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Série Barracões: Baianas da União da Ilha representam o Maracatu no desfile em homenagem ao Ceará

Criatividade é palavra obrigatória para as escolas de samba enfrentarem a crise neste carnaval. E o carnavalesco Severo Luzardo é um dos artistas mais completos neste quesito. Ao receber a reportagem do CARNAVALESCO no barracão da União da Ilha ele revela que precisou ser criativo já quando recebeu a proposta de enredo, vinda do setor da moda do Ceará.

“O enredo foi proposto pelo pessoal da moda do Ceará. É um mercado bastante promissor, a questão da renda, artesanato. Primeiramente falaríamos apenas de moda, mas eu achei que não se sustentaria em um desfile inteiro no Grupo Especial. Surgiu a ideia de falar do próprio Ceará através de Rachel de Queiroz e José de Alencar. São expoentes acadêmicos, descreveram sua gente e sua maneira de ser. Agregamos mais valor cultural com outros aspectos do estado”, conta.

Ao fazer um enredo com identidade nordestina, Severo revela que procurou sair do pieguismo de retratar o cearense como um indivíduo sofredor, o que segundo ele é uma personificação errada de um estado que possui um dos melhores índices de educação do país e convive com a modernidade sem ferir seus rituais e tradições.

“Eu nunca encarei o cearense como vítima, como muita gente. O próprio cearense não se vê assim. O estado tem uma das melhores educações do país. Por R$ 1 as notícias do dia saem em forma de cordel. Isso vai gerando o raciocínio no contexto social que você vive. Isso ajuda a entender como o cearense se tornou um ser pensante. A cultura das rendeiras, embaixo das carnaúbeiras, onde há uma imensa torre de energia eólica. Ou seja, o progresso chegou mas não aniquilou as tradições. O Ceará dá uma aula de sustentabilidade”, elogia.

15 mil peças oriundas do Ceará reduziram custos

Para colocar a União da Ilha na avenida, Severo Luzardo não usou da criatividade apenas no desenvolvimento do tema. Visitou o Ceará para realizar parcerias no recebimento de materiais que baratearam o projeto e permitiram novamente a escola alcançar os dias finais para o carnaval com tranquilidade.

“Tinha um entendimento que é difícil conseguir patrocínios de governos. Eu sabia que viria pulverizado. Fui em locais específicos onde haviam uma produção artesanal que auxiliasse o meu projeto. Isso gerou uma economia muito grande no nosso carnaval. Receberam 15 mil peças oriundas do Ceará para o nosso carnaval”, explicou Severo.

O Ceará já foi retratado de diversas formas na Marquês de Sapucaí. Mesmo assim, riquíssimo culturalmente, ainda possui aspectos inéditos que o desfile da Ilha irá mostrar, conforme conta o carnavalesco da tricolor insulana.

“Eu tenho o entendimento de procurar fazer um enredo cultural. Preciso deixar uma mensagem em cada enredo. Mostraremos por exemplo no alfenim, um doce. Eu nunca havia falar. É uma espécie de bala de coco, que vira desenhos. São coisas que vamos descobrindo apenas indo lá. Distribuímos na quadra e todos perguntaram o que era”.

‘Corte de verbas afeta toda uma economia criativa’, alerta Severo

O carnavalesco Severo Luzardo está acostumado a construir projetos com escassos recursos. Mas o artista emite um importante alerta com relação aos sistemático corte de verbas da Prefeitura do Rio de Janeiro em relação ao carnaval.

“Esse desfile me deu muita flexibilidade. Eu só faço o protótipo daquilo que vai para a avenida. Eu não sou apegado a materiais específicos. Eu substituo sem sofrer. Só não mexo na cor. Mas o objeto de base pode ser mudado. Tenho plano B, C e D. Temos carros prontos, estamos na reta final de maneira confortável. Sinto na produção do todo por um prefeito que grita que vai reduzir. Isso impacta em toda a cadeia econômica. As lojas compram menos. Não tem 100 metros de pano, não tem 10 galões iguais. Se nossos administradores tivesse o entendimento do dinheiro que corre em volta do carnaval, seria um crescimento”.

Com experiência em produção de figurinos para produções televisivas, Severo revela que essa especificidade de seu trabalho lhe ajuda muito na hora de pensar figurinos e alegorias para os carnavais que faz.

“Há uma troca. Eu me lembro que quando fiz a novela Cordel Encantado, fiquei responsável pelos figurinos do reino de Seráfia. Quando fiz a roupa da Debora Bloch fui colocando rabos de galo, até fazer uma que vinha até o chão. Me disseram que parecia uma rainha de bateria. Era tudo transposto pela linguagem de carnaval. E o inverso também acontece. Não é fantasia, é figurino. O carnaval tem uma sistemática parecida no fazer com a TV”.

O artista finaliza explicando que o dia que o desfile das escolas de samba tiver uma visão como produção cultural as coisas mudarão.

“Como se encara o carnaval? Eu encaro como cultura. Cada um tem um entendimento. Este é o meu. Me preocupo as autoridades que não pensem o desfile como algo no campo da cultura. As escolas possuem tradições, heranças. São 100 anos de samba. Elas precisam ser respeitadas, se fazerem ouvir. O processo não é se acomodar e reduzir só porque não tem verba”, conta.

Entenda o Desfile

A União da Ilha contará o seu ‘A riqueza poética de Raquel e Alencar no avarandado do céu’ através de cinco alegorias e 29 alas. Severo Luzardo explica cada setor de seu desfile para o site CARNAVALESCO.

Setor 1: “As lendas. A imaginação desses escritores, através dessas histórias que vamos contar na abertura do desfile”.

Setor 2: “As comidas e artesanatos. Teremos uma divisão através de um tripé. Ele representa os maiores mercados de Fortaleza. Encerramos com a alegoria do artesanato.”

Setor 3: “As mais famosas e típicas festas do Ceará. Trazemos as baianas nesse setor, que serão o maracatu. A romaria de Padre Cícero, que será nossa bateria. Terminamos com procissão fluvial de São Pedro”.

Setor 4: “As belezas naturais. Açude de cedro, Jericoacoara, Canoa Quebrada e encerramos com os fósseis do Cariri, o maior acervo de fósseis do mundo”.

Setor 5: “Inserimos a moda, com Expedito Celeiro, Ivanildo Nunes, as angels de lingerie. O último carro mostra o futuro e as energias sustentáveis convém perfeitamente com as tradições que o Ceará preserva”.

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