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Série Barracões SP: Vem Sankofa! Voltar ao passado e ressignificar o presente é o objetivo do Vai-Vai para o desfile de 2022

Carnavalesco Chico Spinoza pretende trazer a africanidade ao desfile e memórias da comunidade da Saracura

O site CARNAVALESCO visitou o espaço de alegorias do Vai-Vai e conversou com o carnavalesco Chico Spinoza, que explicou todo o desenvolvimento do desfile da escola para 2022. A agremiação irá para a avenida com o enredo “Sankofa”. O conceito do tema consiste em olhar o passado para ressignificar o presente, através de um pássaro africano chamado Sankofa e, segundo Chico, tem tudo a ver com o momento em que o Vai-Vai está passando.

“Esse foi um enredo que eu ganhei anos atrás do Abdias do Nascimento. É extremamente bonito. Você pode dar uma ênfase maior em busca da soberania africana, porque é um enredo pré-colonial. Quando o soberano africano com as lendas e mitologias, quimeras e as fantasias africanas, saíram para o mundo. O Abdias me mandou esse enredo com uma dedicatória muito linda. É quase que uma obrigação nossa resgatar essa soberania africana. Eu tive com esse enredo engavetado por mais de 15 anos. Depois de muitas discussões com o Gabriel Melo (diretor de carnaval) e com o presidente Clarício Nunes, fizemos algumas reuniões, apresentamos algumas propostas de enredo e, em determinado momento, chegamos à conclusão que o melhor para a escola nesse momento seria fazer ‘Sankofa’, que é um pássaro mítico e negro que olha para trás com o objetivo de reconhecer o passado, entender o presente e redefinir o futuro. É um paralelo muito grande que acontece com o Vai-Vai, que foi para o acesso e conseguiu subir. Vamos olhar os campeonatos, o presente e redefinir o futuro para ver o que realmente queremos como escola”.

Segundo o carnavalesco, os ideogramas africanos foram de maior interesse na hora de pesquisar e desenvolver todo o desfile da Saracura. Toda a questão da africanidade, também foi de suma importância.

“O Gabriel (diretor de carnaval) teve uma grande participação nisso. Quando a gente começou a entender os ideogramas, que são mais de 80, nós fomos pincelando e, cada um, entrava nos costumes ou nas lendas africanas, isso começou a nos dar um ânimo muito grande de poder mostrar essa proposta que esses ‘adinkras’ trazem. Por exemplo, você tem uma frase comum hoje em dia e extremamente relevante, que é o fato de ‘pé de galinha não mata pinto’. Apesar de ser um enredo pré-colonial, temos essas ligações com esses ditados populares”.

Em questão de perda de componentes e pessoas importantes, talvez o Vai-Vai tenha sido a escola que mais sofreu com isso. Muitas pessoas queridas dentro da agremiação se foram e, com isso, já é declarado que várias homenagens serão feitas dentro do desfile. Isso se deve também à proposta do enredo, que é voltar ao passado.

“O nosso enredo nos obriga a olhar para trás e, no momento em que fazemos isso, vemos uma soberania impressionante do mundo do samba. A maioria já se foram, fazemos citações deles no último carro, que é onde volta para o nosso reduto oficial, nosso adinkra, que é a coroa do Vai-Vai, como os ramos de café. Então a gente cita toda essa soberania do passado”.

O artista pregou cautela quando o assunto abordado foi o estilo do Vai-Vai na pista. Porém, terá um pouco de tudo.

“vai ter criatividade muito grande. Algumas pessoas costumam dizer que eu dentro das minhas necessidades de fazer carnaval, quanto mais apertado financeiramente, mais criativo eu me torno. Desde o último carnaval, nós encontramos o Vai-Vai em um buraco de dívidas. A gente está fazendo de nossas criações o nosso ponto de maior exploração. O público vai encontrar uma Vai-Vai criativa, com uma pretensão de luxo, maquiagem embaixo dos holofotes que pode refletir uma soberania e um ouro axante. Temos efeitos muitos simples de teatro em alegorias e outras coisas”.

Uma sequência de impactos para o público

“Pode ser um misto de coisas. A gente espera que o público tenha um impacto com a comissão de frente, que se apaixone pelas aranhas. Nós estamos abusando da criatividade e da parceria. A gente tem um projeto criativo, temos um iluminador que está conosco há muitos anos, um ferreiro que trabalhamos muito bem um com o outro. Quando o carnaval foi adiado, ele falou para mim que daria para fazer alguns movimentos. Então, estamos conseguindo alguns resultados simples, mas muito bonitos”.

A sensação de abrir o sábado de carnaval

O Vai-Vai terá a responsabilidade de ser a primeira escolar a desfilar no sábado. A expectativa é muito grande, ainda mais pela festa da arquibancada, visto que a torcida vai em peso. Só de imaginar a arquibancada com as tradicionais bandeiras, já desperta ansiedade nos foliões.

Chico Spinoza, mostrou otimismo e pretende levar a agremiação ao desfile das campeãs.

“A maior sensação é o dever cumprido. Eu fui fardado a grandes momentos de sorte quando abrir carnaval. Eu não sei se lembram, mas em 2000, eu coloquei a Unidos da Tijuca em quarto lugar, e eu ainda estou arriscando um quinto lugar para o Vai-Vai, porque eu acredito na comunidade, na bateria, no canto e nessa força que a escola se torna quando acreditam no trabalho da gente”.

Como é assinar mais um enredo no Vai-Vai

Chico Spinoza tem uma grande história na comunidade do Bixiga. O artista está assinando o seu décimo carnaval pela agremiação, fazendo 3 passagens e conquistando 3 títulos do Grupo Especial (1998, 1999, 2008), além do atual título do Acesso I em 2020, totalizando quatro canecos. O carnavalesco declarou sua paixão pelo Vai-Vai.

“Eu me fiz carnavalesco em uma escola de samba chamada ‘Deixa Falar’, que virou Estácio de Sá. Tenho uma paixão muito grande por lá. Nos deu um campeonato com o enredo paulista na cidade do Rio de Janeiro, que foi ‘Pauliceia Desvairada’. Quando eu fui convidado pelo Boni para fazer carnaval em São Paulo, ele me deu opções de escolas e eu escolhi o Vai-Vai. Nesses anos todos, eu vou e volto, porque é a minha escola de coração. Estando nela, meu coração já bate diferente”.

Conheça o desfile

Setor 1
“Representa a lenda que é exatamente o encontro com essa quimera que é o homem aranha. Ananse é metade homem e metade aranha. Ele é filho da mãe terra com o Deus criador. Por alguma esperteza, ele resolveu trazer uma cidade para sua tribo axante. Com suas histórias, trouxe o adinkra, ouro e tudo mais que estava dentro dessa cabaça. Esse primeiro setor é ponteado com coisas bem específicas. Temos bateria como o própri Sankofa, baianas como o conjunto de adinkras

Setor 2
No segundo setor, falamos da cultura axante, que é baseada na arte, tecido, ouro, ferro, nas máscaras. É bem representado pela segunda alegoria, que é uma das minhas mais queridas, porque eu trago um efeito já usado no Vai-Vai lá no passado. Eu olhei no meu passado para compreender o Vai-Vai também. Lá no passado, eu fiz um enredo aonde o reino do absurdo era a ‘era de plástico’, e eu faço um carro alegórico inteiramente de plástico de lixo”.

Setor 3
Nesse setor, a gente faz dois encontros. A escravidão trouxe para o continente, o Sankofa. Então, a gente faz uma alegoria que se chama ‘o forte do sinistro’, que é um forte de Elmina, na África, que por onde saiu os escravos. A gente faz isso pensando também no grande problema que aconteceu na África entre holandeses e ingleses que queriam o ouro de lá. No meio da alegoria, a gente vê nossa cultura renascer. Um baobá, uma árvore africana, que está meio morta, renasce com festival de cores em cada planta. Na última parte dessa alegoria, a gente faz esse encontro com Tabom, que é um bairro de Gana, por onde os brasileiros estão fazendo a diáspora”.

Setor 4
No último setor, é a coroa do Vai-Vai com o ramo de café, onde a gente canta ‘volta para o seu ninho’. Estamos cantando isso de uma maneira muito forte para os próprios componentes que é aqui que a gente vai aprender tudo e redefinir o nosso presente e o nosso futuro”.

Ficha técnica
Alegorias: Quatro
Componentes: 1800 componentes
24 alas

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