InícioGrupo EspecialGrande RioProblemas em evolução comprometem belo desfile plástico da Grande Rio

Problemas em evolução comprometem belo desfile plástico da Grande Rio

Conjunto alegórico tem problemas com iluminação, enredo tem boa leitura e Evandro Malandro é destaque no canto

Pela primeira vez na história a Grande Rio entrou na Sapucaí para defender um título. Mais uma vez a plástica da dupla Leonardo Bora e Gabriel Haddad impressionou com acabamentos primorosos e soluções fora do lugar comum, além da fácil leitura. Porém, a escola teve muitas falhas em evolução, abriu buracos, além de problemas com a iluminação do segundo carro e do segundo tripé. O samba, em noite inspirada do intérprete Evandro Malandro, foi um ponto alto da noite com bom canto da comunidade e do público. Com o enredo “ Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, para te ver, para te abraçar, para beber e batucar!”, a Grande Rio foi a segunda agremiação a desfilar na primeira noite do Grupo Especial, encerrando seu desfile com 1h09. * VEJA FOTOS DO DESFILE

Comissão de frente

A comissão de frente “Poetas da vida, Poetas do samba”, coreografada por Hélio e Beth Bejani, trouxe malandros e cabrochas da antiga, ocupando a pista e revelando, com o dançar que risca o asfalto, diferentes facetas do universo musical de um artista tão múltiplo como Zeca Pagodinho. Em seguida, a partir da apresentação de uma componente vestida como criança e com um ursinho de pelúcia, a comissão adquiriu um tom infantil, simbolizando o espírito irrequieto dos erês, protetores de Zeca, e da própria obra musical do artista, na qual a infância é personagem principal.

LEIA MATÉRIAS ESPECIAIS DO DESFILE
* Grande Rio leva a essência do subúrbio para a avenida
* Baianas da Grande Rio fizeram uma homenagem as benzedeiras
* Cacique de Ramos e Bafo da Onça: rivalidade entre os blocos é representada na bateria da Grande Rio
* Confiantes, componentes da Grande Rio acreditam no bicampeonato
* Comunidade da Grande Rio abraça Zeca Pagodinho e enaltece a importância de sua homenagem
* Grande Rio representa a infância de Zeca em seu segundo carro

O desenrolar da apresentação seguiu em uma espécie de resumo do enredo, passeando por diferentes lugares de afeto do homenageado, traçando uma relação intrínseca do homenageado com a Bohemia e a religiosidade, que se fundem na vida e obra de Zeca. A comissão tem seu ápice culminando na Alvorada de São Jorge, o Santo Guerreiro que, na discografia de Zeca, sempre é associado a Ogum. O elemento cênico, que acendia o chão onde se desenrolava a apresentação principal da comissão, era uma grande pracinha com mesas de bar e uma igrejinha no final. No ápice da apresentação, um componente representando Ogum, em cima de um cavalo, saía do teto da pequena igreja. Em geral, é de se elogiar uma comissão por uma coreografia que apresentou muita dança, samba e a beleza do bailar mais voltado para a gafieira. A comissão também explicou o enredo, mas o clímax não chegou a ser algo que trouxesse grande surpresa de que assistia.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Werneck e Taciana Couto, posicionados logo após a comissão de frente, apresentaram o figurino denominado “Vestidos e armados com as armas de São Jorge”. A dupla, usando as cores da escola, representou um misto de oferta e agradecimento, com a fantasia evocando armaduras e um imaginário guerreiro de Jorge e Ogum, santos que não fogem das batalhas, enfrentando os dragões do dia a dia. Daniel segurava uma pequena espada que ajudava a dar o tom da fantasia e era usada na coreografia.

Em termos de dança, a dupla mais uma vez mostrou bastante intensidade de movimentos, com Taciana realizando muitos rodopios e Daniel apresentando passos com grande apuro e velocidade. A sincronia dos dois foi um ponto alto e a delicadeza e até sensualidade, principalmente no final quando Daniel beijava a mão de Taciana. A dupla ainda apresentou alguns passos relacionados as raízes de matriz africana, apresentando o sincretismo do enredo, São Jorge e Ogum, principalmente nos trechos do samba que relatavam essa relação. Nestes momentos, os guardiões mais uma vez também fizeram passos discretos que não atrapalharam a dupla e provocaram um bonito efeito. Nada a relatar sobre falhas ou desencontros.

Harmonia

A comunidade caxiense manteve o rendimento alto do canto durante todo o desfile e em todos os setores. Não se percebeu alas com integrantes sem cantar. O samba parecia estar bem agradável aos componentes que cantavam com felicidade, nem precisava aquele famoso incentivo que os diretores de harmonia fazem aos componentes.

Destaque para as alas ” quem vai pela boa estrada”, do primeiro setor, “nas mandingas que a gente não vê “, segundo setor, ala das baianas, passistas, e mais para o final da escola “preservação das raízes”. Desde 2019 no comando do carro de som da Tricolor de Caxias, Evandro Malandro vem evoluindo a cada ano e já é um dos grandes intérpretes do Grupo Especial. Uma ótima aposta da Grande Rio lá atrás que já vem dando frutos nos últimos anos. Fez um desfile irretocável com precisão musical, intensidade e conseguindo chegar ao componente. Destaque para as vozes de apoio que também primavam pela criatividade e correção musical.

Enredo

O enredo “Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, para te ver, para te abraçar, para beber e batucar!” em formato de crônica, tomou como premissa o espaço de tempo lúdico de um dia mágico, realizando uma busca pelo Zeca. Nesta procura pelo homenageado, o desfile percorreu territórios e círculos simbólicos, espaços de afeto que possuem conexão com a obra, a biografia e o modo de vida do artista. Baseado na música “Zeca, cadê você?”, a escola apresentou alguns signos importantes da vida do cantor como sua relação com a religiosidade procurando o artista na Alvorada de Jorge, em terreiros, capelas e igrejinhas.

Em seguida, partindo das lembranças infantis do homenageado, fazendo referência a relação com São Cosme Damião e os doces. A relação com a música, o Cacique de Ramos e o Bloco Bohêmios foi apresentada em seguida. Depois retratou o subúrbio e a Baixada, com o final do desfile realizando uma grande celebração do homenageado, sua relação com o carnaval e mais especialmente a centenária Portela. No geral, um enredo de fácil assimilação, identificado com o carnaval e exposto de forma criativa e bem desenvolvida.

Evolução

O grande problema da Grande Rio esteve neste quesito. A escola apresentou buracos tanto no primeiro módulo quanto no segundo. Na primeira cabine de julgamento que é dupla, a bateria iniciou sua apresentação mas a ala de passistas andou e deixou um clarão na pista em um momento crucial. Já na segunda cabine de julgamento, o tripé ” Minha Fé” travou na pista e gerou um buraco em relação a ala da frente “Hoje é dia de todos os Santos”, que já tinha andado.

Além disso, a comissão e o casal apostaram em uma apresentação mais demorada, além de uma passada do samba e a escola em alguns momentos ficou muito tempo sem andar. Outro problema percebido aconteceu mais para o final da pista com os componentes apresentando cansaço, dando a impressão de que as fantasia estavam mais pesadas. Ainda que cantassem muito já não pulavam ou dançavam, evoluíam apenas andando. A bateria entrou no recuo aos 47 minutos se saiu com 1h01 sem apresentar problemas.

Samba-enredo

O samba da Grande Rio para o carnaval de 2023, uma composição de Arlindinho, Diogo Nogueira e companhia, talvez seja a obra que teve o refrão do pré-carnaval e concorre para ser o dos desfiles oficiais. “Ê que bela quitanda, quitandinha de Erê” realmente é um trecho que fica na mente de quem canta e tem uma musicalidade que faz jus a própria musicalidade do Zeca que tem a facilidade de usar muitas vezes letras simples, mas altamente interativas com quem ouve e com um swing, um ritmo muito agradável não só para cantar como para dançar.

É uma musicalidade, aliás, que cativa e leva a dançar. Já o refrão principal “Deixa a vida me levar” fez uma referência a um grande sucesso do Zeca, e ainda que tenha perdido um pouco do protagonismo pelo balanço do refrão do meio, é voltado um pouco mais para a explosividade se encerrando no “Sou Grande Rio, carregada de Axé, minha gira girou na fé”, e fazendo essa reverência a agremiação e dando ao componente a oportunidade de ressaltar sua relação com a Verde, Vermelha e Branca de Caxias. Grande rendimento da obra no desfile, pela apresentação do carro de som comandado por Evandro Malandro, sendo cantado inclusive pelo público.

Fantasias

Mais um ótimo trabalho de grande apuro visual da dupla Leonardo Bora e Gabriel Haddad. Além disso, eram de fácil leitura, com materiais de qualidade, mas não tão perceptíveis e usuais em outras escolas. Foram soluções que fugiam do lugar comum, com o colorido que o enredo pede. Destaque para os figurinos da ala “Quem vai pela boa estrada” que dialogava bastante com o abre alas na cabeça da escola, para a ala “era dia de carnaval” com o bom uso de tons pastéis de rosa e azul. A paleta de cores passeou pelos diferentes lugares de procura do Zeca e fez bom uso de tons pastéis, dourado, não se limitando as cores da escola. Os modelitos estavam volumosos com grandes costeiros, muito bonitos e bem acabados, mas importante citar também que pareciam pesados em alguns momentos para a evolução dos componentes.

Alegorias

Em seu conjunto alegórico, a Grande Rio trouxe cinco alegorias e dois tripés. O quesito também deve gerar despontuação na escola mesmo com excelente apuro estético, visual, ótima leitura e perfeito acabamento. Isso porque a iluminação da segunda alegoria passou apagado em todos os módulos de julgamento, ainda que acendesse em alguns momentos. A alegoria muito colorida, recheada de crianças jogando doces e bolas para o público, mergulhou nas memórias infantis do artista em sua infância nas bandas de Irajá, trazendo de novo a religiosidade ao relembrar o pegar doce de São Cosme e Damião.

O tripé “Sapopemba e Maxambomba”, representando uma carroça com a memória de moradores da Baixada, também passou apagado em todos os setores, em alguns momentos oscilando a iluminação. De destaque positivo, o carro Abre-Alas ” A Ele eu quero agradecer: armas de Jorge, amuletos de Ogum” , dividido em dois chassis, expressando a pública e intensa devoção de Zeca Pagodinho por São Jorge e Ogum, e a última alegoria, “Mas eu fico em Xerém, porque é terra boa”, que trazia o homenageado na parte central abaixo de uma grande Águia, prestando uma justa homenagem ao centenário da Portela.

Outros destaques

A bateria de mestre Fafá “O grande duelo- Bafo da onça e Cacique de Ramos” fez uma homenagem a disputa das ruas pelos foliões dos blocos Bafo da Onça e Cacique de Ramos, apresentando duplas cores no figurino. A rainha Paola de Oliveira veio de ” Peito de Aço, coração de Sabiá” evocando o universo metálico de Ogum. A atriz era erguida em uma pequena estrutura com rodinhas acima da bateria quando havia a apresentação nos módulos.

Os compositores do samba da Grande Rio, Arlindinho e Diogo Nogueira, esposo de Paolla Oliveira, vieram próximos ao carro de som e cantava a obra junto com o prefeito Eduardo Paes. O ator David Brazil veio como destaque a frente da segunda alegoria. Zeca Pagodinho, foi muito aclamado em todos os módulos, vindo no último carro, mas no último módulo, na saída da bateria, a rainha Paolla de Oliveira brincava ao cantor.

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