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Thiago Monteiro: ‘Olhamos para dentro, tivemos planejamento e foco para conquista do título’, revela diretor da Grande Rio

Diretor de carnaval diz que escola de Caxias, atual campeã do Grupo Especial, terá que trabalhar dobrado para buscar o bi e exalta dupla Bora e Haddad: 'São carnavalescos completos'

A trajetória de Thiago Monteiro como diretor de carnaval se assemelha um pouco com a de sua escola, a Acadêmicos do Grande Rio. Depois de bater na trave algumas vezes, ele e a Tricolor da Baixada Fluminense, enfim, se tornaram campeões de carnaval do Rio de Janeiro. Após o campeonato, com o enredo “Fala Majeté – As Sete Chaves de Exu”, Thiago comenta, com entusiasmo, a importância do planejamento para o desfile que culminou no inédito título para a escola de Duque de Caxias. No barracão da Tricolor da Baixada Fluminense, Thiago Monteiro falou, em entrevista ao CARNAVALESCO, sobre os preparativos para o carnaval de 2022, que contou com um extenso e detalhado trabalho. Além disso, o diretor de carnaval da Grande Rio comentou sobre o elogiado trabalho dos carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad, os quais considera “verdadeiros artistas”.

Foto: Gabriel Gomes/Site CARNAVALESCO

O que o título representa na sua vida pessoal e profissional?

“Representa muita coisa porque, embora a carreira de diretor de carnaval ainda seja um pouco curta, eu tenho perseguido isso há alguns anos. Nos últimos quatro carnavais, foram três vice-campeonatos e agora, esse título. É muito importante, eu fico muito feliz, muito grato a Deus e a toda uma equipe, harmonia, presidência, a direção da escola, diretoria. Agora, pra mim, representa muita coisa porque a gente aprendeu com nossos erros, no último carnaval, e é muito bom você chegar e ter uma Grande Rio como campeã, você ajudar a Grande Rio a ser campeã, isso me deixa muito orgulhoso e muito feliz”.

A Grande Rio sempre foi criticada por falta de planejamento e deu um verdadeiro show em 2022. Como foi esse processo?

“Nós aprendemos com nossos erros porque o carnaval de 2020, com todo respeito e méritos totais para Viradouro, foi um carnaval que nós poderíamos perfeitamente ser campeões também e a gente deixou escorrer por falhas nossas. Teve um momento que a gente precisou olhar para dentro, não só para o Carnaval 2020, mas para os outros carnavais que a gente vinha fazendo não tão bem. Por exemplo, uma das primeiras coisas que foram definidas foi enxugar a escola de camisas. Quem viu a Grande Rio desfilar em 2022, viu uma escola totalmente limpa nas suas laterais. O planejamento também foi nos carros, a gente não tinha uma roda maluca, não tinha um tripé com roda maluca, todos os nossos carros eram motorizados, acabamos com os tripés empurrados. No carnaval 2020, a gente tinha uma máscara na frente do abre-alas, tinha uns tripés empurrados e isso era complicado tanto para levar e na avenida. No planejamento, a gente conversou com o Fafá e ele foi super dez com a gente e no desfile da escola, a gente trocou a posição da bateria, que vinha sempre na ala 19, ala 20, a gente colocou na ala 11 e assim, ele ficava menos tempo no primeiro box, mais tempo no segundo, entrava logo no segundo e a escola conseguia avançar mais, sem paradas. São coisas que a gente foi fazendo. A gente colocou cada motorista, nos movimentos mais banais de barracão, já eram motoristas do dia do desfile porque, em 2020, o motorista engatou a marcha errada porque ele estava sentando naquele carro pela primeira vez. Fomos fazendo várias coisas, a gente não se privou de mostrar os carros na Cidade do Samba, fizemos ensaios, testes de carga, botamos as pessoas em cima do carro do lado de fora, botamos pra andar, ir de um lado para o outro, fizemos teste de tempo de subida e descida cronometrado. O primeiro teste, inclusive, eu me lembro que quando eu vi o tempo, disse: ‘A gente vai desfilar até amanhã, não vai dar tempo’. Depois desse primeiro teste, a gente viu que precisava do dobro de escadas que a Grande Rio estava acostumada. Enfim, foram muitas decisões tomadas, lógico, em consonância com a presidência, com a direção geral de harmonia, com a diretoria e todos os segmentos envolvidos. A gente topou que o Hélio e a Beth (coreógrafos) fizessem mais de uma passada de samba na comissão de frente, mas para isso, a gente teve que recuperar esse tempo em outros lugares e o casal também. A gente foi tomando essas decisões junto com os carnavalescos e toda direção, para que as coisas acontecessem. A Grande Rio precisava ter erro zero em seu desfile. Cada momento, cada ponto do desfile, a gente foi mapeando, foi colocando para que as coisas não dessem problema e acabou dando certo. A gente botou uma equipe só dedicada em escada, outra só em apoio à composição, outra só em apoio a teatro de carro, tinham equipes dedicadas em cada função”.

Foto: Allan Duffes/Site CARNAVALESCO

Ainda no planejamento. O que foi fundamental para o título no trabalho, seja no barracão ou na quadra?

“Todo mundo entendeu seu papel e cumpriu fielmente aquilo que era proposto. Eu acho que a organização, foco, é uma escola que entrou, desde a comissão de frente ao último componente, todo mundo focado em não errar, em fazer o seu melhor. É cumprir o planejamento, ter tempo, se preparar mesmo pro desfile. Eu sou muito a favor de um bom planejamento no pré-carnaval, acho que quase nada acontece só na pista, lógico que se a escola errar… Mas, o pré-carnaval é fundamental. Cada ação que a escola foi tomando, com a assessoria da escola, com a presidência, com os carnavalescos, com a gente, com os segmentos, era focada. No ensaio técnico a gente colocou um monte de bandeiras, aquelas eram bandeiras do abre-alas, eles estavam ensaiando para o abre-alas. A gente quis fazer, realmente, em cada movimento nosso, preparações para o desfile, nada ali foi gratuito, nenhuma fantasia que saia, foi gratuita. Não é que a gente tenha regravado o samba, a gente fez uma outra gravação do samba, a da Liesa ficou muito boa, já com bossas do desfile para poder a comunidade e os nossos ensaios de casal e comissão estarem mais afetos ao nosso samba. Assim, tudo que foi feito no pré-carnaval, culminou no desfile. Imprevistos acontecem, lógico, estamos passíveis de imprevistos e graças a Deus, não aconteceu esse ano. Mas, eu acredito que planejamento é fundamental”.

Houve muita pressão sobre o andamento da bateria e a levada do samba. Agora, qual é a análise que você faz?

“A gente sempre esteve seguro, isso é normal, o Fafá é um mestre, embora novo, totalmente experiente, junto com o Evandro Malandro (intérprete), são monstros, não estão aqui a toa. Eu sempre tive tranquilidade com a questão do andamento e a bateria da Grande Rio, realmente, não corre, ela é uma bateria que vai em uma cadência gostosa e esse samba pedia isso. Muitas críticas foram feitas por pessoas que sequer foram à quadra, viam vídeos e eu respeito. Mas, elas viam vídeo e estavam criticando. Quando viram no ensaio técnico, já viram uma outra escola e no desfile, totalmente diferente. Crítica é normal, quem bota a cara, tá aí para apanhar e está sujeito a apanhar ou ser laureado. Agora, quanto à bateria, eu sempre tive total tranquilidade de que seria sucesso, é o terceiro ano do Fafá, da bateria explodindo e vai ser assim por muitos anos, se Deus quiser”.

A escola deixou de ser a global, mesmo ainda sendo muitos famosos, mas agora é vista como de comunidade e principalmente de grandes artistas. Como issoa conteceu?

“Os globais continuam na escola, a escola recebe muito bem e que bom que eles vem porque é uma escola que acolhe, as pessoas se sentem bem aqui dentro. Agora, nós temos o povo de Caxias, tem o povo que não é de Caxias e tá aqui dentro. Essa mudança devo ao samba, a enredos, que deles vem um bom samba, advém a comunidade comprar o barulho, trabalho voltado, pelos carros alegóricos da Grande Rio. Em 2020 já tinha e agora muito mais, pessoas coreografadas e pessoas de comunidade no carro e isso traz mais o povo, mais a vibração. Tem musas, tem os semi-destaques, que são fundamentais e embelezam qualquer desfile, mas você tem também a vibração da comunidade, do povo no carro. Eu acho que isso tudo, a gente voltou a trazer em 2020 a ala dos casais mirins, esse ano trouxemos novamente a ala dos pandeiristas, uma tradição do carnaval. Você vê setores no desfile da escola e em campos da escola, que você está trazendo pro carnaval e isso as pessoas de fora veem, você não precisa sair dizendo, você vai trabalhando e as pessoas vão vendo seu trabalho naturalmente. A gente vai mostrando o trabalho com o dia a dia”.

Com o tabu do inédito título quebrado, agora qual é o próximo passo da Grande Rio?

“Se Deus quiser, lutar pelo bicampeonato porque a gente gostou desse negócio aí, sentimos esse gostinho. Lógico, respeitando todo mundo, mantendo essa excelência porque eu acho que continuou a excelência de 2020, os errinhos de 2020 foram corrigidos, acho que a escola está no mesmo perfil, mesma prateleira de 2020 e é manter e só vai manter isso com trabalho, não adianta sentar em berço esplêndido, botar o salto 40, que isso não vai acontecer. A escola precisa botar o pé no chão, comemoramos, mas a gente tem que trabalhar dobrado porque será um carnaval de tiro curto e a gente vai precisar realmente trabalhar para manter essa posição que tantos querem”.

Está se falando muito sobre o novo conceito de carnaval da dupla Bora e Haddad. Qual é esse novo conceito?

“Eles são fantásticos, eles são artistas na concepção da palavra, todo carnavalesco é um artista. Mas, eles têm sacadas que saem da caixa, você vai falar do lixão, talvez eu, se fosse um carnavalesco, eu botaria o lixão mesmo de Gramacho, eles fizeram o lixão do carnaval. Eles pegam enredos de Exu e Estamira e colocam “Fala Majeté”, sai um pouquinho do lugar comum. É um estilo adequado ao enredo que eles estão tratando, se for fazer um enredo totalmente diferente, com outro viés, eles também vão mergulhar em outro viés. Eles já falaram de Arthur Bispo do Rosário, de amuletos, de Manoel de Barros, já fizeram enredos com outras vertentes, em outros lugares e igualmente laureados. Eles são, pra mim, carnavalescos completos. Fizeram dois enredos com vertente na africanidade, nos orixás, mas eles não são carnavalescos só disso, pelo contrário. Quem conhece um pouco da história deles, sabe do que esses meninos são capazes e vão ser ainda mais capazes”.

Dizem que é muito difícil trabalhar na escola, porque muita gente opina, como Jayder, Leandrinho e Helinho. Você se encaixou perfeitamente. E aí é fácil ou difícil?

“Quisera qualquer escola ter quatro presidentes para ajudar a gente a tocar isso. Eu sou um privilegiado por ter quatro presidentes, ter tantas pessoas boas do nosso lado porque, primeiro de tudo, eles respeitam seu trabalho, respeitam o trabalho do profissional. Não é a toa que já trouxeram os melhores profissionais para trabalhar aqui e todos foram sempre respeitados e comigo não é diferente, sou respeitado e acho que todos os segmentos são respeitos e são pessoas que te dão respaldo. A pior coisa que um profissional pode ter é um lugar onde não tem respaldo. Ele quer ter ideia, quer colocar em prática, mas não tem respaldo, tem um barreira aqui, outra ali. Lógico que ideias são para ser dadas, várias cabeças pensam melhor do que uma, isso não é um clichê, mas uma verdade. Eu me sinto um privilegiado de ter quatro presidentes que nos levam adiante e nos levaram a esse título, nos deram condições, meios para isso. Fazer o que a gente fez no ensaio técnico, se não tivesse condições, não é qualquer escola que consegue colocar aquilo que a gente botou, led no ensaio, preparar tantos ensaios, levar o carro da comissão de frente duas vezes para o Sambódromo para ensaiar, isso custa dinheiro, não é botar o carro na rua e levar. Fazer um ensaio daquela magnitude em Caxias, custa muito dinheiro também, você tem que ter meios para fazer. Fazer um carnaval desse tamanho não é tão simples, você ter meios para botar no barracão é tranquilo, mas tirar do barracão com segurança, botar na avenida e trazer com segurança, como nós trouxemos, você precisa ter meios. Os presidentes nos dão totais meios para isso e eu me sinto um privilegiado de estar aqui. Eu não vejo, sinceramente, essa dificuldade. Dificuldade qualquer escola tem a sua idiossincrasia, sua particularidade, já trabalhei em outras escolas que tinha suas particularidades. É importante você chegar em um lugar, entender aquilo ali e se inserir, você não é maior, melhor do que ninguém, você está inserido dentro de um contexto”.

O que você sentiu quando começou o desfile e depois quando terminou?

“No início, eu estava muito concentrado porque, de novo, 2020 veio à tona em vários momentos. A gente não poderia repetir em nada aquilo, os erros que a escola comentou. Quando a bateria sai do último módulo, aí cai a ficha de que tudo havia dado certo, eu comecei a gritar, falar palavras impublicáveis, abraçar, porque ali, eu tinha realmente a certeza que um caminhão tinha saído das nossas costas, não só das minhas, mas das de muita gente, que lutou, se esforçou em 2020 e, por fatalidade, não conseguiu. Então, quando saiu a bateria do último módulo, eu respirei e realmente ali, eu comecei, não a comemorar o título porque tinha que esperar a apuração, mas a comemorar o trabalho que havia sido feito, a chegar na dispersão bem, dentro do tempo. Inclusive, eu faço um planejamento de tempo, a minutagem, que, desde sempre, eu faço e esse foi o primeiro ano que a minutagem bateu certinho, eu sempre coloco uma margem de erro e esse ano, ela bateu certinha e quando eu vi isso também, no celular, foi uma noite mágica, fantástica e só comemorar, abraçar e chorar porque eu chorei pra caramba”.

Doeu perder décimos em Samba-Enredo?

“Respeito o jurado, já vi as justificativas, não concordo, mas respeito. Doer, não doeu, doído seria perder o campeonato por causa do samba, mas a gente tem que respeitar, é uma outra visão, um outro prisma que o julgador viu e eu respeito. Eles estão lá, são extremamente capacitados, poderia ter tido nota em outros lugares também que eu respeitaria, da mesma forma. Tenho que respeitar e eles são muito capacitados para estar ali e estão de parabéns também pelo julgamento, não é a toa que a escola aclamada por todos, ganhou. Há muitos anos, você tem a campeã não sendo contestada e isso mostra a lisura do julgamento e a seriedade, isso também nos dá muita segurança para continuar trabalhando”.

A escola ganhou sete prêmios Estrela do Carnaval (Desfile do Ano, Comissão de Frente, Enredo, Carnavalescos, Originalidade, Samba-Enredo e Conjunto de Alegorias). Recorde total. O que representa isso para você?

“Isso representa muito, é a sensação de dever cumprido, um prêmio de pessoas sérias, batalhadoras, que se dedicaram muito, cada segmento, cada componente, cada um porque foi um carnaval longo, dois anos e dois meses de preparação. Muita gente se preparou, sonhou, lutou, vai da passista, vai da baiana, do ritmista, do componente de ala, da equipe de criação, de barracão, de quadra, que distribuiu muita fantasia e não é fácil distribuir fantasia em cima da hora porque a gente quis guardar para as pessoas ensaiarem mais. Está todo mundo de parabéns e esses prêmios são só reflexo do sentimento de dever cumprido e nos deixa muito envaidecidos e felizes”.

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