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Série Barracões: Com enredo afro ‘diferente’, Barroca Zona Sul abre o carnaval paulistano de 2020

Por Gustavo Lima

A equipe do CARNAVALESCO visitou o barracão do Barroca Zona Sul e entrevistou Rodrigo Meiners, que integra a comissão artística da escola. O artista faz sua estreia na “Faculdade do Samba” e tem a missão de fazer com que a agremiação permaneça no grupo de elite do carnaval paulistano. A escola trará para a avenida o enredo “Benguela… A Barroca Clama a Ti, Tereza!”, que contará a história da escrava Tereza de Benguela e seus feitos em prol das mulheres e da negritude.

“Mais uma vez eu chego em uma escola com um enredo definido, Tereza de Benguela já era uma ideia do Barroca lá atrás, a escola subindo esse seria o enredo, independente de quem estaria na comissão. É uma ideia do Marcão, diretor de carnaval, só tenho a agradecer, é muito participativo, dá toda assessoria e todo suporte junto com o presidente Cebolinha e o que a nossa comissão precisa. Nós vamos contar a história de Tereza surgindo em Benguela, a travessia dela pro Brasil chegando em Mato Grosso, ela foi uma escrava que veio pro centro-oeste do Brasil pra trabalhar na busca por mineração de ouro”, disse.

Rodrigo contou sobre a importância que o Quilombo do Quariterê, terá no desfile da agremiação.

“Vamos falar sobre a fuga dela junto ao seu marido de todo seu povo e a fundação do Quilombo do Quariterê, que foi muito importante na história do Brasil, pra história da miscigenação do país, é um quilombo que abrigava não só negros, mas também índios, porque a procura da mão de obra era tão grande naquela época, que os colonizadores já estavam escravizando indígenas, porque eles precisavam de gente pra trabalhar. Imagina lá em 1700 você criar um quilombo escondido e habitar negros vindo de Benguela e nativos que vivam aqui com línguas e costumes totalmente diferentes e fazer esse quilombo dar certo e funcionar, produzindo seus próprios alimentos, suas próprias roupas, é algo que hoje é inimaginável, imagina naquela época. Depois a gente vem com o exterminação do quilombo, quando eles acham o lugar, invadem e exterminam o quilombo”, contou.

Como é um enredo que já estava definido quando Rodrigo chegou na escola, talvez, o entendimento e a assimilação da comissão artística com o tema seja um trabalho ainda mais complexo quando se fala de pesquisas dos itens que compõem o desfile, mas o carnavalesco exaltou sua equipe e disse que todo o desenvolvimento do enredo foi discutido, apesar de não ser um tema autoral.

“Quando eu chego na escola o enredo já estava definido. A gente trabalha com uma comissão, sempre importante exaltar meus amigos que também trabalham bastante, cada um no seu setor, por isso que às vezes as reportagens de barracão sou eu mais que faço, mas também tem o Rogério Monteiro, que fica cuidando da confecção das fantasias, tem o Yuri Aguiar, que é mais nosso projetista, mais o presidente Everton Cebolinha e o Marcão, que é diretor de carnaval. Todo o desenvolvimento do enredo foi discutido, temos reuniões presenciais e eu fui muito bem recebido, em nenhum momento alguma ideia que eu tive ou algum conceito que eu queria para a escola, foi vetado, muito pelo contrário, tudo sempre foi muito ouvido, tudo sempre foi muito aberto. Todo mundo deu ideia, a gente discutiu qual seria a ideia melhor e assim chegamos no projeto do nosso enredo”, falou.

O Barroca Zona Sul está voltando ao Grupo Especial depois de ficar 14 carnavais fora, com descensos até para os Grupos 2 e 3, e junta o fato de a escola abrir o carnaval de São Paulo com a questão de Rodrigo estar estrando no Grupo Especial. Tudo acaba se tornando novidade para o Barroca, mas o carnavalesco garante estar bem tranquilo com esta situação, pois já passou por uma semelhante.

“Eu não vou falar que passei por uma situação igual, porque o Grupo Especial é muito diferente, mas ano passado eu assumi a Mocidade Unida da Mooca com a escola vindo do Acesso 2 para o Acesso 1, abrindo a noite de desfiles em um grupo apertadíssimo, só com oito escolas, e a gente tinha a obrigação de permanecer e era meu primeiro ano assinando um carnaval na minha vida. Claro que é muita pressão e muito mais peso por ser Grupo Especial, também por questão de televisão, porque vai ser transmitido pro mundo inteiro, mas eu sou muito tranquilo em relação a isso, eu procuro no dia a dia fazer com que o resultado me agrade e agrade a escola. Quando a gente escolhe virar carnavalesco a gente escolhe virar uma figura pública e críticas a gente sempre vai ver, às vezes eu entro nas redes sociais e vejo algumas críticas e elogios, mas não podemos deixar que interfira no nosso trabalho”, declarou.

Tereza de Benguela é mais um enredo afro, mas que dá para explorar muita coisa no desfile, como a questão da religiosidade, a cidade de Benguela, a vinda para o Brasil e até uma crítica social contra o racismo e machismo que ainda é muito forte em nosso país.

“O mais legal desse enredo é que é um tema afro, porque ela é uma mulher africana, mas o tema é um afro totalmente diferente, e a gente quis trazer esse afro diferente pra não ser um desfile comum, porque tantas escolas já fizeram temas afros. A gente começa a história na África, em Benguela, que foi onde ela nasceu, mas quando a gente vem pro Brasil, temos como plano de fundo do enredo bastante da história do Brasil, então a gente entra em Tratado de Tordesilhas, portugueses, holandeses, entraremos no Mato Grosso, que era o Eldorado, o Tupiniquim, o Pantanal. A gente entra também no lado indígena, porque o quilombo abrigou negros e índios. É uma temática afro, mas no visual do desfile, o visual não é tão clichê. Temos afro, índios, crítica social e vários outros caminhos visuais”, revelou.

Pela segunda parte do samba da escola para 2020, dá para notar em sua letra que o enredo irá questionar o racismo e preconceito contra as mulheres. Enredos desse tipo estão cada vez mais aparecendo nos carnavais do Brasil, e o Barroca também resolveu abraçar a ideia, principalmente a luta contra o racismo.

“Nosso enredo é uma crítica social, mas não entraremos na questão político-partidária, a pessoa é racista porque ela é racista, não é por causa do partido que ela segue, a pessoa oprime, xinga, desvaloriza a mulher na nossa sociedade, não é por causa de partido político, é pela pessoa que ela é. Nosso enredo é muito crítico, traz uma grande reflexão pra todo mundo, mas não é político-partidário”, comentou.

Mesmo com muitas adversidades, a elaboração do carnaval segue dentro do cronograma inicial. O carnavalesco também nos falou sobre o andamento do barracão e as dificuldades de montar o carnaval na Fábrica do Samba II.

“Quando a gente começou a pensar no projeto, pensamos no cronograma inicial e graças a muito trabalho esse cronograma vem sendo cumprido. Problemas financeiros todo mundo tem, não existe ninguém que faça carnaval no Brasil que não tenha problemas financeiros, só que a nossa maior dificuldade esse ano disparado é espaço e logística devido ao barracão. A gente tem aqui o barracão da Fábrica do Samba II, e não é só a gente, é a Colorado do Brás, X9 Paulistana e Pérola Negra que também sofrem com isso, e querendo ou não a condição de disputa fica desigual. A gente tem custo pra alugar e levar outra equipe a outro local, e muito além do custo financeiro, é a questão do trabalho, porque aqui eu não consigo ver a minha alegoria montada, eu não consigo nunca imaginar e visualizar meu carnaval em um todo. A gente tem peça em um outro galpão, lá embaixo e temos peça também lá fora que pega chuva. Sofremos de tabela com o trágico incêndio no barracão da Independente, não queimou nosso barracão, mas perdemos uma semana de trabalho, porque a poeira sujou tudo, a gente estava com dois carros prontos na época e tivemos que trocar piso de pelúcia, placa de acetato que perdeu a forma com o calor. Além da estrutura ser inferior das escolas do Grupo Especial, também teve a semana do incêndio que foi muito ruim pra gente, mas mesmo assim estamos dentro do nosso cronograma, e isso é mérito total da diretoria da escola que fez o possível e o impossível pra gente não sentir tanto essa diferença de galpão”, afirmou.

Conheça o desfile:

SETOR 1: BENGUELA
“É o nascimento de Tereza, é um setor que tem pouca ala por ser o primeiro setor, então a gente vai retratar basicamente Benguela mesmo, uma cidade africana antiga, muito sombria e escura, por ser uma cidade triste, onde todos os habitantes mais cedo ou mais tarde virariam escravos”.

SETOR 2: ESCRAVIDÃO EM BENGUELA
“No nosso segundo setor, nossas fantasias retratam esses habitantes de Benguela já escravizados. Falaremos também dos portugueses, espanhóis e todos os colonizadores”.

SETOR 3: VALE DO GUAPORÉ
“O nosso terceiro setor retrata a região do Vale do Guaporé e todo o trabalho manual que esse povo de Tereza, os habitantes do Quilombo do Quariterê faziam pra se sustentar, todo esse trabalho funcional, como pecuária e plantação”.

SETOR 4: EXTERMINAÇÃO DO QUILOMBO QUARITERÊ
“No nosso quarto setor a gente vai falar do extermínio desse povo do quilombo. Vamos retratar toda a opressão, esse extermínio e a morte de Tereza e de seu marido José Piolho”.

SETOR 5: LEGADO DE TEREZA
“No nosso quinto setor, as fantasias retratam o legado que Tereza deixou aqui. Esse setor é mais uma crítica social, não é político-partidário, mas retrata essa questão do legado de Tereza na Terra, do empoderamento feminino e da valorização da mulher, principalmente a mulher negra”.

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