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Série Barracões: Vigário conta um conto e faz críticas ao Brasil atual

Por Diogo Sampaio

Depois de 21 anos longe do palco principal da festa, a Acadêmicos de Vigário Geral retorna para Marquês de Sapucaí no carnaval de 2020, com o enredo “O Conto do Vigário”, desenvolvido por uma comissão de carnaval, formada por Alexandre Costa, Lino Salles e Marcus do Val. A proposta da agremiação é questionar a história oficial, contada pelos livros didáticos e validada pela arte erudita, sobre o paraíso chamado Brasil. A ideia é entender o porquê do “país do futuro” nunca ter “dado certo”, além de retratar como o “jeitinho brasileiro” está presente em terras tupiniquins desde a sua suposta descoberta.

“A Vigário está quietinha, porque a gente acabou de chegar. Mas garanto que quando a galera ver a Vigário entrar na Avenida, vai se surpreender. Não espere a Vigário Geral de uma maneira fraquinha, indefesa. A gente vai pra cima, vai para brigar. Não vou te dizer para ganhar carnaval, afinal a gente tem deficiências ainda, como o dinheiro. Mas a gente vai surpreender bastante o público e os jurados. As nossas fantasias estão bem legais, os carros também. Esperamos que o povo nos receba de braços abertos”, antecipou Alexandre Costa para a reportagem do site CARNAVALESCO.

Os ‘Contos dos Vigários’

Responsáveis pelo desfile campeão da Série B no ano passado, a comissão integrada por Alexandre, Lino e Marcus tem uma longa história com a Vigário Geral, iniciada no ano de 2016, quando alcançaram o vice-campeonato da Série D com o enredo “Maracanã-Guaçu e o Ninho de Deuses”. No ano seguinte, já pela Série C, realizam um carnaval com a mesma temática do atual, intitulado “Contos do Vigário – Nasce um Trouxa a Cada Minuto”. Todavia, segundo os artistas, não haverá muitas semelhanças entre os dois trabalhos, que seguem abordagens e recortes diferentes.

“Nós já havíamos feito esse enredo em 2017, pela própria Vigário. Porém, a princípio, quem estava na escola era um outro carnavalesco e a gente chegou com essa proposta já escolhida. Então, estamos tentando levar para a Sapucaí agora com um outra cara, com uma nova roupagem. Até para não cair na mesmice do que a gente já fez. Estamos saindo para uma outra linha, que lá atrás, a gente até abordou um pouquinho, mas agora vai vir mais pesado, que é justamente a questão política da coisa”, relatou Costa.

Porém, se não bastasse essa comparação, a comissão ainda tem de lidar com outra. Antes mesmo de a Vigário Geral anunciar seu enredo para 2020, a São Clemente, que desfila pelo Grupo Especial, escolheu o mesmo tema para este ano. Novamente, de acordo com Alexandre, trata-se de interpretações diferentes sobre o mesmo assunto. Para ele, o caminho escolhido pela amarela e preta de Botafogo é mais similar ao trabalho deles de 2017 que ao atual.

“A gente não tem medo ou receio de comparações. Até porque, pelo que nós conversamos com o Jorge (Silveira, carnavalesco da São Clemente), eles estão indo na linha que a gente fez em 2017, mais histórica. Ele também vai abordar coisas contemporâneas, mas a gente está indo por uma linha diferente da dele. Claro, vai haver coisas que irão parecer. Não tem como não falar de alguns fatos da atualidade, mas a ideia é a gente fazer um enredo diferente do enredo dele”, assegurou Costa durante a entrevista.

Viés político

A proposta de um discurso mais politizado, adotada pela Vigário Geral principalmente em seu terceiro setor, entra em consenso com uma tendência da folia carioca nos últimos anos, dos chamados enredos críticos. Para Alexandre Costa, esse caminho que vem sendo seguido pelas escolas resgata o papel social e contestador da festa.

“Carnaval antigamente: como era feito? Se formava os grandes blocos, chamado de blocos dos sujos, que vinha marinheiro, pirata, baianas, e o grande lance eram as reivindicações, era brigar pelos direitos. Então, acho que com esse enredo também facilitou este trabalho. É isso que a gente quer. A gente quer mostrar um grande carnaval, mas a gente também que dizer que a gente é brasileiro, que a gente está aqui, que a gente existe e que nós estamos dispostos a lutar pelos nossos direitos”, afirmou.

Comissão de carnaval

Há 13 anos juntos, o trio de carnavalescos iniciou a parceria assinando a Colibri de Mesquita, pelo grupo de avaliação. Depois passaram pela Chatuba de Mesquita, Rosas de Ouro, até chegarem a Vigário Geral. Para a reportagem do site CARNAVALESCO, Alexandre Costa relatou como funciona esse trabalho em equipe, além de explicar qual o papel de cada um dentro do projeto.

“As tarefas são bem divididas. Na verdade, todo mundo faz tudo, mas cada um tem uma responsabilidade. Eu, por exemplo, faço mais as alegorias. Porém, é claro que já peguei em fantasia enquanto os carros estavam parados. Já o Lino Salles pega essa parte de fantasias, enquanto o Marcus mais a parte de historiador. É ele que escreve, ele que defende… Porém, não quer dizer que ele também não cole galão, não recorte uma gola. Todo mundo é de tudo um pouco”, explicou.

Dificuldades financeiras e estruturais

Com experiências por todas as divisões de carnaval da Intendente Magalhães, Alexandre contou que ele e os parceiros estão usando muito do repertório que adquiriram ao longo da trajetória juntos para conseguir colocar o carnaval deste ano na Avenida. Dentre diversas soluções encontradas, Alexandre Costa chamou a atenção para o uso de materiais reciclados, retirados literalmente do lixo.

“Nós estamos no verdadeiro ‘conto do vigário’, porque não temos um centavo. Estamos tendo que se ‘virar nos 30’. Mesmo assim, a gente está fazendo um trabalho bacana que eu acho que vai surpreender a galera. A gente está na crise? Estamos na crise. Mas a gente está buscando soluções bem alternativas. Nos carro alegóricos, por exemplo, eu procurei soluções que fossem mais acessíveis para gente poder fazer, porque não adianta a gente viajar na maionese, criar um coisa e depois não ter como elaborar, como construir. Mudamos várias vezes as concepções, trazendo materiais alternativos. Então, o pessoal vai ver nas fantasias, por exemplo, uma ala que foi toda feita, literalmente, com lixo do ateliê, restinhos que sobra de tecido e embuti lá latinha. A gente deu uma pintada na lata para poder disfarçar, para criar a fantasia. Grande parte delas, aliás, são de coisas que a gente reciclou”, explanou.

Se não bastasse a ausência de verba da Prefeitura do Rio, a Vigário Geral confecciona seu desfile em um barracão com estrutura extremamente precárias e até insalubres. A ausência de telhas no local, por exemplo, já fez com que a escola perdesse parte do trabalho devido aos estragos causados pela chuva.

“Estamos nos virando. Fez um solzinho, a gente tira os plásticos e vamos trabalhar. Começou a chover, tampa tudo e vamos forrar o que der. Então, eu tenho, por exemplo, pintura: não está chovendo? Vamos fazer pintura! Começou a chover? Para a pintura, cobre tudo. Aqui no meu barracão, existem partes que não tem telha. Então, quando chove, chove mesmo em cima dos carros. Tem que tomar muito cuidado porque se já está na decoração, pra não estragar, se já tem escultura, para não danificar. Enfim, é assim que a gente está se virando aqui. Vamos aguardar que Papai do Céu pare de mandar chuva, pare de mandar água, para que assim não tenhamos mais perdas ou atrasos”, desabafou Alexandre.

Entenda o desfile

Responsável por abrir os desfiles da Série A no carnaval 2020, a Acadêmicos de Vigário Geral irá para Marquês de Sapucaí com algo em torno de 1600 componentes, além de 23 alas, três alegorias e um tripé. O enredo “O Conto do Vigário” será apresentado através de três setores, como conta o carnavalesco Alexandre Costa, um dos membros da comissão.

Setor 1: “A gente começa contando a história desde lá dos primórdios, desde a coisa da colonização. Nosso primeiro setor vem todo nesta visão, contando como foi esses trâmites, como que, desde aquela época, já se caía no ‘conto do vigário’. Então, é o colonizador trocando as coisas com os índios, é o espelhinho em troca das riquezas naturais, enfim”.

Setor 2: “O segundo setor é mais escravo, é a parte afro do enredo. Nele, a gente questiona: Será que a liberdade foi realmente verdadeira? Será que não foi um conto também?”.

Setor 3: “O terceiro setor é o Brasil de hoje. A galera vai se identificar demais com esse setor, porque é o que a gente está vivendo todos os dias, no cotidiano. É essa crise toda, inclusive a do carnaval, que o público vai ver passar na Avenida”.

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