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Série Barracões São Paulo: Força de Carolina de Jesus é a mensagem do Colorado do Brás

Artista promete inovar na avenida e revelou que carro o abre-alas será feito inteiramente de papelão, onde foi o começo da história de Carolina

O site CARNAVALESCO visitou o barracão do Colorado do Brás e conversou com o carnavalesco André Machado, que explicou todo o desenvolvimento do desfile da escola para 2022. A agremiação irá para a avenida com o enredo “Carolina – A cinderela negra do Canindé”, uma homenagem que irá contar toda a história da escritora Carolina de Jesus.

“Assim que eu entrei na Colorado, em uma reunião com o presidente Antônio (Ka), falei sobre as possibilidades de enredo, de Carolina de Jesus e ele queria saber a forma como eu iria contar, porque ele não queria coisas tristes na escola e eu mostrei e convenci que a gente não falaria de tristeza. Deu certo e a escola abraçou. Carolina Maria de Jesus nasceu pra mim há 7 anos atrás e, por ser um enredo que não tem patrocínio, demorou muito pra se tornar realidade”.

André Machado disse que se identifica com a história de vida da escritora e que o enredo ganhou mais verdade especificamente no Colorado. “Primeiro que eu me identifico muito com a história de Carolina de Jesus, porque eu já fui morador de favela. Quando eu li ‘Quarto de Despejo’, me emocionei algumas horas. Não sofri o que ela sofreu, mas eu me identifiquei. É um tema que eu sempre tive vontade de transformar em enredo, deu certo e teria que ser na Colorado, porque Carolina de Jesus viveu na favela do Canindé, que fica na área do Brás. Serviu até pro enredo ganhar mais verdade. Nada é por acaso. Eu desenvolvi o enredo em cima da palavra coragem, porque ela foi uma mulher corajosa. Mesmo passando fome, ela nunca desistiu”.

O carnavalesco se aprofundou no enredo, deu mais detalhes e se mostrou otimista quanto à colocação da escola. “Falando do enredo em si, eu propus para a escola falar de uma forma bem lúdica, mas não deixando de contar a verdade sobre Carolina Maria de Jesus. A gente faz uma analogia com a história da Cinderela. No caso da Disney, a Cinderela trabalhava muito e encontrou uma fada madrinha, levou ela para o baile e se tornou a Cinderela por conta de um sapatinho que um príncipe levou até ela pra ser provado. Na história de Carolina, ela também trabalhou muito, batalhou a vida inteira, passou fome e por ser negra e favelada, demorou muito pra se tornar escritora, até ser reconhecida como tal. A fada madrinha dela, no caso, foi o Audálio Dantas. Um jornalista que apareceu na favela do Canindé quando ela estava sendo desapropriada e conheceu Carolina de Jesus, ela mostrou o livro que estava escrevendo, resolveu publicar e, o livro ‘Quarto de Despejo’, acabou se tornando o livro mais vendido da época. Foram 10 mil cópias em uma única semana e 100 mil cópias em 1 mês e Carolina passou a ser uma celebridade”, disse o artista, que emendou ainda:

“Aí eu falo que foi a elite literária da época, porque vendeu mais que Jorge Amado e Clarice Lispector. Só que Carolina entendia muito de escrever, mas não entendia de matemática. Então, ela ganhou muito dinheiro, mas também perdeu na mesma proporção e as pessoas passaram a explorar ela. Engraçado é que a Carolina é passou a vida inteira sendo a negra escritora ou favelada escritora e a gente quer separar isso e colocar a escritora na frente. Ela sabe que foi negra, mas queria ser reconhecida como escritora, independente da cor. Essa é a mensagem que a Colorado quer passar e eu tenho muita fé que nós vamos chegar entre as cinco”.

Segundo André Machado, a força e inspiração para muitas mulheres, foram os vestígios de pesquisa que mais fascinaram o carnavalesco. “A força dela. Eu acho que ela serve de inspiração pra muitas mulheres. Tem uma passagem no livro dela ‘Quarto de Despejo’ que é muito triste, onde foram oferecidos ratos pra ela comer. E também por ser um enredo muito atual, falar da favela, dessa época de miséria reflete muito o que vivemos hoje. Principalmente pela quantidade de pessoas que estão nas ruas passando fome. Por exemplo, a gente liga a TV pra assistir um telejornal e vê pessoas na caçamba de lixo procurando ossos pra fazer uma sopa pra poder se alimentar. Isso a Carolina viveu e acho um enredo muito importante. Carolina é uma inspiração para tantas outras que estão catando papelão e que acreditam em um sonho. Ela deixou isso como um legado. Não importa de onde você venha, só tem que focar nos sonhos que você quer seguir e realizar”.

O artista promete inovar na avenida e, nos revelou, que carro o abre-alas será feito inteiramente de papelão, onde foi o começo da história de Carolina. Para o carnavalesco, esse momento do desfile irá impactar o público no Anhembi. “Têm dois momentos dentro do nosso desfile que vão ser bacanas. Estamos trazendo algo novo. Carolina Maria de Jesus era catadora de papelão, então eu resolvi o nosso abre-alas ser feito todo de papelão. Um material que acho que nunca foi usado dentro do carnaval. Talvez cause estranheza nas pessoas quando verem no Anhembi antes dos desfiles, mas a ideia é essa. Fazer com que a matéria-prima de qual a Carolina sobreviveu, seja uma alegoria também. Tem uma aula que é a ‘catadores de papelão’, onde 90% da fantasia é feita de papel e papelão. A gente fez um trabalho de pesquisa, de resina para impermeabilizar bem esse material, porque em São Paulo está sempre chovendo”.

Conheça o desfile

Setor 1
“No primeiro setor do desfile, eu faço uma analogia da Carolina de Jesus com a figura da libélula. Cientificamente, a libélula antes de se tornar libélula, é uma ninfa. Ela passa oito anos dentro d’água e depois ela vai subindo até virar uma libélula. Depois disso, ela morre em dois dias. Acho que a Carolina de Jesus foi isso. Ela passou a vida inteira trabalhando e, quando realmente ela conseguiu alcançar o que ela se propôs a fazer a vida inteira, ela morreu. Então, eu faço essa analogia com os arautos nessa abertura. Aí eu falo um pouco da ancestralidade da Carolina. Teve um avô escravo, que morava em Angola e veio pro Brasil como escravo”.

Setor 2
“Abro o segundo setor falando desse amor da Carolina pela literatura. Ela teve alguns problemas em Sacramento, onde ela teve o apelido de ‘Carolina do diabo’, por ter lido um livro de São Cipriano. As pessoas passaram a achar que ela fazia bruxaria. Com todo esse sofrimento dela e não podendo perambular pela cidade sem ser taxada como bruxa, ela resolveu ganhar o mundo e foi parar em Franca, fez uma passagem rápida em São Paulo, foi pro Rio de Janeiro e depois voltou pra São Paulo de vez pra trabalhar de empregada doméstica. Aí que começou a história dela de tristeza. Morou em albergue, chegou a catar papelão, até chegar na favela do Canindé com três crianças”.

Setor 3
No terceiro setor a gente fala sobre a carruagem, o grande baile, onde ela foi aceita pela literatura como grande escritora. Eu começo a falar de tudo o que ela ganhou, fechando o nosso carnaval assim. Ela gravou um LP, ‘Quarto de Despejo’, título de cidadã paulista, de mãe preta. Ela começou a fazer tanto sucesso que o livro passou a ser peças de teatro e filmes”.

Setor 4
“O último carro continua falando desse legado de Carolina, o quanto ela inspira outras mulheres. E também o quanto ela era apaixonada pelo carnaval. O carro fala exatamente da Colorado entregando o sapato de cristal, que é o conhecimento dela sendo uma grande escritora”.

Ficha técnica
Alegorias: 4
Componentes: 1600
Alas: 19
Escultura e pintura – Jô
Decoração – Deivid
Equipe de serralheria – Bruno Limão
Marceneiro – Marcelo Carioca

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