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Samba didático: Em busca da retomada do protagonismo de 2018, Tuiuti traz em seu enredo a ancestralidade, a sabedoria e a resistência negra

Compositor Cláudio Russo explica os significados e as representações por trás de alguns versos e expressões presentes no samba do Paraíso do Tuiuti para o carnaval de 2022

Não dá para reparar no enredo, ou ouvir o samba de 2022 do Paraíso do Tuiuti, e não fazer um paralelo com 2018, com certeza, o desfile mais histórico da escola de São Cristóvão. Desde 2017 no Grupo Especial, alavancada por aquele desfile sobre a escravidão, mas também por boas apresentações nos anos seguintes, o Paraíso do Tuiuti quer mostrar que vem amadurecendo e que pode sonhar em repetir ou superar aquele segundo lugar de 2018.

E, parece, como o enredo busca no passado a receita para um futuro melhor, o Tuiuti com certeza se inspira neste passado recente vencedor que assombrou o mundo do samba, por um desfile de qualidade, com bom samba, bons quesitos, mas principalmente por exaltar o protagonismo do povo negro. É esta retomada que a escola queira fazer e, por isso, escolheu trocar o desfile que falaria sobre os bichos para trazer a história da humanidade que vem da África, onde nasceu o primeiro homem, para exaltar “aqueles que abriram nossos caminhos”, como é descrito na própria sinopse.

“Ka ríba tí ye – “que nossos caminhos se abram” – o Tuiuti canta histórias de luta, sabedoria e resistência negra” é assinado pelo carnavalesco Paulo Barros que vai pela primeira vez desenvolver um enredo com esta temática. A pegada do desfile está mais voltada para a sabedoria Iorubá e fará uma homenagem aos pretos, homens e mulheres que marcaram a história da humanidade porque escolheram os caminhos da determinação, da beleza, do conhecimento, afirmando com suas trajetórias toda a sua ancestralidade.

O samba para 2022 do Paraíso do Tuiuti tem a autoria de Cláudio Russo, Moacyr Luz, Júlio Alves, Alessandro Falcão e W. Correia Filho e será entoado na Sapucaí por Celsinho Mody, Grazzi Brasil e Carlos Jr. O compositor Cláudio Russo resumiu um pouco do direcionamento dado ao hino pela parceria vencedora. “O fio condutor deste samba é a luta, a resistência e a exaltação ao povo em suas mãos variadas matizes”.

O site CARNAVALESCO dando continuidade à série de reportagens “Samba Didático” pediu ao compositor Cláudio Russo para explicar um pouco mais sobre os significados e as representações por trás de alguns versos e expressões presentes no samba do Paraíso do Tuiuti para o carnaval de 2022:

“OLODUMARÊ MANDOU/OXALÁ ME CONDUZIR PELO CÉU DA LIBERDADE/ME FALOU ORUNMILÁ/VAI MEU FILHO SEMEAR PELO MUNDO A HUMANIDADE”

“Os versos da cabeça que começam com Olodumarê mandou… Estão relacionadas ao mito da criação Nagô Iorubá. Pois, este mito conta que através de Olodumarê é criado o panteão dos orixás africanos (Olodumarê, o deus supremo, criou o mundo. Contou com a ajuda de Orunmilá, Exú e Oxalá)”.

“SOU ALABÊ GUNGUNANDO O TAMBOR/TRAGO CANTOS DE DOR, DE GUERRA E DE PAZ/PRA VER SECAR TODO PRANTO NAGÔ/E GRITAR POR DIREITOS IGUAIS”

“Sou Alabê gungunando significa batucando, fazendo o tambor murmurar cantos de resistência, luta e exaltação (Os tambores dos Alabês embalam o ritual do Tuiuti)”.

“EH! DANDARA!/A ESPADA E A PALAVRA, EH!/NÃO VAI SER ESCRAVA/HEI DE VER NOUTRAS NEGRAS MINAS/UM BAOBÁ MALÊ QUE NASCEU DO CHÃO/PRA VENCER A OPRESSÃO COM A FORÇA DA MELANINA”

“Neste trecho, fazemos a alusão a força da mulher preta, personificada neste trecho por Dandara dos Palmares e também a essência da concentração de melanina, fator de orgulho diante a opressão generalizada (Dandara, rainha guerreira implacável, impôs respeito, com sua força, inteligência e rebeldia)”.

“KA RI BA TI YÊ CAMINHOS DE SOL/POR ONDE OTELOS, STELLAS E TERESAS DE BENGUELA/SE FAZEM FAROL”

“Ka ri ba ti yê significa que os nossos caminhos se abrem através da luz, do sol, caminhos de um novo tempo para o povo preto representados por tantas Mercedes Batistas e Estelas de Oxóssi neste ‘brasilzão de meu Deus’, e que é luz, se faz de farol para as gerações vindouras… (A saudação do Tuiuti simboliza o respeito às nossas origens e aos ensinamentos dos orixás. Um canto de amor aos homens e mulheres pretas, que são exemplos de luta, sabedoria e resistência)”.

“PRA ILUMINAR ALAFINS/E MORRER SÓ DE RIR FEITO MIL BENJAMINS”

“Para iluminar Alafins… É a continuação do pensamento anterior, que surjam tantos outros novos Alafins ou Benjamins de Oliveira exaltando a força de nosso povo tão marcado pela luta e por inúmeras contribuições à humanidade (Benjamim de Oliveira deu o salto para a liberdade, desafiando seus opressores e encantando a plateia, principalmente, a criançada)”.

“OGUNHIÊ! OKÊ ARÔ!/LAROYÊ! MEU PAI, KAÔ/TEM SANGUE NOBRE DE MANDELA E DE ZUMBI/NAS VEIAS DO POVO PRETO DO MEU TUIUTI”

“O refrão principal enfoca as saudações a diversos orixás, como também a presença do sangue preto de Mandela e Zumbi nas veias de toda comunidade do Paraíso do Tuiuti (Mandela escolheu difundir a paz, com a serenidade de quem sabe como dominar os perigos)”.

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