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Série Barracões: Estácio homenageia a apaixonada torcida do Flamengo buscando fugir da estética óbvia de futebol

Dupla de carnavalescos promete que o desfile desse ano será bem diferente do que já foi visto sobre futebol no carnaval

“Parabéns dessa galera, campeã da nova era”, a modificação nos versos antes do refrão principal, realizada pela Estácio de Sá dá o tom de que a releitura do enredo de 1995 traz atualizações importantes, principalmente, ao se falar de um clube que de 2019 para cá ganhou títulos importantes e está hoje no pedestal do futebol brasileiro. A Estácio está longe de apenas querer celebrar as grandes conquistas no âmbito esportivo de Gabigol e companhia. É também a intenção do enredo, mas acrescentar a paixão da torcida pelo rubro-negro que aguardou alguns anos de “vacas magras” sem abandonar o time, enquanto o clube se ajeitava financeiramente.

A dupla de carnavalescos Wagner Gonçalves e Mauro Leite trabalha junta pela primeira vez com a missão de reconduzir a Vermelha e Branco de volta ao Grupo Especial depois do rebaixamento em 2020. Experiente, Wagner Gonçalves tem como principais trabalhos, o desfile da Mangueira de 2011 “O Filho Fiel, Sempre Mangueira”, que conquistou um terceiro lugar no Grupo Especial desenvolvendo o carnaval com Mauro Quintaes, e o título da Série A de 2012 como o enredo “Corumbá – Ópera Tupi Guaikuru” pela Inocentes de Belford Roxo, que rendeu um acesso para a escolar a elite do carnaval em 2013. E. Mauro Leite, que foi efetivado como carnavalesco da Estácio após integrar a equipe de Rosa Magalhães por 34 anos, inclusive no desfile “Pedra” de 2020.

Wagner conta que a ideia do enredo veio da direção da escola e que os artistas buscaram trazer uma visão diferente do que foi abordado especificamente em 1995. “Primeiro foi uma sugestão da escola, o enredo não é meu, nem é do Mauro, nós recebemos uma ligação do presidente, nós sabíamos dessa possibilidade entre os possíveis enredos, e ele bateu o martelo de que seria. E, a gente achou interessante, eu particularmente já queria fazer um enredo de futebol, que eu acho que os enredos de futebol são muito taxados, estética muito determinada, e eu achei que a gente tinha uma oportunidade de fazer uma coisa diferente. E, quando a gente começou a discutir a criação, o Mauro compartilhava da mesma ideia. Eu falei, Mauro vamos fazer carnaval com fantasia de carnaval, uma história mais consistente, e aí deu super certo”, revela Wagner Gonçalves.

O carnavalesco Mauro Leite explica que a paixão do torcedor rubro-negro será o fio condutor do desfile a partir de uma visão lúdica e da representação de uma narrativa fictícia para, a partir daí, trazer os fatos mais históricos para o enredo.

“A gente partiu do princípio de incluir nessa história o torcedor também. Eu acho que isso é que faz o diferencial do enredo. Porque a gente não está só contando a história do time, a gente incluiu o torcedor como um personagem, e a gente está tentando mostrar o Flamengo pelo lado da paixão do torcedor também. É a visão daquela pessoa que é apaixonada pelo time, que tem a história que a gente construiu no enredo, que seria uma pessoa que está nascendo no ano que a Estácio fez o desfile de 1995. A pessoa estaria ainda na barriga da mãe na verdade. E com 27 anos, ela que vai contar essa história. E a barriga dá até essa conotação da bola”, explica Mauro Leite.

Mauro complementa e ratifica que a dupla buscou não ficar presa a uma visão histórica e uma citação apenas de fatos relevantes sobre o Flamengo. “Eu acho que tem uma coisa importante também, é que não é uma visão muito histórica, no começo a gente tem um pouquinho da história do Flamengo, mas eu acho que a ideia é que seja mais uma comemoração. Não é exatamente uma ‘contação’ de história, um documentário, uma coisa com uma cara documental assim. É como se fosse realmente uma comemoração de uma vitória, uma celebração de uma paixão”, entende Mauro.

A ideia é trazer o desfile de 1995 como uma jóia na história da Estácio estabelecendo essa relação que se iniciou há 27 anos e que hoje é retomada de onde parou. “Temos uma metalinguagem de usar vários trechos do samba da Estácio, porque na verdade quem pode fazer o Flamengo, que é um novo Flamengo, não é o mesmo de 1995, é a própria Estácio, porque ela já fez, então ela é meio que a dona desse time. Então, é a Estácio olhando o passado, o presente, e o futuro. Então, o enredo tem uma conotação metalinguística também. É um enredo falando de enredo também. Como que ela olha para o seu enredo, como que ela pode reescrever essas possibilidades. E tornou isso mega interessante e atemporal que a gente tem um mundo de possibilidades”, acredita Wagner Gonçalves.

Carnavalescos prometem fugir da estética mais comum de futebol

Enredos de futebol sempre voltam à pauta dos desfiles das escolas de samba. Há quem não goste, mas é compreensível entender que o carnaval como uma festa e uma manifestação cultural que traz conhecimento e explanação sobre todo o tipo de assunto, também tenha o interesse em falar de uma das maiores paixões do brasileiro. Da Beija-Flor de 1986, “O mundo é uma bola”, passando pela própria Estácio de 1995, com a Tijuca em 1998 homenageando o centenário do Vasco da Gama, comemorando o pentacampeonato da seleção brasileira e a narrativa de superação de Ronaldo, contadas pela Tradição em 2003, ou a celebração da vida e carreira de Zico pela Imperatriz em 2014, entre outros que trouxeram alguma parte do esporte mais popular do brasil para Avenida, há sempre um temor pelas agremiações ficarem um pouco limitadas pela estética que acaba recorrendo a signos muito iguais.

A dupla de carnavalescos da Estácio promete que o desfile desse ano será bem diferente do que já foi visto sobre futebol no carnaval. “Eu acho que o que pesou e o que se tornou interessante foram os desafios que a gente foi construindo para a gente mesmo. Porque nós tínhamos um tema sobre um time, tem uma cor muito forte, temos uma linguagem de carnaval pré-estabelecida. Futebol, meia, essa coisa toda. E nós sabíamos que nós queríamos coisas diferentes e nós nunca tínhamos trabalhado juntos. E o que é diferente para mim, pode não ser diferente para ele. Já que nós tínhamos liberdade, construímos essa narrativa como se fosse uma partida de futebol, então é no compasso de uma bola, ela vai e volta na história, e não é uma história linear”, explica Wagner.

O carnavalesco da Estácio de Sá mais experiente complementa ao discorrer sobre a paleta de cores. “A gente poderia contar essa história a partir de impressões e dos signos que nós já tínhamos na mão. E, eu acho que o que se tornou mais interessante foram esses signos estéticos. Por exemplo, as fantasias, nós poderíamos ter toda a escola vermelho e preto, e não é vermelho e preto assim, acho que predomina o vermelho, mas tem todas as cores. À medida que nós formos trabalhando esse figurino, aí entra o coral, entra o roxo, entra um mundo de possibilidades com o vermelho agrupando isso. Acho que o desafio, foi o desafio estético mesmo, em termos de história é essa história mesmo da paixão do torcedor e desse clube que todo mundo conhece e que tem mais de 100 anos”, esclarece Wagner Gonçalves.

A preferência pela temática surge em um universo de dificuldades financeiras, em que o futebol apresenta algumas relações estéticas se tornando bastante viável do ponto de vista econômico, é o que acredita Wagner Gonçalves. O artista afirma que entende esse lado, mas preferiu buscar uma outra roupagem que, segundo o carnavalesco, surpreendeu e vem agradando a escola.

“Os enredos de futebol, sobretudo no Acesso, a opção de fazer essas coisas de uniforme, é uma opção de ser mais barata, a gente entende isso também, não é crítica, ou achando que a gente está fazendo uma coisa que é melhor ou pior. E, nós tínhamos também a opção de buscar opções mais baratas, mas fazer um carnaval surpreendente. A gente, achou que nesse caso específico, fazer um carnaval com cara de carnaval em um enredo de futebol, sobretudo do time mais popular do país, seria essa reversão de expectativa, porque é o que todo mundo espera, ‘ah, a fantasia vai vir vestida de futebol’, e toma juíz, e toma bola, todo mundo esperava, e isso na nossa concepção seria uma concepção preguiçosa, ou então, trivial, então a gente apostou de criar reversão de expectativa. E tem dado certo, porque até a própria escola estranhou, ela ficou meio ‘caramba, está bonito, está diferente ‘, e depois entendeu e abraçou”.

Samba e carros voltados para a paixão rubro-negra são trunfos dos carnavalescos

Uma possível vantagem para a Estácio é o samba de 1995, já conhecido da comunidade e que se expandiu e chegou às torcidas organizadas do homenageado, o Flamengo. O carnavalesco Mauro Leite acredita que essa relação escola mais nação rubro-negra pode facilitar um pouco as coisas para o sucesso do desfile.

“Eu acho que a gente tem que tirar partido também de que o samba é quase um grito de guerra, grito de torcida. E eu acho que se isso já aconteceu na Avenida, espero que aconteça de novo, é um trunfo”, entende Mauro.

Wagner Gonçalves acrescenta que a energia que já se pode identificar da comunidade nos ensaios que têm sido realizados é outro ponto que indica o sucesso da obra para o desfile.

“O que o Mauro quer dizer que se a gente fizesse um samba novo, e o samba fosse aclamado, é uma possibilidade, você não sabe como ele vai funcionar na Avenida, esse samba já funcionou em 1995, ele cada vez vem crescendo mais, e o torcedor já abraçou. Teve flamenguista que falou ‘esse é o samba?’, achei que era o hino da torcida. A gente acredita que ele vai ser um sacode nesse carnaval da Série Ouro, que é um carnaval popular, que tem muitos torcedores, a gente acredita até pelos ensaios, que a gente já viu que a energia é outra, é muito forte mesmo”.

Aliás, essa relação, torcida e time, vai ser bastante retratada tanto no final quanto no início do desfile da Estácio de Sá. Mauro revela que o fato do rubro-negro ser conhecido como um time de massa, de torcida popular, que chega muito às camadas mais pobres da população, também foi explorado, pois o carnaval também é uma festa popular, é uma festa de todos, mas que evidencia também os mais pobres, os coloca no ponto mais alto. Mauro aposta que no final essa relação que vem retratada também no último carro vai tocar o coração dos rubro-negros.

“Eu acho que isso (relação desfile e flamenguistas) vai acontecer no final, pois tem uma comemoração de uma vitória, e aí eu acho que o torcedor vai se identificar mais. Lá para o último setor da escola”.

Já para o carnavalesco Wagner Gonçalves, essa emoção já vai acontecer no início do desfile quando os rubro-negros verem o abre-alas nas cores do clube, valorizando os símbolos da Estácio e do Flamengo.

“O Mauro acha que vai tocar o torcedor no final, e eu acho que já é no começo com o abre-alas vermelho e preto. O Vermelho e preto é um signo universal, pode representar outra coisa, mas remete ao Flamengo. ‘Tá vestido de vermelho e preto, tá vestido de Flamengo?’, ‘Tu é flamenguista?’ Acho que a gente convencionou usar o vermelho e preto para uma série de signos, a gente pesquisou e configurou isso no abre-alas, acho que já vai chamar a atenção”.

Nova era de conquistas do Flamengo terá lugar especial no desfile

É bem compreensível entender que o novo momento do Flamengo, campeão da Taça Libertadores da América em 2019, bicampeão brasileiro em 2019 e 2020, além de títulos da Supercopa do Brasil e Recopa Sul-americana, campeonato estadual, também foram decisivos para a Estácio pensar em uma releitura daquele carnaval de 1995. O apelo é bastante grande, e a torcida anda bastante orgulhosa nos últimos anos.

“Esse novo Flamengo de 2019 para cá virá representado sim. Esse é um dos motivos para que nós fizéssemos essa narrativa nova para incluir esse feito do Flamengo depois de 1995. O título da Libertadores, tem essa paixão da torcida, como a torcida participou. Tem essa coisa de festa, como festa na favela que é uma gíria totalmente contemporânea. Esse Flamengo atual, o Flamengo ganhou e é ‘festa na favela’ ”.

Entenda o desfile

Para o enredo “Cobra-coral, Papagaio Vintém, #VestirRubroNegro não tem pra ninguém”, a Estácio de Sá vai trazer 3 alegorias, um tripé, 22 alas e cerca de 2500 componentes. Wagner Gonçalves comentou que a escola buscou se manter grande após passar pelo Grupo Especial em 2020.

“Vamos com o número máximo da Série Ouro, como aqui na Estácio a gente veio do Grupo Especial, está na Cidade do Samba, a gente criou os encaixes para os carros continuarem grandes, é a nossa intenção de manter o impacto. A gente conhece a realidade do Acesso, então a gente sabe que essa decisão de não ter acoplamento é uma decisão inteligente para também não ter um desnível muito grande, mas a Estácio vai aproveitar ao máximo o que ela pode, porque chassi nós tínhamos”.

A dupla de carnavalesco decidiu não realizar a divisão por setores. Através do que foi apresentado na entrevista e através da leitura da sinopse, imagina-se que a escola esteja dividida desta forma:

Primeiro Setor: “Pré-jogo”
Escola traz a história do bebê que desfilou na barriga da mãe em 199 no desfile do ensaio, fio condutor, que aos 27 anos em 2022 vai dar um novo olhar para o desfile de 1995. Símbolos da Estácio e do Flamengo vão vir representados nesse setor, onde deve predominar o vermelho e preto.

Segundo Setor: “Apita o árbitro”
“Num passe de mágica, a poesia enfeitada de luar: Adílio toca para Domingos da Guia…. Zico… Fio Maravilha… Everton Ribeiro-Zizinho -acompanha-de-perto-Júnior-toca-para-Castillo-Gabigol fintou o primeiro, avançouprapequenaárea… UM LANÇAMENTO NO COSTADO DA ZAGA-OLHAOQUEELEFEZ-OLHA-O-QUE-ELE-FEZ, Gabriel Barbosa, GabiGooooooooool é o nome da emoção! Foi um gol de anjo um verdadeiro gol de placa. Apite comigo, galera!” (Trecho retirado da Sinopse)

Terceiro Setor: “Show do intervalo”
“Notem! É o jogador número 12 do Flamengo está no meio do campo. É ele quem finaliza na grande área das oficinas e das fábricas e quem comanda a equipe através do radinho a pilha. Herói que chacoalha pelos trens, que xinga e berra nas mesas dos botecos. Seu coração é o tambor que emociona a galera!” (Trecho retirado da Sinopse)

Último Setor: “Errrrrrgue o braço (e a taça!)”
“Festa na Favela”, a gíria representa a presença maciça de torcedores rubro-negros entre as camadas mais pobres da população, sinal de time mais popular do país. Haverá a celebração por uma grande vitória do rubro-negro.

Ficha técnica do Barracão:
Diretor de Barracão: Roni Jorge
Chefe de Adereços e Alegorias: Júnior Serqueira, Fafá, Bruna Bee
Escultor: Gilberto França
Pintor: Gilmar

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