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Série Barracões: Águia de Ouro prepara desfile questionador e carnavalesco destaca organização

Por Matheus Mattos

A equipe de reportagem do CARNAVALESCO visitou o barracão da Águia de Ouro, que está localizado na Fábrica do Samba, pra detalhar o enredo do carnaval 2020: “O poder do saber. Se saber é poder… quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. O carnavalesco Sidnei França faz a sua estreia na agremiação e explica resumidamente a proposta do tema.

“A ideia é fazer uma viagem pela história da humanidade, ou seja, ele começa no passado, resvala no presente e projeta o futuro. Nessa viagem a gente destaca momentos em que o saber foram fundamentais pra que o homem crescesse na sua trajetória. Começamos na idade da pedra quando a sabedoria era sobrevivência. É como fosse um game, se eu não cumpro uma fase, eu não vou pra outra. Se o homem primitivo não sobrevivesse, não estaríamos aqui, escrevendo livros, inventando internet. A gente vai evoluindo dentro do desfile, até chegar no amanhã. O que é a sabedoria no futuro? É reflexivo. Será que vai ter futuro? A gente está tendo uma sabedoria mais reflexiva ou destrutiva? É um enredo altamente filosófico nesse aspecto, ele busca questionar que tudo que o homem conquistou foi pro bem e foi pro mal, e onde tudo isso vai nos levar”.

O carnavalesco conta que ideia já existia e afirma que proposta combina com agremiação.

“Quando eu cheguei na escola, já existia esse projeto de falar sobre o saber, mas também tinha outras opções, e o presidente me deixou bem livre pra escolher outras propostas. Todos os carnavalescos tem enredos guardados, mas eu achei esse bem interessante. Além disso, acho que o Águia tem esse viés social, de falar da educação. Eu enxergo a escola engajada nessas questões”.

Segundo Sidnei, a questão das pessoas distorcerem o que é o saber é o principal ponto do tema, mas é algo que não vai ser retratado de uma forma clara.

“Durante a pesquisa eu conversei com muitos pesquisadores, filósofos, especialistas, e eu percebi que as pessoas estão se afastando muito do que é saber. Hoje em dia ninguém sabe o número de outras pessoas, porque o aparelho anota pra você. Hoje em dia ninguém faz conta de cabeça, tem uma calculadora no celular. A sabedoria está sendo substituída por ferramentas”.

O responsável pelo desenvolvimento do carnaval aproveitou para destacar organização da Águia de Ouro para o carnaval de 2020, e assegurou confiança na comissão de frente e casal de mestre-sala e porta-bandeira.

“A comissão vai ser um ponto forte do desfile. Não só pela proposta, mas pela execução. Pra mim está sendo um prazer trabalhar com o coreógrafo Anderson Rodrigues, que é um amigo particular. O casal eu também destacaria, está sendo um prazer trabalhar com eles. Já terminamos a fantasia, e posso dizer que em todos os meus anos como carnavalesco, está sendo um dos mais tranquilos. A escola é organizada e estou muito tranquilo. Não gosto de falar de resultado, mas falo que a escola vai desfilar pra surpreender. É um carnaval grandioso”.

Carnavalesco traz mensagem subliminar no enredo

Analisando os carnavais que Sidnei França confeccionou, nota-se sempre uma postura de reflexão e valorização do humano. Por exemplo, em 2009 quando ainda estava na Mocidade Alegre, ao invés de falar exclusivamente sobre o espelho como objeto, desenvolveu um carnaval onde o ser humano enxergava a sua alma através do reflexo. Da mesma forma em 2019, onde alterou o final do enredo reeditado dos Gaviões com uma mensagem, como se cada um é diretamente responsável pelas próprias atitudes.

“Eu sou muito inquieto, nunca fui conformista, e gosto de colocar isso nos enredos. De repente o sambista nem se toca, mas acho que é a minha função colocar um sentindo mesmo que não captem uma boa parcela da mensagem. Se for estudar o que é um desfile de escola de samba, você vai ver que é uma manifestação popular, e quando se trabalha com o conceito de cultura popular, você tá falando também com pessoas que não tiveram a oportunidade de viajar o mundo, de ler livros. Essa é a graça do carnaval, é uma festa multissensorial. Pode ter pessoas que viajaram muito do lado de pessoas que nunca viajaram, e elas vão ser tocadas de alguma porque tem música, tem visual, tem ritmo. Tudo isso junto forma uma simbiose. Agora falando do meu trabalho, eu tenho que propor uma mensagem subliminar pra fazer as pessoas se questionarem. Será que estamos no caminho certo? Todos os meus enredos o ser humano é está em primeiro plano, é uma característica minha. Eu gosto de tocar nisso porque é quando o público se conecta”.

No Águia de Ouro, o carnavalesco traz reflexões ao sambista, utilizando o presente para questionar o futuro. Tal ponto fica muito claro no último setor, onde não existe afirmações, apenas questionamentos para trabalhar ideias através da proposta.

“Falando exclusivamente do enredo do Águia, a sabedoria é muito humana. E o enredo questiona exatamente isso ‘será que o humano fez bom uso da sabedoria’? ‘Será que estou fazendo certo?’ Com as redes sociais, o humano para de questionar e entra no modo automático. Agora as pessoas escrevem no whatsapp sem interrogação, o ‘você’ virou ‘cê’, ‘estar’ virou ‘tá’. A pressa do dia a dia faz as pessoas diminuírem as coisas pra acelerar, e se a gente não tomar cuidado, a arte vai se reduzindo ao ponto de não ter mais arte, não tem mais criação. Esse conceito de fazer algo fácil para as pessoas entenderem me angustia muito. Inclusive quando eu vou entregar sinopse pra diretoria, já ouvi ‘nossa, mas você não está indo muito fundo nessa análise?’, mas eu procuro resistir”.

Ficha técnica

5 alegorias
3 tripés (1 na comissão de frente)
25 alas
2.800 componentes

Conheça o desfile

1° setor – Era primitiva
“Naquela época a sabedoria não era algo intelectual, era instintivo, ou seja, o homem se safava de perigos naturais. Eram vulcões, animais ferozes, então a sabedoria que mantiveram eles vivos. No começo a gente mostra que o saber era sobreviver”.

2° setor – Templo oriental
“O segundo carro vai mostrar quando a sabedoria deixou de ser algo instintivo pra se tornar sofisticado. O carro é um templo oriental pra mostrar o saber. Por que eu escolhi o templo oriental? Lá não tem só um sentido de fé, também tem um sentido de arte. A sabedoria humana foi testada ao limite pra construir um templo daquele, pode parecer bobo agora em 2020, mas imagina isso em milênios atrás”.

3° setor – 2° Guerra Mundial
“Até aqui a gente está numa crescente. No começo ele vivia no instinto até conseguir erguer um monumento. Nesse setor a gente traz um carro que é altamente questionador, mais até que os dois primeiros. Se a gente for fazer um estudo cronológico da existência humana, o episódio da segunda guerra mundial testou o limite da inteligência humana, principalmente quando os americanos jogaram a bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki. Santos Drumont inventou o avião e Albert Einstein aprimorou os conceitos da teoria atômica. Eles nunca imaginariam que isso seria usado para atacar uma cidade e devastar milhões em segundos. Ou seja, usaram o poder do saber pra propagar o caos. O enredo não é só ‘olha como o homem é maravilhoso’, não, nós somos imperfeitos por natureza”.

4° setor – Educação
“Aqui o enredo da uma reviravolta. A gente mostra que só da pra mudar a regra do jogo com educação. Nessa parte do enredo nós mostramos como a educação pode salvar da ignorância. Vamos homenagear os professores, porque o aprendiz de hoje é o mestre de amanhã, e isso renova a mente do humano, torna lúcida. Somente mentes educadas pro novo, pra diversidade, vai conseguir construir gerações melhores. Aqui também eu faço uma homenagem ao Paulo Freire”.

5° Setor – Futuro
“A escola termina o desfile com um questionamento; ‘o que é o saber no futuro’, ‘será que estamos plantando o amanhã com sabedoria?’. O homem tem se desviado tanto do seu eu original, que ele precisa reaprender a viver. Cada ala nesse setor é um novo saber, e temos sete tipos de diversidades que o homem precisa saber respeitar pra promover esse futuro. Temos a ala do meio-ambiente, é preciso conservar a natureza. O último carro é sobre um futuro meio utópico, de paz”.

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