bichos criados em formas de xilogravuras. Destaque para o uso das cores durante as cinco alegorias. Devido a dificuldade de fazer o último carro entrar na avenida, o mesmo passou pela Sapucaí sem a parte lateral. Problemas de acabamento em alguns detalhes foram visto nessa alegoria que ainda assim foi um ponto alto devido aos seus destaques que estavam em cima. Nos fundos do carro a frase “Ninguém solta a mão de ninguém” arrancou aplausos por todos os setores.

Outros destaques

Antes de iniciar o desfile o presidente Renato Thor fez seu discurso e garantiu a escola na briga pelo título. Após dizer a frase “Nós somos do tamanho dos nossos sonhos” o mandatário foi ovacionado pelos sambistas nos primeiros setores. O craque Júnior, ex-jogador do Flamengo desfilou ao lado do carro de som e cantava o samba de maneira fervorosa.

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