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Série Barracões: Em seu cinquentenário, Sossego reforça quesitos para fazer história

Por Diogo Sampaio

No carnaval em que celebra seu jubileu de ouro, a Acadêmicos do Sossego aposta, pelo quarto ano consecutivo, em uma temática ligada à religiosidade e à cultura negra. Através do enredo “Os Tambores de Olokun”, a agremiação do bairro do Largo da Batalha, em Niterói, irá narrar às origens do maracatu, manifestação cultural afro-brasileira, criada por escravos no estado de Pernambuco, por volta do século XVIII, inspirada nas cerimônias de coroação dos reis e rainhas do Congo. Com a presença de diversos elementos religiosos no cortejo, a Sossego dará destaque em seu desfile aos relacionados à Olokun, o senhor dos mares, considerado o patrono da diáspora africana e responsável por abrir os caminhos durante a travessia da chamada Calunga Grande.

O projeto, inicialmente concebido pelo carnavalesco Marco Antonio Falleros, e que vinha sendo desenvolvido por Alex de Oliveira, será levado para Avenida pela dupla Guilherme Diniz e Rodrigo Marques. Os dois artistas assumiram o comando do carnaval da Sossego há menos de 15 dias do desfile e terão a missão de correr contra o tempo para conseguir colocá-lo na rua. Em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, Rodrigo contou como foi feita a proposta e os motivos que fizeram com que eles aceitassem o desafio.

“A gente recebeu o convite por intermédio do presidente Hugo Júnior, de toda staff dele e da escola. Confesso que pegou a gente um pouco de surpresa porque, em tese, não iríamos trabalhar no carnaval do Rio nesse ano. Tanto eu, quanto o Guilherme, estávamos envolvidos no projeto do Os Rouxinóis, que é uma escola de Uruguaiana, e quando a gente voltou, recebemos esse convite que muitos nos orgulhou. O pior dos cenários para a gente era ficar de fora do carnaval esse ano, porque na nossa concepção, a gente vinha de um ano bom, por conta do desfile da Unidos da Ponte de 2019. Então assim, nós sabemos que é um desafio grande, mas fazer o Carnaval hoje em dia, com a estrutura que nós temos, já por si só um desafio monstruoso. E a questão do tempo, de ter menos de quinze dias para fazer um carnaval, é um outro desafio, mas nesse momento a gente entendeu que é um desafio que dá pra ser superado. A gente entende que quanto o maior desafio, maior a recompensa. É um momento bom de desempenhar o nosso trabalho e vamos ver no que vai dar”, relatou Rodrigo.

Para o artista, a batalha contra o relógio é realmente o maior obstáculo da dupla neste carnaval. Tanto que, de acordo com Rodrigo, o principal objetivo é aprontar um trabalho digno, para tentar aperfeiçoá-lo conforme houver oportunidade.

“Aumenta o grau de dificuldade de você fazer um bom trabalho porque o tempo, de fato, você não consegue driblar. Você não tem uma solução para o tempo, tem que executar o trabalho naquele momento, afinal o carnaval não vai ser adiado. É uma situação que eu diria ser um pouco incomoda. Mas, ao mesmo tempo, também não posso usar isso de desculpa, porque nós aceitamos esse desafio e a nossa lógica de desenvolvimento desse carnaval é executar aquilo que foi proposto. A gente entende que o objetivo maior desse trabalho é executar, fazer o melhor possível, no menor tempo possível”, declarou.

Rodrigo também frisou que apesar do pouco tempo, a dupla fez algumas alterações pontuais no projeto de carnaval que vinha sendo desenvolvido pelos carnavalescos anteriores na escola. Porém, nada que alterasse a base já existente do desfile.

“Lógico que a gente fez algumas adaptações, conforme a necessidade do que a gente entendia relevante. Mas digamos que a estrutura do carnaval, no que se refere a enredo, a desenvolvimento, a desfile, isso já estava meio esquematizado. Portanto, a gente pegou aquilo que consideramos bom e mantivemos; enquanto aquilo que a gente considerou que não era bom, nós mudamos na medida do que era possível. Então assim, a gente aproveitou muita coisa, cada um deu a sua contribuição. O esqueleto do carnaval, principalmente a parte teórica, já estava montada. A escola já estava com ateliê em funcionamento, os carros já estavam começando o seu trabalho… A gente apenas mudou o que tinha que mudar. E o mais importante, respeitando o que era, digamos assim, proposto desde o início, o que foi escrito. Na medida do que é possível por nós, estamos dando a leitura do que foi proposto, mas com um toque e um pouco da nossa cara”, assegurou.

Estética e temática afro

Assim como em 2019, Rodrigo Marques e Guilherme Diniz têm em mãos um enredo de temática africana. Questionado pela reportagem do site CARNAVALESCO sobre como a dupla faz para se reinventar e não cair em repetições, Rodrigo destaca que a solução é pensar para além do lugar comum.

“Há de ser entendido que quando você tem uma temática afro, já meio que define alguns materiais alternativos. Muito por conta da crise, você tem que tirar praticamente leite de pedra, então você revê muitas coisas. Daí as pessoas falam: ‘Ah, fez o carnaval afro e usou tal material’ ou ‘Está usando muita palha e etc..’. Isso é mais pela necessidade, do que por opção do profissional, apesar de não achar que seja a mesma estética. Acho que cada trabalho tem a sua leitura, tem sua proposta. Você está contando uma história, tem que sintetizar isso nas suas alegrias, nas suas fantasias, no seu samba E aí que tem que fugir da caixa, trazer conceitos novos, trazer coisas novas e é nisso que a gente aposta, pensar um pouco diferente. É lógico que, infelizmente, não será possível em sua totalidade por falta de tempo. E até porque a gente tá respeitando o que foi proposto no início, o que foi escrito. Então, a gente está mais preocupado em finalizar o carnaval a tempo. Claro, dando aquele tempero ali, dando um pouco da nossa cara no que for possível. Falta pouco tempo e a gente precisa ter um carnaval que honre as cores da Sossego, que honre o Largo da Batalha e a sua comunidade. Estamos apostando que esse conjunto, esse mix de soluções que a gente está propondo, junto com aquilo que foi pensado anteriormente e o que foi escrito, tragam coisas que sejam diferentes e interessantes na Avenida”, argumentou.

Apoio da Prefeitura de Niterói

Em um ano marcado pelo fim do repasse de verba da Prefeitura do Rio para as escolas do Grupo Especial e da Série A, a Acadêmicos do Sossego não ficou completamente desamparada ao receber um aporte financeiro, vindo da administração municipal de Niterói, estimado em R$ 1 milhão. Indagado pelo site CARNAVALESCO se essa receita pode ser caracterizada com uma espécie de vantagem para agremiação na disputa, Rodrigo minimiza:

“Esse apoio de fato é importante para as escolas de Niterói. Qualquer dinheiro nessa época de crise, qualquer um real empregado a mais, é muito bem vindo. Mas não diria que isso dá uma vantagem, até porque dinheiro não compra tudo. Se fosse assim, nós compraríamos tempo para desenvolver esse carnaval com um pouco mais de calma, com soluções mais bem implementadas e elaboradas. Então, não considero essa verba uma vantagem, porque acho que o talento prevalece sobre o dinheiro. É lógico que isso é bem quisto, afinal todo mundo quer ter condições mínimas financeiras”, respondeu Marques.

Reforços para não passar sufoco na quarta-feira

Além do tempo, outro desafio que a dupla terá de encarar é o de melhorar os resultados alcançados pela Sossego. Desde que chegou a Série A, a maior colocação da agremiação foi um 11º lugar em 2017, primeiro ano dela no grupo. Em 2018, ficou em último lugar na classificação, mas foi beneficiada pelo cancelamento do rebaixamento. Já no carnaval passado, conseguiu escapar da degola apenas na última nota lida.

“Infelizmente, nós não podemos precisar os motivos que levaram a escola a ter colocações que não fossem boas. Mas é claro que a gente tem uma ideia do que é necessário para reverter este quadro e estamos, de fato, trabalhando para isso. Acreditamos muito que a escola precisava de certa dose de ânimo e a direção da Sossego fez boas contratações, afinal não se faz carnaval com uma pessoa, se faz com uma equipe. E neste ano, a escola passou a ter quesitos muito fortes: a gente tem um casal de mestre-sala e porta-bandeira consagrado, um coreógrafo da comissão de frente consagrado, um intérprete consagrado, temos um mestre de bateria jovem e muito promissor, fora outras coisas. Então, a gente veio pra somar com esse trabalho. A escola está tentando chegar em um patamar acima do que ela vem apresentando”, apontou Rodrigo Marques.

Entenda o desfile:

No carnaval de 2020, a Acadêmicos do Sossego irá abrir o segundo dia de desfiles da Série A, com o enredo “Os Tambores de Olokun”. A azul e branco do Largo da Batalha levará para Marquês de Sapucaí um total de 23 alas, três alegorias, um tripé e aproximadamente 2100 componentes. A apresentação será dividida em quatro setores, como explica o carnavalesco Rodrigo Marques:

Setor 1: “Abrimos o primeiro setor com os mares, sendo este o reino de Olokun. Tudo o que se vê no azul-marinho é domínio de Olokun: ora azul-sossego no cristalino espelho d’água, ora azul-mistério em profundezas intocáveis. O senhor dos mares habita a infinitude dos abissais onde ergueu o seu reino de encante com seu séquito de tritões e ninfas do mar. Sua presença é evocada pelo ressoar de grandes conchas que ecoam triunfantes por todos os mares”.

Setor 2: “Ao longo da história das culturas da diáspora africana no Brasil, os tambores muitas vezes contaram o que a palavra não podia dizer. Este mesmo mar trouxe estranhos de um velho mundo. Desembarcaram lusitanos, franceses e holandeses em ‘Fernambouc’, território indígena até então. O maracatu teria se originado a partir das cerimônias onde os africanos escravizados remontavam a coroação dos reis e rainhas do Congo”.

Setor 3: “O maracatu é reconhecido como uma prática cultural de Negros, relacionado às religiões de terreiros, como candomblé, jurema e umbanda; pois os escravos o colocavam no cortejo junto a elementos religiosos. Assim, neste setor representamos todo o cortejo na forma de seus personagens, louvando Dona Santa, sendo esta a rainha do maracatu”.

Setor 4: “Celebramos ‘Os Tambores de Olokun’, grupo percussivo e de dança carioca que homenageia o sagrado orixá da nação Nagô Egbá. Por tanta admiração a todos os elementos sagrados e profanos que envolvem o folguedo, o grupo realiza oficinas de percussão e dança, respeitando e contribuindo para divulgar estas tradições musicais, históricas e religiosas de nossa identidade afro-brasileira. Ação que acaba por transformar a vida de inúmeras pessoas, através da sua arte singular, e traz para o Rio de Janeiro um pedacinho de Pernambuco”.

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