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Salgueiro se reconecta com sua raiz em ensaio no morro, apresentando canto forte e festa da comunidade

Comunidade respondeu com presença maciça e muita festa. Houve uma conexão entre todos e o samba do Salgueiro para 2022 foi quem mais ganhou, sendo entoado a plenos pulmões durante todo o ensaio

“Torrão amado, o lugar onde eu nasci, o povo me chama assim” canta o Salgueiro em 2022. E, para fazer jus ao enredo escolhido, que além de tudo ressalta a negritude e a resistência do salgueirense, a escola no dia de São Sebastião, resolveu realizar um ensaio na sua quadra raiz, o Raízes Calça Larga, como é chamada, onde tudo começou. A diretoria levou o que a escola tem de melhor, ainda que de uma forma reduzida em alguns segmentos para que pudesse alocar todo mundo. A comunidade do morro do Salgueiro respondeu com presença maciça e muita festa. Houve uma conexão entre todos e o samba do Salgueiro para 2022 foi quem mais ganhou, sendo entoado a plenos pulmões durante todo o ensaio. Com o enredo “Resistência”, buscando seu décimo título, o Salgueiro será a terceira escola a desfilar no domingo de carnaval.

O presidente da vermelho e branco, André Vaz, explicou as razões que motivaram a transferência do costumeiro ensaio de quinta-feira para a antiga quadra da escola. “É a nossa história. O nosso enredo é resistência. O clima está muito bom. O que a gente vem passando com essa pandemia? Calhou de uma data tão especial como São Sebastião que é padroeiro da cidade, padroeiro do Salgueiro, em uma quinta-feira, em um feriado do Rio de Janeiro, trazer a escola para cá, para nós abençoar, para que a gente possa seguir nesse caminho de muita luta até o dia desfile e se Deus quiser conquistar o título”, desejou o presidente.

Emocionado, o diretor de carnaval Alexandre Couto falou sobre a influência que a energia do lugar mexe com a comunidade e como ele se sentiu tocado pela iniciativa do ensaio na quadra Calça Larga. “Eu particularmente nem consegui falar na reunião da harmonia, porque você está em um local onde o avô do Jô (Diretor Jomar Casemiro), que é o diretor de Harmonia, fez o último ensaio da vida dele e consagra essa quadra aqui como Calça Larga, é uma importância que não tem descrição para gente. A energia daqui é muito forte quando a gente vem para cá, e a gente acaba se emocionando a ponto de eu não ter conseguido falar hoje na reunião da harmonia, onde eu sempre falo alguma coisa. E o Jô passar essa energia para gente é uma coisa muito significativa para gente, e a gente tenta passar para todo mundo esse tipo de coisa”, explicou Alexandre.

Essência mexe com a comunidade

O ensaio começou com um esquenta preparado por Emerson Dias e Quinho cantando sambas históricos do Salgueiro buscando a essência para mexer com os componentes e com a comunidade. E a negritude da Academia esteve presente em sambas campeões como os primeiros que deram títulos a agremiação em 1960 homenageando Zumbi de Palmares e o de 1963 para o desfile sobre Xica da Silva. Depois, uma homenagem a Deusa da Mocidade, Elza Soares que nos deixou neste dia 20, a cantora interpretou na Avenida o samba de 1969 “Bahia de Todos os Deuses”. Por fim, a dupla também apresentou alguns trechos de hinos com grande apelo como o “Peguei um Ita no Norte” de 1993, “A Ópera dos Malandros” de 2017, e “Xangô” de 2019.

O treino desta quinta-feira também contou com a participação dos integrantes da Comissão de Frente do Salgueiro, comandada por Patrick Carvalho, que trouxe seus bailarinos para apresentar ao público um pouquinho do que pretende fazer na Sapucaí, além de dar aos seus comandados um pouco mais do calor da comunidade.

Samba-enredo

O carro de som do Salgueiro, além de contar com a dupla já extremamente entrosada Emerson Dias e Quinho, juntos desde 2019, tem como vozes de apoio, cantores experientes como Silas Leléu, um dos intérpretes oficiais da Inocentes de Belford Roxo, e Charles da Silva, da Unidos da Ponte.

Entre Quinho e Emerson, o entrosamento está bem afinado com cada um dando palco para o outro, e a já costumeira alegria da dupla bastante extrovertida. O início da interpretação do samba no ensaio, por exemplo, contou com Emerson em cima do suporte para as caixas de som, enquanto Quinho cantava no meio das alas, incentivando cada componente. Quinho explica que no carro de som não há espaço para ciúme e que a ideia é cada um brilhar. “E como eu falei, o Salgueiro tem um canto forte, um carro de som coeso, sem vaidade, que é primordial. Eu e o Emerson. Emerson e Quinho, Quinho e Emerson. A ordem dos fatores não altera o produto. O importante é que o carro de som está unido em canto, ritmo e dança, então vamos para cima”, revelou o intérprete.

Quinho também falou sobre a ausência dos ensaios de rua e como a comunidade tem ajudado o samba de 2022 a crescer. “O Salgueiro tem uma comunidade muito forte, haja visto hoje aqui, dia 20 de janeiro, prestando continência onde tudo começou. O Salgueiro tem um canto forte, está bem ensaiado, uma administração maravilhosa. E vamos para mais um carnaval e que sejamos felizes. O Salgueiro sempre tem compromisso com a vitória. Mas só pode vencer um. Espero que seja o Salgueiro que já passou da hora. Depois que teve esse problema, que nós ficarmos sem os ensaios de rua, nós continuamos fazendo nossos ensaios na quadra, como sempre fizemos as quintas-feiras”.

Harmonia

A escola cantou como um todo durante o ensaio. Houve uma grande troca entre os componentes que evoluíam na quadra com a torcida nas arquibancadas. É claro, que algumas partes do samba se sobressaiam em relação a outras. O refrão principal com a entrada na repetição de “Salgueiro” explodia no canto e se destacava. Outro trecho que se distinguia dos demais não só na força do canto como na interpretação dos componentes eram os fortes versos “Da bala que marca, feito chibata/Vermelho na pele dos meus heróis/Lutaram por nós contra a mordaça”.

Alexandre Couto falou da influência do Morro para o desenvolvimento do canto, mas citou também o trabalho que já vem sendo realizado na quadra da Rua Silva Teles. “Aqui a gente explode, o Salgueiro explode, apesar de que o nosso samba já está explodindo desde o primeiro dia de ensaio. O nosso samba, a escola e a comunidade toda abraçou e funcionou desde o início, então hoje a gente tem só uma forma de consagração aqui no Morro”, entende Alexandre.

Outro que está empolgado com o canto da escola é Emerson Dias que ressalta a comunidade mesmo com as dificuldades enfrentadas nesses dois anos pela pandemia. “O canto da comunidade para mim está surpreendente porque a gente está tendo uma sequência muito pequena de ensaios. E quando a gente vê o povo cantando com essa garra que foi o ensaio de hoje, é para transbordar de emoção e esperança. Acho que o Salgueiro tem tudo para avançar e muito”, acredita o intérprete da Academia.

Bateria

Salta a vista a organização dos mestres Guilherme e Gustavo. Os irmãos que estão à frente da Furiosa desde o carnaval de 2019, estão sabendo como ninguém as vantagens de ter dois mestres a frente do coração de uma escola de samba. Assim como o que se tem visto no carro de som, não há vaidade e cada função tem sido dividida pela dupla para melhoria do trabalho. No ensaio desta quinta-feira, enquanto Gustavo estava à frente da furiosa dando os comandos, Guilherme observava de um nível mais alto da quadra, ao mesmo tempo que avaliando a produção da Furiosa como também realizando a comunicação gestual com a direção de carnaval, harmonia e com o carro de som. Mestre Guilherme falou um pouco do trabalho integrado da bateria com o resto da escola.

“A gente tem conversado muito com a diretoria, a gente precisa acertar alguns detalhes ainda, a gente tem conversado diretamente com o Emerson, com o Quinho, com o carro de som e a gente tem uma abertura muito boa. Então, a gente está acertando alguns detalhes em questão de andamento ainda, finalizando isso, a questão das bossas, dando uma limpada. Semana passada a gente fez um ensaio muito bom só de carro de som e bateria, que ajudou muito a gente. Hoje o ensaio foi bom demais também. Acho que é isso, é dar esse tempo para o carnaval que falta e continuar ajustando para chegar no dia com tudo cravadinho”, explicou Guilherme.

O intérprete Emerson Dias confirmou o entrosamento afinado entre carro de som e bateria. “A gente é muito amigo. Os mestres de bateria fazem parte do grupo de whatsapp do carro de som. Quanto mais entrosado, mais entrosado a gente estiver, melhor vai ser o resultado de todo mundo. E, assim que a gente pensa e assim, que a gente está conseguindo fazer o nosso trabalho da melhor maneira possível. A gente está fazendo ensaios técnicos restritos. Carro de som e bateria. A gente não pode perder o tempo das coisas, a gente tem que estar sempre batalhando”.

A bateria apresentou muita segurança nas bossas. Mestre Gustavo admitiu que ainda há aspectos a se melhorar, mas se viu satisfeito com o ensaio e projetou a bateria pronta para o desfile nas próximas semanas. “O que a gente sempre costuma dizer é que esse ano, foi um ano muito atípico, essa temporada de 2020 que foi pro carnaval de 2021 que não teve, aí agora veio para 2022, foi uma temporada maior e muito atípica pelo Covid. E, é uma situação que a gente começou os ensaios com poucos ritmistas, a galera ainda estava com um pouco de medo. A galera, então, começou a se juntar e agora veio essa nova onda. Então, está sendo um ano muito difícil. Mas, graças a Deus, a gente está conseguindo reverter, a gente está conseguindo ajeitar a galera. No ensaio de hoje, eu já senti uma confiança muito maior com a galera. E, a galera fazendo as bossas que nós passamos desde a escolha do samba. Então, hoje, o ensaio foi muito proveitoso, porque hoje eu consegui sentir uma segurança muito legal na galera, apesar da bateria estar um pouco menor por conta de espaço, a gente traz um pouco menos de instrumento, mas, a galera, quando eu entrava dentro da bateria, eu sentia uma confiança muito grande da galera fazendo com convicção todas as bossas que a gente estava pedindo”, revelou Gustavo.

Uma das bossas de maior destaque, acontece no refrão principal, em que a bateria para de tocar na entrada do trecho “Salgueiro, Salgueiro” e os ritmistas permanecem com o punho erguido, símbolo de resistência. Mestre Guilherme contou que a performance dessa bossa ainda tem algumas surpresas guardadas que só serão reveladas na Marquês de Sapucaí.

“Eu acho que o ‘Salgueiro’ refrão com o punho erguido, eu acho que vai ser emocionante ali, a gente ainda está terminando, ainda falta uma surpresinha ali, que eu acho que vai ser a cereja do bolo. Mas, aí é só no dia do desfile”.

Evolução

Como em outras escolas, para simular alguma evolução, a diretoria do Salgueiro colocou a bateria no meio da quadra e espalhou os componentes ao redor da Furiosa para evoluir já como alas se deslocando pela quadra. O que se pode ver foi bastante espontaneidade e intensidade em cerca de uma hora de ensaio realizado na quadra Calça Larga. Um destaque ficou para a ala de passistas comandada por Carlinhos Salgueiro que demonstrou além de muito samba no pé e técnica, espontaneidade e improviso. Carlinhos ia dando chance para brilhar um a um dos passistas que arrancavam aplausos e gritos do público. Também sob o comando de Carlinhos do Salgueiro, estava tradicional ala do Maculelê que trazia passos bastante vigorosos e com uma expressão de orgulho e pujança principalmente nos trechos do samba que eram mais específicos sobre a negritude.

O diretor de Carnaval Alexandre Couto também falou sobre a dificuldade de se ensaiar o quesito sem os tradicionais ensaios de rua. “O Salgueiro precisa sempre de estar junto. A gente não é uma comunidade simples. Nós tornamos uma comunidade, em uma família. Então, a importância de a gente estar junto, independente se seja na rua que a gente está evitando agora por conta da loucura que está, a gente está dentro de uma quadra fechada, ou dentro do Morro que é uma quadra fechada também, para gente tem uma importância muito grande. Porque aqui a gente não tem uma comunidade, a gente tem uma família. A gente só precisa desfilar para ser campeão, porque a gente “tá” pronto para ser campeão”.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Sidclei Santos e Marcela Alves se apresentam juntos no Salgueiro desde 2014. Entrosados, apresentaram bastante garra e vontade de vencer, confiantes e focados para o desfile de 2022. Na dança a tranquilidade de sempre, aliada a técnica. A experiência de quem defende o quesito desde 1997 no caso dele, e desde 1998 no caso dela. No último carnaval, receberam cinco notas 10.

De se destacar dos dois no ensaio, o trecho do samba, no refrão do meio que fala sobre Zumbi e Xica da Silva, em que Marcela Alves incrementa o bailado com alguns passos mais específicos das religiões de matriz africana. Marcella contou um pouco sobre o estágio que o casal está na preparação para o desfile.

“Estamos na fase final do trabalho que é de treinamento mesmo, o corpo se adotar cada vez mais com a movimentação proposta e conseguirmos preparo físico ideal para a sustentação da excelência de performance durante todo o desfile… E podermos comemorar a volta da nossa festa e acima de tudo nos divertimos com o desfile do salgueiro”, explicou a experiente porta-bandeira.

Sidclei confirmou que a dupla está trabalhando duro com o foco total de que a apresentação do casal acontecerá em fevereiro apesar de haver qualquer indecisão sobre os desfiles. “A gente já está em uma pegada desde outubro, e virou o ano, a gente está em uma pegada clima de carnaval pois acreditamos que vai ter carnaval, trabalhando a mesma coisa que a gente trabalhou nos outros anos que teve carnaval. Esse é o nosso cronograma que a gente sempre faz, por mais que haja alguma dúvida se terá carnaval, no Salgueiro, eu e a Marcela a gente não tem essa dúvida. E a gente vai estar bem preparado no dia do desfile. A gente ensaia e treina todos os dias praticamente. Os nossos treinos com Bruno Germano, é um treino, o ensaio específico com a nossa coreógrafa Marcela Gil. Então, estamos nos preparando todos os dias até o carnaval”, revela o mestre-sala.

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