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Plástica do Salgueiro se destaca por beleza, mas gigantismo das alegorias gera problemas de evolução

Comissão de frente e casal são outros pontos altos da noite, mas enredo teve leitura difícil

Na estreia do carnavalesco Edson Pereira, a Academia do Samba trouxe carros enormes, com ótimo apuro visual, fantasias com a mesma excelência estética e com grande acabamento e volume, mas o gigantismo das alegorias causando problemas de evolução como a constituição de clarões na pista e uma escola por muito tempo parada. A comissão de frente coreografada por Patrick Carvalho foi um ponto alto da noite, assim como o casal de mestre-sala e porta-bandeira Sidclei Santos e Marcella Alves. A leitura do enredo nas fantasias e alegorias e seu desenvolvimento lógico gerou dificuldades para o público. Quinta escola da primeira noite do Grupo Especial, o Salgueiro apresentou o enredo” Delírios de um paraíso vermelho”, encerrando seus desfile com 1 hora e 10 minutos. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Comissão de frente

O coreógrafo Patrick Carvalho trouxe para a Sapucaí a comissão de frente intitulada “o julgamento” . Na apresentação, uma cidade de sombras se levanta e vivos enterrados em seus próprios corpos, soterrados pela censura e culpa, vagueiam inertes , manipulados por uma figura assombrosa, um grande juiz a sentenciar aos túmulos, representada por uma figura encapuzada a frente do enorme elemento cênico que representava um cemitério. Arlequins, pierrots, colombinas sem as cores, apareceram solitários no meio de uma multidão apática. Um ator representando João Trinta foi quem enfrentava as ameaças da morte. No elemento cênico, as tumbas se abriam e os corpos levitavam em um grande truque que levantou a Sapucaí.

No final, no embate entre a morte e João Trinta, o carnavalesco parece ser engolido pela figura nefasta, mas se libera e em outro truque, o personagem saí de dentro da capa vazia do monstro encerrando a comissão que fez uso da iluminação cênica da Sapucaí, valorizando bastante a iluminação do próprio elemento alegórico. A comissão apresentou uma concepção próxima com a forma que Edson retratou em todo o desfile, esse embate com a intolerância, com os pré-julgamentos. De uma forma que trazia bastante o sobrenatural e as referências do terror como a própria morte. O efeito foi um ponto alto da comissão e o apuro visual das fantasias e do elenco cenográfico foram destaques também.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Juntos na Academia desde 2014, Sidclei Santos e Marcella Alves vieram representando ” O Jardim das delícias celestes”. O figurino indicou a profusão tropical que floresceu no paraíso, um jardim de delícias, de flora extravagante. A fantasia de ambos possuía um vermelho vibrante, contrastado ainda em cores cítricas no amarelo e laranja. A apresentação foi marcada pela sincronia e entrosamento de sempre, entendimento no olhar. Rodopios muito intensos de Marcella e passos bastante eficientes e também intensos de Sidclei. Em alguns momentos a dupla pontuava alguns trechos do samba como o “basta”, “chega” e “aviso”. No momento da apresentação do segundo modulo havia muito vento, mas a porta-bandeira usou a experiência e dominou a bandeira de forma eficiente, mantendo a excelência da apresentação. Uma apresentação irretocável.

Harmonia

A comunidade do Salgueiro mais uma vez mostrou que comprou a briga pelo samba, muitas vezes criticado no carnaval. Se o canto não foi tão arrebatador como no ensaio técnico, muito menos foi problemático. No geral as alas cantaram o samba o tempo todo, com mais de intensidade nos refrões principais. Uma ou outra pessoa nas ala passava sem cantar, o que não se configura em problema.

Destaque para a alas do segundo setor como as alas “te devoro” e “noites de magia e luxúria”. No quarto setor o destaque foi para ” todes a bordo” e no encerramento a ala de compositores. Comissão e casal também cantaram. Sobre o carro de som, o time de vozes de apoio da Academia garante a tranquilidade para que o Emerson possa se soltar e ser o intérprete que motiva bastante a escola, sem perder a correção musical.

Enredo

O Salgueiro investiu em uma fábula sobre um novo paraíso para discutir igualdade. A escolha do enredo teve como proposta a retomada de um lirismo artístico narrativo estético. O conceito do projeto foi transportar o espectador ao campo dos sonhos, onde será orientado para encontrar o seu desejo particular de paraíso, a partir de suas vivências. Através da divisão de setores, inicialmente a escola trouxe o paraíso original, o jardim do Éden. Em seguida, foi representado a luta do bem contra o mal se intensificando a partir das provações que é submetido o ser humano, daí os sete pecados originais.

Seguindo, o enredo apresentou as escolhas dos homens tendo por consequência o início do juízo final. A partir do quatro setor, a escola propôs o fim dos tempos como um recomeço, louvando aqueles que foram os excluídos. O quinto ato deste desfile levou a chegada a um delirante paraíso vermelho em ritmo de festa. A proposta é interessante, e a mensagem contra intolerância e pré -julgamentos é importante. Mas em alguns momentos faltou um pouco de leitura das fantasias. Algumas propostas de fazer a comparação entre os problemas reais e o lúdico, acabaram de limitando ao lúdico. Como por exemplo o carro número quatro que era barca do renascimento, que visava trazer a luta por direitos e inclusão, mas a alegoria apresentava muito mais a fábula do Caronte, e pouco esta mensagem.

Evolução

A evolução da escola foi bastante conturbado devido ao gigantismo dos carros que tiveram dificuldades de entrar na Sapucaí. Logo no início, a ala a frente do abre-alas se deslocou próximo ao segundo módulo de julgamento e o carro continuou parado, gerando buraco. No terceiro módulo aconteceu o mesmo. Outro problema, mas no primeiro módulo, na entrada do segundo carro na Sapucaí, a ala logo a frente também andou e gerou buraco porque a alegoria teve dificuldade para evoluir em seu início de desfile.

Por conta dos problemas de carro e por uma apresentação mais demorada da comissão de frente, a agremiação ficou muito tempo parada. Problemas com a saída nos carros na dispersão também contribuíram para a lentidão. Já no final, a evolução chegou a ficar um pouco mais corrida, normalizada no momento que a bateria saiu do segundo recuo com uma 1h03 de desfile.

Samba-Enredo

A obra de Moisés Santiago e companhia possui uma melodia que foi de fácil assimilação pelos componentes e por quem estava ouvindo no geral, por possuir uma linha melódica bem evidente. O samba claramente trabalha muito para concentrar o ápice, ou a “explosão” em seus refrões, tanto o principal “Vermelha Paixão Salgueirense” que concentra mais sua temática na valorização da própria escola, quanto o “No meu sonho de rei” , que introduz um tom mais dramático e de súplica, desejo.

A música teve um bom rendimento pelos componentes no geral, mas não interagiu muito com o público e o canto não chegou a a se expandir para fora da pista. Destaque também para o trecho do “basta! De violência e opressão/ chega de intolerância” , cantado com bastante vitalidade pelos desfilantes. Mas para uma obra que foi muito criticada no pré -carnaval, seu desempenho foi satisfatório com a força da comunidade.

Fantasias

O conjunto estético do Salgueiro teve muito apuro visual por parte do carnavalesco Edson Pereira, com a utilização de matérias de qualidade, criatividade, bom uso de cores e produzindo na pista bastante volume. A paleta de cores variou em alguns momentos mais dramáticos do enredo quando a temática falava dos sete pecados capitais e do quarto setor “louvados sejam os excluídos” que trabalhavam com tons mais escuros.

No quinto Setor que valorizava a escola, o colorido voltou. Um dos destaques no uso de cor foi a ala “todes a bordo”, ainda no quarto setor que valorizava a comunidade LGBTQIA+. O problema das fantasias no desfile foi a leitura, algumas alas não era tão fácil a identificação do que elas representavam.

Alegorias

O conjunto alegórico do Salgueiro foi composto de 5 carros. O carro abre-alas da Academia chamava bastante atenção pelo tamanho, quase 100 metros, três chassis, o maior que deve passar por este carnaval. A alegoria apresentou a representação do Jardim do Éden, inicialmente destacando sua exuberância tropical colossal, mas também narrando a partir do primeiro homem e da primeira mulher a jornada da humanidade. A alegoria também apresentou uma intensa guerra entre o Reino dos céus e os anjos caídos e trouxe uma enorme serpente, tendo três maçãs enormes a sua frente. Apesar de muito bonito o carro teve problemas de deslocamento e tinha algumas questões de acabamento, nada que prejudicasse seu bom aspecto visual.

A segunda alegoria “a batalha épica do bem contra o mal” apresentou a eterna disputa entre os anjos fiéis aos preceitos divinos e a horda de anjos caídos. A alegoria foi representada em forma de catedral. O quarto carro trouxe “a barca do renascimento” com um enorme Caronte, apresentando uma grande festa das almas onde os descartados pela sociedade irão desfrutar da plena igualdade de direitos.

A última alegoria da Academia “Vermelha paixão em uma paraíso delirante” fecha o desfile recebendo as almas do firmamento ao toque de marchinhas. Está alegoria teve problemas de iluminação já no último módulo de julgamento. No geral um desfile com alegorias bem trabalhadas, enormes, no conceito do carnavalesco Edson Pereira, mas que geraram dificuldades em sua entrada, passagem e saída da pista.

Outros destaques

As baianas, primeira ala da escola, representaram as raízes que cortam o solo como veias profundas que sustentam a força, a resistência, e a beleza da flora que se espalha pelos campos. Os passistas “linha de frente da infantaria” era a linha de combate que abre o campo de batalhas com a responsabilidade de conduzir as tropas ao confronto direto. A furiosa dos mestres Guilherme e Gustavo vieram de “marechal do exército vermelho”, representando a mais alta patente das forças armadas. E a rainha Viviane Araújo “a gladiadora” reinou absoluta na linha de frente dos ritmistas. O intérprete Quinho, que esse ano não pode estar a frente do carro de som oficialmente por conta de problemas de saúde, deu o grito de Guerra e foi ovacionado pela Sapucaí. O mascote Sabiá veio a frente da escola, antes do desfile.

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