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Samba didático: Com o Waranã da Tijuca e com as bênçãos dos Erês, o bem sempre vai vencer

Compositor Eduardo Medrado explicou sobre os significados e as representações por trás dos versos e expressões presentes no samba da Unidos da Tijuca

Desde 2016 sem voltar no sábado das campeãs, e sem brigar de verdade pelo título desde aquele ano, a Tijuca vai apostar na energia do guaraná para contagiar a Sapucaí e adoçar um pouco a avaliação dos jurados e voltar a estar entre as melhores do carnaval carioca.

Leandro Ribeiro/Divulgação TV Globo

“Waranã – a resistência vermelha” foi desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos que chega à Tijuca para o carnaval 2022. O enredo pretende apresentar a lenda do guaraná, trazendo a disputa entre o bem e o mal, sintetizada na cultura Mawé entre o embate de Tupana, as forças do bem, e Yurupari, a energia do mal. Conflito que atravessa o tempo e ressurge nos dias atuais, com Yurupari aterrorizando a vida nativa através de colonizadores, caçadores, garimpeiros, madeireiros ilegais, grileiros de terra e etc.. Esta é também uma mensagem que a Unidos da Tijuca pretende deixar com o enredo, a resistência pela preservação da natureza, da vida indígena e seus costumes. Trazendo a certeza de que o espírito do amor é muito maior que o ódio semeado por Yurupari, como é citado na sinopse do enredo.

A Unidos da Tijuca será a quarta escola a desfilar na segunda-feira de carnaval. O samba é de autoria de Eduardo Medrado, Anderson Benson e Kleber Rodrigues. O compositor Eduardo Medrado explicou um pouco sobre a oposição entre o bem e o mal do enredo que é bastante explorada também pela obra.

“A gente tentou aproveitar bastante essa tensão entre o bem e o mal que está presente na sinopse do Jack (Vasconcelos, carnavalesco). Essa tensão é representada na lenda indígena entre o equilíbrio de Tupana, criador das coisas boas, e Yurupari, que representa as forças do mal. E isso é muito atual, porque a gente vive em uma sociedade bastante polarizada, enfim, e também sempre que se tem uma expectativa muito aguçada de melhoria das condições de vida, sob que perspectivas forem essas, sempre há um aumento da expectativa de que o bem vai vencer o mal. E acho que esse é o recado positivo do enredo”, esclarece o compositor.

O site CARNAVALESCO, dando continuidade à série de reportagens “Samba Didático”, conversou com o compositor Eduardo Medrado que explicou um pouco mais sobre os significados e as representações por trás dos versos e expressões presentes no samba da Unidos da Tijuca para o carnaval de 2022.

ALTO CÉU /DE TUPANA E YURUPARI / DUAS FORÇAS QUE VÃO FLUIR/ A ENERGIA DE MONÃ / QUE EQUILIBRA O BEM E O MAL

“Esse segmento apresenta Tupana e Yurupari, duas forças que representam a tensão, na lenda indígena, entre o bem e o mal. Tupana, o criador das coisas boas, e Yurupari, que representaria as forças do mal. Essas duas forças que o equilíbrio, a convivência entre elas, na verdade, rege o equilíbrio cósmico. Tudo isso, a energia de Monã, Monã seria o Deus supremo, criador de todas as coisas. Essa tensão entre o bem e o mal está presente em toda a sinopse”.

UM LUGAR ONDE AS PEDRAS PODIAM FALAR/ONDE IRMÃOS DESFRUTAVAM/A BELEZA SINGULAR/ANHYÃ, BELA E HABILIDOSA/MAS A COBRA ARDILOSA USA A FLOR PRA LHE TOCAR

“Aí, a gente está falando sobre de Nusokén, essa floresta, esse ambiente paradisíaco, onde, inclusive, as pedras podiam falar, onde viviam três irmãos, dois homens e uma mulher, essa mulher é a Anhyã, que a gente fala em seguida ao dizer ‘bela e habilidosa’. A Anhyã era a protagonista desse ambiente, era amada por todos os animais, ela era habilidosa porque ela dominava as artes medicinais daquela floresta. Isso causava grande inveja nos dois irmãos. Na verdade, uma cobra se enamora de Anhyã e usa de um ardil, atrai Anhyã de um perfume de uma flor e quando Anhyã se aproxima de uma flor para cheirá-la, a cobra toca no pé e engravida Anhyã. Esse fato, gera grande revolta nos dois irmãos, ela é expulsa de Nusokén e acaba concebendo Kahu’ê distante do paraíso.

E NASCE KAHU’Ê O CURUMIM/DE OLHOS ALEGRES SEMPRE ASSIM
PRESENÇA TÃO BREVE/A INGENUIDADE SUCUMBE À MALDADE

“Essa questão dos olhos de Kahu’ê é importante porque mais à frente a gente vai ver que um dos olhos do curumim é que vem dar origem segundo a lenda do bom guaraná. Kahu’ê morre, é assinado por mando de seus tios. Então, Kahu’ê come um fruto, a castanha de uma castanheira sagrada e esse fruto, era proibido, e Yurupari, forças do mal, são invocadas pelos dois tios e travestido de uma serpente Yurupari mata Kahu’ê. A gente resolve atenuando a questão da morte dele, a gente cita presença tão breve, de forma indireta, mais leve, e depois ” a ingenuidade sucumbe a maldade”. A ingenuidade em comer a castanha sagrada, em ir a terras proibidas”.

RENASCE KAHU’Ê O CURUMIM/ SEUS OLHOS ALEGRES NÃO TÊM FIM
POIS O BEM É MAIOR, VAI REEXISTIR

“A gente queria positivar e que o refrão não fosse marcado pela perda. Por isso a gente volta no “renasce Kahu’ê”. Pois o bem é maior, vai reexistir. De fato, segundo a lenda, Kahu’ê morre, há uma grande comoção, e seus olhos são enterrados e de seu olho direito, nasce o verdadeiro guaraná. E de suas entranhas, surge o povo Maué, que vem a ser chamado de povo do guaraná”.

VIDA LIGEIRA, PASSAGEIRA / PLANTADA NO SOLO DA PURA EMOÇÃO

“Na segunda do samba a gente fala um pouco mais sobre a reexistência de Kahu’ê. Vida ligeira, passageira, que é a própria vida do curumim, mas também é a nossa. Traz uma atualidade a esse samba, até por esse momento de pandemia teve momentos de reflexão bastante agudas sobre a vida”.

DE PELE VERMELHA, OS FRUTOS DE UMA NAÇÃO

“Aqui tem uma duplicidade de interpretação. De pele vermelha, o próprio fruto do guaraná, tem a sua coloração vermelha e os peles vermelhas, povo originários Maués”.

VIDA INOCENTE, VIRA SEMENTE /E AO SOM DE UMA AVE A CANTAR/ FLORESCE IMPONENTE O POVO DO GUARANÁ

“De fato, a sinopse descreve que o ressurgimento do Kahu’ê, como primeiro membro do povo Mawé, se dá ao som de uma ave cantando a sua mais bela melodia”.

E SE A COBIÇA E O FOGO CHEGAREM NA ALDEIA/DEIXA A FORÇA MAWÉ RESSURGIR/E SORRIR QUANDO O SOL RELUZIR/NESSE DIA ELES VÃO TEMER/E O AMOR VAI VENCER

“A gente procura valorizar ao final do nosso samba a atualidade da defesa dos povos originários do Brasil. Esses povos que recebem ataques desde sempre, mas que nesse momento em especial vivem uma série de contratempos, e a sociedade brasileira, e aqui, o Carnaval, a escola se posicionando a favor desses povos. Quem se mantém íntegro, quando o dia renasce, é porque tem a força, tem o poder da resistência. O mal vai temer e o amor vai vencer. A gente termina sintetizando e usando o termo amor, uma palavra que representa na nossa cultura, tudo que é bom, toda a positividade, e notar que é um fecho alinhado com a sinopse, pois isso é sempre deixado claro, que o amor vai vencer”.

ERÊ, ESSA MATA É SUA/ERÊ, VEM PROVAR DOCE MEL/WARANÃ DA TIJUCA/VEM BRINCAR NO BOREL

“A gente faz a referência aos Erês, a gente achou importante tocar nos Erês, oportuno porque são esses espíritos infantis que gostam de tomar guaraná nos rituais, enfim aqui a gente valoriza os Erês, afirma que a mata é deles e faz uma brincadeira com a referência a nossa escola e ao Borel”.

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