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Série Barracões: Sem poupar ninguém, São Clemente criticará vaidade de carnavalescos em alegoria

Em um enredo que se propõe criticar os rumos que o carnaval levou, a São Clemente não vai poupar ninguém na Avenida em 2019. Em ‘E o samba sambou’, Jorge Silveira terá crítica à vaidade dos colegas carnavalescos em uma alegoria. Em uma ala a imprensa de carnaval não será poupada. Compositores e os sambas de escritório também não escaparão do crivo da escola.

Jorge Silveira recebeu a reportagem do CARNAVALESCO para uma conversa no barracão, onde além de explicar o enredo, respondeu questionamentos sobre o desfile da escola. Silveira disse que propôs o enredo para o presidente Renatinho antes mesmo do desfile de 2018, mas que ele não se convenceu em um primeiro momento.

“A responsabilidade é minha, pois eu comprei esse barulho. Ao finalizar o projeto de 2018 ele me disse que iríamos renovar. Eu havia perguntado a ele qual seria a São Clemente que ele gostaria de ver em 2019 e ele disse que sonhava em voltar com a escola crítica que consagrou os carnavais da agremiação. Propus a ideia da reedição, no início ele não foi adepto. Após tudo que aconteceu depois do desfile eu tive os argumentos para convencê-lo. Minha tese é provar que não é uma simples reedição, mas uma releitura. Os acontecimentos que cercam o carnaval provam que ele (enredo) ainda é atual”, destaca.

A reedição terá uma nova cara dada por Jorge Silveira. O carnavalesco revela que imergiu no desfile de 1990 e não assistiu apenas este, mas todos aqueles que deram à escola a marca da crítica reconhecida por todo o mundo do carnaval.

“O desfile terá uma relação forte com aquele de 1990, mas a proposta é trazer as críticas para 2019. Novos problemas do carnaval estarão no nosso desfile. Assisti muitas vezes ao desfile, tenho o livro abre-alas daquele carnaval. Foi tudo muito bem fundamentado. Conversei com pessoas que participaram daquele momento, especialmente, o Renato e o Roberto, para que me transpassassem a sensação daquele momento. Assisti todo o material videográfico disponível da São Clemente na internet. Esse desfile é uma afirmação da identidade da escola. É o momento do reencontro da São Clemente com si mesma. Busquei entender como a escola chegou nessa marca. De 1990 não vamos trazer, por exemplo, um trecho que criticava pessoas que faziam filmagens dos desfiles na arquibancada e vendiam ao exterior. Essa é uma crítica que não cabe mais. Por outro lado temos outras realidades agora, como os sambas de escritório”, contou.

Jorge Silveira contou à nossa reportagem que críticas aos rumos do carnaval não podem ficar de fora de um desfile que se propõe em fazer uma crítica contundente colocando o dedo na ferida.

“A gente não deixará de falar como a grana interfere na criatividade dos artistas, como os sambas de escritório pasteurizaram as obras, o exagero de vaidade de muitos carnavalescos, a efetiva necessidade de transformar o espetáculo em uma coisa midiática em detrimento da valorização dos sambistas, os excessos que acontecem em relação ao povo, que ficou fora da jogada, como diz a letra de nosso samba. Os preços das fantasias. Todos esses aspectos estarão no enredo. Existem coisas fora do lugar, e vamos apontá-las”, explicou.

Como gato escaldado tem medo de água fria, Jorge Silveira evitou criar um projeto excessivamente caro para não ser surpreendido com novos cortes de verba da prefeitura, o que de fato acabou acontecendo. O carnavalesco garante que não precisou fazer nenhum corte no projeto.

“No ano passado fomos pegos de surpresa no meio do processo pois sabíamos que haviam um orçamento acordado que acabou não acontecendo. Esse ano eu já parti com um projeto enxugado. Será bonito, será bem feito, mas com materiais bem menos sofisticados que 2018 por exemplo. Terei muita forração e sem plumas no desfile. Não houve nenhum corte no projeto. E tenho fé que levaremos ao desfile tudo que foi planejado”, destacou.

O carnavalesco da São Clemente avalia que não poderia deixar de criticar nenhum aspecto da folia, pois poderia se tornar um desfile ‘chapa-branca’. Silveira adianta que não houve nenhum tipo de censura por parte da direção da São Clemente.

“Tivemos um cuidado estratégico no lançamento do enredo. Lançamos a sinopse, a logo e um vídeo explicativo. Não se trata de levar o mesmo samba para a avenida. Tenho o compromisso de fazer essa diferença de maneira concreta na avenida. Em nenhum momento eu pensei em não criticar determinado aspecto e nem a diretoria da escola me fez qualquer tipo de pedido para não inserir algo no enredo. A São Clemente estava muito afastada de si mesma e estamos buscando esse reencontro. Sei que enfrentarei interesses não amigáveis à minha proposta. Mas estou buscando uma linguagem didática e interativa com a arquibancada”, afirma.

Sambista atento aos rumos tomados pela folia, Jorge Silveira destaca que o carnaval se afastou perigosamente do povo, o que fomenta comentários populistas do prefeito Marcelo Crivella, encontrando eco em pessoas que desconhecem o mundo das escolas de samba.

“O centro do enredo da São Clemente eu vejo como a questão mais grave no carnaval. A forma como o povo se afastou do carnaval e das escolas de samba. Muitas pessoas apoiam a forma com a qual o prefeito persegue a festa. Eu como sambista me sinto muito incomodado. E vejo que as escolas são muito responsáveis por isso. Conseguimos perder o povo e a opinião deles se voltou contra nós. Será que se o desfile de escola de samba acabasse hoje haveria uma comoção nacional?”, questiona.

Conheça o Desfile

A São Clemente se apresentará com cinco alegorias, 2.600 componentes e 26 alas. Jorge Silveira explica aos leitores do CARNAVALESCO como se dará o desenvolvimento do enredo setor por setor.

Setor 1: Abrimos transformando a Sapucaí em uma grande Hollywood. Como ela se transformou em um show midiático. Como supervalorizamos as celebridades em detrimento do verdadeiro sambista. É fantástico, virou Hollywood isso aqui, luzes, câmeras e sons, mil artistas na Sapucaí.

Setor 2: A distorções do samba, tudo que está fora do lugar. O ponto alto disso é o camarote da Sapucaí, como o povo não tem acesso às maiores regalias. E muitas vezes como o som alto atrapalha o que acontece na avenida. E nem samba tocam.

Setor 3: Criticamos a forma como a grana determina toda e qualquer decisão do carnaval. Desde o troca-troca dos sambistas à forma como a criatividade do compositor é afetado. Sambas encaixotados, bois com abóbora.

Setor 4: Criticamos a vaidade excessiva do carnaval. Carnavalescos, destaques, gente que só aparece na hora do desfile. Rainhas de bateria que pagam pelo posto. A vaidade das redes sociais, avaliam barracão por fresta de barracão.

Setor 5: Fazemos referência a antigos carnavais. Saudades da sensação gostosa que aqueles momentos nos trouxeram. Apresentamos as credenciais críticas da São Clemente, revivendo os carnavais críticos da agremiação. Vamos encerrar nosso desfile criticando o corte de verba com uma alegoria ‘inacabada’.

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