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Roda de conversa reúne carnavalescos em debate sobre a presença do negro na produção visual do carnaval carioca

Promovido pelo 'Pensamento Social do Samba' encontro contou com presença de carnavalescos do Grupo Especial

Após o debate promovido na parte da manhã pelos pesquisadores Vinícius Natal e Mauro Cordeiro, a parte da tarde no Museu da História e Cultura Afro-Brasileira foi marcada pela roda de conversa com a presença de diversos artistas envolvidos na produção visual das escolas de samba, entre eles os carnavalescos André Rodrigues (GRES Beija-Flor de Nilópolis), Antônio Gonzaga (GRES Arranco do Engenho de Dentro), Guilherme Estevão (GRES Estação Primeira de Mangueira), João Vitor Araújo (GRES Paraíso do Tuiuti) e Winnie Nicolau (GRCESM Pimpolhos da Grande Rio).

Fotos: Luan Costa/Site CARNAVALESCO

Durante a conversa, o racismo foi o tema mais pertinente, os artistas ouvidos contaram suas vivências, os percalços que enfrentaram até serem reconhecidos, os medos e os desafios que ainda enfrentam.

Essa foi a primeira roda de conversas voltada para esse intuito, reunir pessoas negras que são importantes dentro de uma escola de samba para debater assuntos importantes e que por muitas vezes são silenciados. O auditório do Muhcab estava cheio e em algumas falas foi possível observar o público emocionado.

“É a primeira vez que cinco artistas pretos conversam com pessoas pretas sobre carnaval, que no próximo ano tenhamos mais profissionais aqui. Eu não sou sozinho e não quero ser sozinho, eu quero amigos ao meu lado, quero mais pretos em locais como esse, o importante é que o preto esteja. O carnaval é uma roda que gira, é importante que se renove, tem muita gente da nossa cor querendo uma oportunidade e não consegue”, disse João Vitor Araújo.

“Essa é a mesa mais potente que eu já participei, quem me conhece sabe o quanto raça e classe são assuntos importantes pra mim, estar aqui hoje significa muita coisa e espero que se repita muitas vezes”, pontuou André Rodrigues.

A presença de artistas visuais negros no carnaval ainda é muito escassa, a presença de uma mulher negra é quase mula, a Winnie Nicolau é hoje a única artista no comando de uma escola de samba, pra ela é uma conquista muito grande, mas também uma responsabilidade enorme, afinal, ser quem ela é por si só já atrai uma cobrança excessiva.

“O samba pra mim é uma filosofia de vida, eu ganho dinheiro com isso, eu fiz amigos no samba e hoje eu não imagino a minha vida longe dele. Eu procuro a excelência principalmente por eu ser uma mulher preta, temos sempre que buscar isso, sei que sempre serei muito mais cobrada que outras pessoas, então saber que posso ser espelho para muitas é o que motiva a continuar”, disse a carnavalesca.

Durante o debate foi perguntado aos carnavalescos em que momento de suas vidas eles se reconheceram como artistas, a resposta foi unânime: estão o tempo todo tendo que se auto afirmar. É como se eles precisassem mostrar diariamente que são capazes e merecedores de estarem ocupando um lugar de destaque.

“No meu caso eu não recusei convites pelo racismo, mas o medo de aceitar um convite ele existe, você começa a duvidar de você mesmo, o sistema faz com que você duvide da sua capacidade, você sempre acha que tudo é ruim, não existe a tranquilidade de dormir e pensar que vai dar certo. São comparações que você acaba observando, parece inofensivo, mas não é, existe maldade, o racismo é algo que não vai acabar, mas a gente pode ter dias bons como aqui, encontros como esse”, disse João Vitor Araújo.

“Meu medo é justamente por ser uma mulher preta, eu tive negações em ser carnavalesca porque eu tinha medo, fiquei com muito receio de criar novos dilemas, tudo seria posto em cheque, mexe com sua autoestima, com a maneira que você se posiciona, mas ao mesmo tempo que tem o medo, fica aquela coisa de que se chamaram, é porque sou boa, mas o racismo faz isso, ele faz a gente se sabotar”, disse Winnie.

“Eu preciso passar dentro do barracão, ou então mostrar na internet de que eu tenho certeza absoluta do que estou fazendo, no nosso caso é três vezes pior porque as pessoas sempre duvidam. O meu papel como carnavalesco é ser um agitador, eu quero promover a comunidade, dentro do ponto de vista racial é importante a gente puxar os nossos, dar espaço para essas vozes, para que a gente continue incomodando”, contou Gui Estevão.

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