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Série Barracões: Enredo com contexto histórico e leitura moderna promete impactar durante desfile da Dragões

O especial de barracões do carnaval de São Paulo visitou a confecção da Dragões da Real para o carnaval de 2020, que está localizado na Fábrica do Samba. Na data em questão, o projeto já estava praticamente finalizado, com poucos ajustes a se fazer. O carnavalesco Mauro Quintaes recebeu a equipe do CARNAVALESCO e detalhou o tema: “A Revolução do Riso: A arte de subverter o mundo pelo divino poder da alegria”.

“O nosso enredo fala justamente da evolução do riso, o poder que a alegria tem nas pessoas em transformação, cura. Pra não ficar muito simples, porque a função do carnaval é passar informação, a gente traz a história da comédia desde os seus primórdios. A gente abre o desfile com uma invasão de ataques de risos, é uma estrutura bélica e engraçada pra provocar o riso. Aí falamos da criação da comédia grega, das peças do Molière. Temos uma parte delicada, mas gostosa de fazer que é sobre o humor em tempos de cólera, e como o indivíduo pode usar a comédia para protestar, pra subverter a lei através do humor, e isso nos remete aos anos 80 e 90. Em plena ditadura militar eles passavam mensagens, e eu usei como referência principal a obra O Grande Ditador, do Chaplin. É um setor todo preto e branco e apenas as bandeiras de protesto são coloridas. A gente fecha com a expressão que mais define o enredo que são os Doutores da Alegria”.

Durante a pesquisa de elaboração da sinopse, o carnavalesco conta que curiosidade histórica do século XVII foi o que mais chamou atenção.

“No setor do Molière, a gente fala um pouco da caricatura política que eram feitas na época, de Maria Antonieta, Luis XV, Napoleão, isso também aparece no enredo. Nessa época surgiu a questão de você desenhar uma rainha, a caricatura, a gente pegou o modelo das ilustrações originais. Acho muito importante, porque ali surgiu uma nova leitura da política baseada também na comédia”.

Analisando o estilo de desenvolvimento do projeto do Mauro Quintaes, nota-se uma preocupação com o público nas arquibancadas, e também aos que assistem pela televisão.

“Eu sempre falo que o samba de enredo é a legenda do meu filme, e o nosso samba tem um refrão que vai pegar na terceira passagem. Outra coisa que costumo fazer é trazer personagens populares, e eu consigo essa ligação. Em um dos nossos carros vamos trazer as nossas crianças fantasiadas de Chaplin, e é um exemplo. Isso faz com que os torcedores torçam para as escolas, mesmo não sendo sua agremiação”, disse.

Mauro revela também que ideia do tema surgiu da direção da escola.

“A ideia veio do vice-presidente, o Binho. A gente sentou pra criar um roteiro pra que não caíssemos no clichê. Eu e o Gustavo Melo trilhamos uma linha histórica que desemboca nos Doutores da Alegria”.

Leitura do enredo promete surpreender

Quem escuta o samba, lê o nome do enredo e projeta o modelo de desfile da Dragões da Real pode se surpreender com o resultado. Isso porque a escola está bem atenta para fugir do “clichê”. Durante a entrevista, o artista conta que desfile carrega um contexto histórico importante e inesperado.

“Certamente o público vai esperar algo relacionado a circo, palhaço. A nossa logomarca remete a isso. Mas o nosso enredo é sobre a história da comédia, a maneira de como o ser humano percebeu de como o sorriso é terapêutico. O carnaval tem que causar surpresa. Se faço um enredo sobre palhaço, vai ser aquele clichê. O carnaval tem que ter a carta na manga, impactar o público com a surpresa. Até pelo samba, o público imagina que vai vir vários palhaços, e não temos nenhum momento de circo, ninguém espera ver a Grécia, um ditador. É importante deixar o público esperando uma coisa, e apresentar outra, isso é o grande triunfo do carnaval. A escola gosta disso, eu gosto”.

O final do carnaval da agremiação desemboca no contexto principal, que são os Doutores da Alegria. Uma coroação ao trabalho que efetuam desde os anos 90.

“Os Doutores da Alegria nunca tiveram uma homenagem desse tamanho, eles estão envolvidos na maior festa popular do país. O Wellington Nogueira, fundador do projeto, visitou o barracão e se emocionou muito. Comentei com o presidente Tomate que estamos no caminho certo, e evidente que a escola se preparou nos outros quesitos. O resultado não vai tardar a chegar”, garantiu o carnavalesco.

Mauro Quintaes aproveita pra defender julgamento mais criterioso ao contexto histórico, com menos importância aos pequenos defeitos.

“Eu fiz um abre-alas ano passado, que modéstia à parte foi belíssimo, e pontuaram que um componente descascou o piso. Cadê o equilíbrio? Nos anos anteriores, pontuaram a Dragões por causa de um grão de milho que caiu. Isso não é motivo pra descaracterizar a nota. Aqui a gente tem que se preocupar em grudar tudo, não deixar nada cair, porque se soltar uma coisinha, você perde. Falta uma visão mais do enredo, por exemplo, se eu coloco o Molière vestido de bolinha, eu só preciso deixar que elas estejam iguais e sem nenhum adereço faltando. Não tem um julgamento como ‘Molière nunca se vestiu de bolinha, 9.9’. O julgador não pode apenas conferir, ele tem que ter o punho pra falar se aquela roupa não é daquela época, por exemplo”.

Carnavalesco destaca importância da escola em momento difícil

No começo do ano a mulher do Mauro Quintaes, Kátia Sharp, faleceu por problemas de saúde. Durante a conversa, o artista comentou sobre importância da comunidade da Dragões da Real no episódio.

“Eu me sinto muito bem aqui na Dragões. Toda a minha família está no Rio, e a escola preenche muito bem esse vazio familiar. Eu tive um episódio muito triste recentemente, e fui ao ensaio logo depois. O presidente me fez uma grande homenagem na quadra, e isso me comoveu muito, principalmente ao ver a comunidade toda participando da minha dor. Não sei qual é o futuro, mas a minha passagem por aqui já me deixou muito feliz”, finalizou.

Conheça o desfile

A Dragões da Real terá 2 mil componentes, em 22 alas, com cinco alegorias.

1° SETOR – Ataque de risos

“Nós partimos do achado de um papiro de ladis, onde ele subverte essa versão de gênesis. No papiro tá escrito que Deus criou o mundo através de uma gargalhada, e baseado nisso, se Deus criou o mundo através da gargalhada, quem somos nós pra não rirmos? Abrimos aqui com o ataque de risos. É um trecho muito bélico, tem canhões, tanques de guerra, todo um projeto de guerra”.

2° SETOR – Comédia Grega

“Aqui traremos um carro bastante clássico, mesmo com as cores vibrantes. Tem cortejo de baco, o baco, faunos, centauros. É diferente, e não é um caixotão, ele é bem arejado”.

3° SETOR – Comédia Molière

“Já aqui é um setor mais clássico, mais carnavalzão. Tem cortinas de veludos, encenações. Teremos dois palcos laterais e vamos encenar uma peça. Tem uma série de coisas, eu brinco um pouco nessa alegoria. Ela tem dois momentos, é um pouco parecido com o que fiz ano passado onde tinha quatro momentos”.

4° SETOR – Grande ditador

“Esse carro é todo em preto e branco, onde o falo da peça ‘O Grande Ditador’ do Charles Chaplin, e tem teatro também. As crianças vêm também pra amenizar o impacto do carro, a gente teve essa preocupação também de equilibrar”.

5° SETOR – Celebração da cura pelo riso

“O fechamento é uma grande brincadeira. É o Welington Nogueira saudando o povo do Anhembi e dizendo para o que veio. Os Doutores da Alegria vão estar presentes, juntamente com a alas das crianças. Tem muitas luzes e efeitos especiais, porque a Dragões é uma escola que se preocupa com isso e eu sempre faço carnavais para arquibancada. Se você conseguir fazer com o público entenda, você consegue também com o julgador”.

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