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‘Sem vacina é impossível ter carnaval’, diz carnavalesco da Unidos de Bangu

Sem previsão de data e nem mesmo de como irá acontecer, tudo que envolve o próximo desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro trata-se de uma incógnita. Porém, mesmo em meio às incertezas, diversos artistas da festa seguem ativos e atuantes, no processo de criação e desenvolvimento do espetáculo.

O site CARNAVALESCO dá prosseguimento a série de entrevistas especiais acerca da produção e do planejamento do Carnaval de 2021. O segundo nome entrevistado é Marcus Paulo, que no próximo desfile, irá assinar a Unidos de Bangu na Série A e a Rocinha no Grupo Especial da Intendente. Confira abaixo:

CARNAVALESCO: Como tem sido o período de pandemia para você?

Marcus Paulo: “O período da pandemia tem sido bastante produtivo, mas com muita preocupação. Estamos todos na espera de que se resolva logo as datas para o nosso espetáculo, independente de como ele seja feito ou em que moldes. Essa é a grande apreensão, mas eu ando produzindo bastante, produzido muito. Antes, a gente saia de casa para trabalhar no barracão, mesmo fazendo projeto escrito, construindo a narrativa, os elementos que compõem ela, os desenhos e tudo mais. A gente saia de casa, com todo o nosso material, batia o nosso cartão lá no barracão e trabalhava na sala das escolas. Algo que sempre fiz nos 16 anos na Unidos da Tijuca e nos últimos seis ou sete carnavais como carnavalesco. Tudo era desenvolvido no barracão. Com a pandemia, o home office ficou muito forte também para a gente do carnaval. E assim como várias áreas, tivemos a experiência de trabalhar de casa. No começo foi meio embolado, até porque a gente não estava acostumado. Parece fácil trabalhar em casa, mas não é. Se você não faz uma rotina correta, mantém tudo regrado com o horário e os afazeres, você acha que está fazendo muito e não está fazendo nada. Você acaba se enrolando. Com o tempo e a prática, consegui criar uma rotina e me habituar com os afazeres, tanto do lado pessoal, quanto profissional”.

CARNAVALESCO: Como funciona o seu processo de criação do desfile em meio a tudo que está acontecendo?

Marcus Paulo: “Tive que me habituar a um novo processo de criação. A gente acaba não dormindo quando está criando, quando a tal da inspiração vem. Mesmo que algumas pessoas não entendam, é real. Ela vem, fica martelando na sua cabeça várias ideias, explodem imagens, pensamentos ficam circulando na sua mente, e se você não parar o que estiver fazendo para colocar no papel, você não consegue se concentrar em alguma outra coisa para fazer. E esse processo tinha a ida e volta para casa, era feito a maior parte no barracão, como funcionário mesmo que tinha que ser, e agora está sendo feito em casa, de uma forma bem mais tranquila. Eu consegui fazer uma rotina de trabalho, conciliando minhas funções como carnavalesco e como professor de pós-graduação, mesmo trabalhando para duas escolas de samba. Então, tenho meus horários diários dividindo o tempo do desenvolvimento de enredo e o tempo da estruturação das minhas aulas. Acabou que no caso do Acadêmicos da Rocinha, como fui contratado primeiro pela escola, eu já tinha feito todo projeto pronto quando fui contratado para realizar o carnaval da Unidos de Bangu. Então, minha rotina continuou a mesma, só saiu a criação da Rocinha e entrou a criação da Bangu”

CARNAVALESCO: No próximo carnaval, você irá fazer jornada dupla ao assinar a Unidos de Bangu (ao lado do Clécio Régis) e a Rocinha. Como é isso para você?

Marcus Paulo: “Irei fazer jornada dupla assim como no carnaval de 2020, quando estava na Unidos da Tijuca, assinando com o Hélcio Paim e o Paulo Barros, e também na Acadêmicos da Rocinha. Então está sendo tranquilo isso. Na Rocinha, assim que acabou o carnaval, a diretoria me chamou para renovar o vínculo, devido a repercussão do trabalho. Mesmo com o rebaixamento da escola, eles resolveram continuar com meu trabalho lá. E eu, como só tinha a Rocinha, me dediquei totalmente a ela e terminei muito rápido os figurinos, as alegorias, as fantasias de casais, dos integrantes da comissão de frente. Foi rápido para mim fazer o desenvolvimento do enredo também. Então, a Acadêmicos da Rocinha eu acabei o grosso mesmo da criação em cerca de dois meses. Tanto que quando eu fui contatado pela Unidos de Bangu, eu já tinha terminado a Rocinha. E quando eu fui chamado pela Bangu, a proposta era que eu fizesse todo o desenvolvimento artístico da escola: sinopse de enredo, conversa com os compositores, desenho de todas as alas da escola, figurinos dos casais de mestre-sala e porta-bandeira, dos destaques, das composições de carro… Hoje, a Unidos de Bangu também está toda pronta. A escola quando me contratou queria que eu fizesse em tempo recorde. Essa foi a proposta que me fizeram, que eu tentasse ser o mais breve possível, porque o projeto da Bangu estava bem atrasado. Como quando eles me contataram era uma época de alta pandemia, todo mundo estava muito apavorado e muito preocupado, então a gente estava totalmente isolado mesmo e foi aonde eu consegui produzir muito, tanto na parte escrita, quanto nos elementos que compõem a parte visual. Em relação ao Clécio, ainda não tivemos contato, por conta da pandemia e da correria para eu poder terminar esta parte artística da escola. Mas a jornada dupla está sendo muito bacana novamente para mim, uma grande experiência. Sou um apaixonado pelo carnaval e procuro transferir sempre toda essa paixão para o meu trabalho”.

CARNAVALESCO: Qual a sua opinião acerca do adiamento dos desfiles de 2021?

Marcus Paulo: “Sou muito apaixonado pelo carnaval. Cresci dentro do carnaval e tudo que sou ou que eu tenho devo ao carnaval e a este trabalho que desenvolvo em troca com as escolas de samba. Sempre me dedico muito. Quem faz a festa é uma mão de obra muito dedicada, inspirada e apaixonada. Em contrapartida, a escola vêm e nos mantém financeiramente, ou pelo menos tenta nos manter. E eu queria tanto que tivesse desfile, que já tivesse uma definição para isso, mas não temos, acertadamente. Essa posição de não ter enquanto não surge uma vacina é correta. Infelizmente, o carnaval é como as olimpíadas, é como o festival de Parintins, é como o São João de Campina Grande e Caruaru, o carnaval é como vários outros eventos que foram cancelados e transferidos para uma nova data. Não tem como não aglomerar, não tem como manter um afastamento, não adianta querer buscar uma fórmula de fazer um desfile paliativo, não tem como, não dá. Sem a vacina acho impossível. As pessoas tem que ser preservadas, vidas tem que ser protegidas, mesmo que elas não queiram ou que não tenham essa consciência. É papel dos poderes públicos proteger as pessoas, mesmo que todos estejam de saco cheio dessa pandemia ou de ficar em casa. E não vejo nenhuma outra coisa que pode ser feita para apresentar um enredo de escola de samba, de outra forma que não seja um cortejo na Marquês de Sapucaí, com aglomeração”.

CARNAVALESCO: Está preparado para fazer alterações no projeto, caso haja redução no número de alegorias ou outras mudanças no regulamento por exemplo?

Marcus Paulo: “Como a gente está vivendo épocas tão diferentes e tão difíceis, temos que estar preparado para tudo, o tempo todo. A gente não sabe ainda o que vem pela frente e nem sabe quando isso vai acabar. Então, toda e qualquer mudança que tiver de certa feita no projeto vai ser bem aceita e será feita. Estou preparado para mudar, para diminuir alegoria, diminuir o número de setores. Por exemplo, no tipo de desenvolvimento que eu faço, uma alegoria sempre encerra o setor. Particularmente, é algo que eu gosto visualmente, acho bonito você ter uma alegoria fechando a cena. Neste modelo, as alas começam a discorrer o que tem de escrito ali naquele setor e a alegria fecha esse cenário. Então, se eu tiver de tirar uma alegoria, provavelmente eu tiraria também um setor. Mas estou preparado sim, para essa ou qualquer outra eventual mudança que se discuta”.

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