InícioGrupo EspecialProibição de clipes na disputa da Portela gera discussão e divide opiniões

Proibição de clipes na disputa da Portela gera discussão e divide opiniões

A Portela divulgou, na última sexta-feira, o regulamento da disputa de samba para o próximo carnaval. Devido à pandemia da Covid-19, uma série de mudanças foram implementadas ao modelo tradicional do concurso para adequá-lo à nova realidade. Entre os pontos, um em especial chamou a atenção dos sambistas: a proibição da gravação de videoclipes pelas parcerias concorrentes.

Assim que o regulamento foi divulgado, o tópico repercutiu nas redes sociais e dividiu opiniões. O site CARNAVALESCO conversou com o produtor Renne Barbosa, da Leme Filmes, e o jornalista Guilherme Alves, da Mais Carnaval, para saber como as produtoras encararam a proibição dos clipes.

“Encaramos com surpresa, os clipes já fazem parte do universo da disputa de samba. Sabemos que não é o maior influenciador no resultado, sabemos também que as disputas foram para um caminho de gastos excessivos, muito antes da produção dos clipes. Somos sambistas e, de certa forma, o clipe ajudou a trazer para o grande público a figura do compositor, que dentro do desfile da escola de samba hoje, quase não tem o destaque que merece. Temos vídeos que giram em torno de 500 mil visualizações, um entretenimento também para quem não pode acompanhar as eliminatórias de perto. Hoje, a Leme Filmes emprega, através dos nossos vídeos, alguns sambistas também. Todos que participam dos nossos clipes são do meio do carnaval e essa decisão da Portela vai pesar na vida dessas pessoas”, afirmou Renne Barbosa.

“A escola está no direito dela e preocupada em manter seu cronograma dentro dos protocolos sanitários, por conta da pandemia do coronavírus. Porém, muitas gravações de clipes, inclusive as que fazemos, seguem as mesmas recomendações e a falta desse material, acho prejudicial à própria escola, já que seria mais um material de divulgação, assim como muitos artistas de outros segmentos fazem para promover seus trabalhos”, ressaltou Guilherme Alves.

Quantos aos efeitos que esta decisão poderá acarretar, ambos destacam o reflexo negativo financeiro para as produtoras. “O impacto é grande, já uma fonte de renda que não existirá mais, por ser uma época do ano que normalmente temos muitos trabalhos envolvendo esses clipes. A proibição não deve mudar muita coisa, já que toda a movimentação nos estúdios de gravação vai continuar, com ou sem clipe, que normalmente é gravado por uma ou no máximo duas pessoas a mais no local”, avaliou Guilherme Alves.

Já Renne Barbosa teme que a decisão se torne uma espécie de referência ou modelo para outras agremiações. “Espero que a Portela reveja isso, por se tratar de uma escola que costuma ditar tendência. Se outras embarcarem na ideia, estamos perdidos. Os clipes vieram abrilhantar, poderíamos fazer uma parceria com a escola, estamos a disposição, que todos possam ser ouvidos, também somos sambistas e fazemos com maior respeito a todas escolas”, declarou.

“Quero lembrar também que a gente se adequou ao mercado. Há seis anos, quando comecei a fazer clipes para escolas de samba, o valor variava de 800 até mil reais. Hoje, o valor fica de 500 a 700 reais, às vezes não chega nem a 10% de uma gravação. Muito tem se falado em igualdade na disputa, volto a frisar, o clipe não ganha samba, é somente uma ferramenta de divulgação. Samba tem que ganhar o melhor, não o com mais recurso”, assegurou Renne ainda.

Portela aponta preocupação sanitária como fator para decisão

A reportagem do site CARNAVALESCO também conversou com o vice-presidente portelense Fábio Pavão que expôs os motivos que levaram a Azul e Branca a tomar esta decisão. De acordo com o dirigente, o delicado momento financeiro, aliado com a crise sanitária gerada pelo novo coronavírus, foram os fatores primordiais para a proibição.

“O regulamento tenta cortar ao máximo o custo dos compositores neste momento de crise. A Portela já tenta, há alguns anos, nivelar o máximo possível a disputa, para que aqueles compositores que tem menos poder financeiro possam competir. O clipe é uma forma de você fazer o peso do poderio financeiro prevalecer. Então, aquele compositor que tem mais dinheiro, vai ter um clipe super produzido; já aquele que não tem dinheiro, ou não vai ter clipe, ou vai ter um mais barato, com a produção menor. Muitas vezes, na avaliação, as pessoas não julgam a música, não julgam o samba, mas sim o clipe. E a gente está fazendo concurso de samba, não uma disputa de clipe. Por esse motivo, a gente resolver proibir”, explicou.

“O outro motivo é porque, neste momento que a gente está passando, quanto menos aglomeração melhor. Então, a gente ia ter entre 10 a 15 clipes. E se a gente tivesse clipe com aglomeração, pessoas juntas? Não temos controle da produção que as pessoas fariam. O quê a gente ia fazer? Fica ruim para a direção da Portela, para os próprios compositores em primeiro lugar e para escola em geral”, prosseguiu Fábio Pavão. “A necessidade faz com que a gente evite ao máximo aglomeração e, por consequência, torcida. Nada aglomera mais em uma quadra de escola do que uma torcida em disputa de samba. Então, o concurso como um todo tem regras neste sentido. Ficaria chato a gente ter um clipe onde as pessoas se aglomerassem e cantassem juntas”, defendeu.

Questionado se a direção da Portela conversou com os membros da ala de compositores antes de tomar a decisão, Fábio Pavão disse não ter sido possível, pois abrir o tópico para discussão poderia ser prejudicial neste caso. “O debate é muito produtivo. A gente sempre faz um anterior a disputa, reúne os compositores presencialmente, conversa com eles, acata sugestões, mas neste ponto a gente teve que ser mais objetivo e assertivo. Existem três coisas fundamentais, ou o que chama no regulamento de premissas básicas: a pandemia, a crise econômica e a questão da interatividade. Isso não esteve em pauta com os compositores, são realidades que o momento nos impõe. E aí o debate poderia descambar para interesses financeiros, para interesses diversos, que não sejam a questão sanitária, procurar nivelar financeiramente e a necessidade de se fazer uma disputa mais virtual do que presencial. São princípios que a direção da Portela determinou e criou o regulamento em cima disso”, concluiu.

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