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Unidos de Padre Miguel escuta ‘voz de gente bamba’ e parceria de Jefinho Rodrigues vence disputa de samba

Por Guilherme Ayupp. Fotos: Allan Duffes

A vermelha e branca se apresentará no Carnaval 2019 com o enredo ‘Qualquer semelhança não terá sido mera coincidência’

A Unidos de Padre Miguel deu a vitória à parceria de Jefinho Rodrigues, Igor Leal, Jonas Marques, Wagner Santos, Gulle, Eli Penteado, Ruth Labre e Roni Pit’Stop na grande final de samba-enredo na madrugada deste sábado na Vila Vintém. Os compositores superaram outras duas parcerias em uma disputa de altíssimo nível. A vermelha e branca se apresentará no Carnaval 2019 com o enredo ‘Qualquer semelhança não terá sido mera coincidência’ em homenagem ao dramaturgo Dias Gomes. A escola será a quinta a desfilar na sexta-feira de carnaval pela Lierj.

Jefinho Rodrigues mostrou a força de seu nome na Zona Oeste. Consagrado na escola vizinha da Unidos, a Mocidade, o poeta alcança seu quarto campeonato de samba na vermelha e branca da Vila Vintém. E o faz no ano em que desfez a parceria campeã de 2018 com Claudio Russo. Eli Penteado, único compositor além de Jefinho a ter ganhado na escola, em 2010, conquista o bicampeonato. Os demais integrantes da parceria vencem pela primeira vez. O time foi reforçado por integrantes da parceria campeã na Mangueira em 2018, como Igor Leal.

Igor celebrou a vitória vibrando com mais uma conquista. Segundo ele, essa tem um sabor especial, pelo fato de ser a única disputa que participa nesse ano, devido às suas funções no Salgueiro.

“E eu que achei que não comemoraria um samba esse ano? Escolhi a Unidos para fazer samba primeiro por possuir uma comunidade muito diferenciada, aguerrida, apaixonada. Mas o que me conquistou de verdade foi esse enredo. É completo, muito bem construído. Tomara que a escola possa subir para o Especial com nossa obra”, afirmou Igor em meio às comemorações na quadra.

Anúncio do samba campeão para o Carnaval 2019

Jefinho também celebrou a conquista sendo reverenciado pelo casal e apontou à reportagem do CARNAVALESCO o que eu sua visão foi o diferencial para o samba ser campeão.

“Aqui se aprende a amar o samba. Isso define a comunidade da Vila Vintém. Acredito que desde o início esse verso cativou a todos. Foi uma vitória bastante justa. Nosso samba se apresentou sempre muito bem. Eu sou daqui. Vencer em Padre Miguel sempre será um fato único para mim”, derrete-se o compositor.

A parceria foi a que obteve a melhor comunicação com o público durante a final. Tanto que foi possível constatar facilmente integrantes da harmonia cantando o samba desde o início da apresentação. Com o diretor de carnaval do Salgueiro, Igor Leal, na parceria a obra recebeu uma ilustre torcedora na quadra. A presidente Regina Celi. Os refrões da obra se destacaram bastante ao longo da apresentação, que terminou sendo a mais forte da noite.

Como de hábito em noites de escolha de samba, a Unidos de Padre Miguel promoveu um grande espetáculo em sua quadra. A comunidade da Vila Vintém chegou junto, mas a quadra não estava completamente lotada, como costuma ficar em noite como essa. Em um primeiro momento a equipe do carro de som, sem Pixulé, cantou sambas antigos de outras escolas de samba. Por volta de 01h15 o intérprete oficial assumiu o comando do palco e passou a cantar os sambas que marcaram a história da vermelha e branca. Personalidades importantes do carnaval estiveram na quadra. O presidente da Lierj, Renato Thor, a presidente do Salgueiro, Regina Celi, o síndico dó Sambódromo, José Carlos Machine, além da corte do Carnaval 2018. A viúva do homenageado, Bernadete Gomes, prestigiou a escolha do samba.

Como foram apresentações dos finalistas

Parceria de Samir Trindade –Com Marquinhos Art’Samba no comando do palco o público iniciou contagiado pela presença do ex-intérprete da agremiação. Entretanto a parceria também encontrou obstáculos para cativar a quadra. Com uma melodia mais adequada ao andamento da bateria, o samba foi discretamente cantado no camarote do intérprete Pixulé.

Parceria de Claudio Russo – A obra teve um pouco de dificuldade no início da apresentação. Mesmo com um palco ‘puro sangue’ o público não se cativou no início. Bruno e Ribas e Diego Nicolau entregaram o canto para a quadra no refrão principal na primeira passada, mas o canto foi apenas burocrático. O destaque da obra foi o seu refrão do meio com a bem sacada melodia no trecho ‘Lalala Lalaue’ em alusão à Martim Cererê, samba da Imperatriz de 1972 e que embalou a novela Bandeira 2, de autoria de Dias Gomes. A dificuldade no desempenho do canto permaneceu nas passadas sem a bateria. Apenas a torcida do samba cantou, o resto da quadra apenas acompanhou a apresentação que foi sem brilho.

Enredo não focará em novelas, avisa carnavalesco

Caminhando para seu segundo desfile à frente da Unidos de Padre Miguel, João Vítor Araújo, conversou com a reportagem do CARNAVALESCO durante a festa da escolha de samba. O artista minimizou o fato de a agremiação receber apenas três obras para o seu concurso e enalteceu a riqueza criativa dos finalistas.

“Eu fiquei muito satisfeito com a safra que tivemos, embora tenham sido poucas obras. Foram três grandes opções. Acho isso melhor que receber muitas composições e poucas se salvarem. Surpreendi-me de maneira positiva com o trabalho dos nossos poetas. Tivemos um samba mais crítico outro mais engraçado. Ficamos em uma grande dúvida para tomar essa decisão”, declarou.

João não se considera um cara noveleiro, embora reconheça que já tenha sido mais. O carnavalesco da Unidos aponta Roque Santeiro e Saramandaia como suas novelas preferidas da obra de Dias Gomes, seu homenageado em 2019.

“Já fui noveleiro. Roque Santeiro é minha preferida, embora eu não fosse nascido. Revi-a toda. Saramandaia também tenho muito carinho. Duas novelas que representam a apoteose do absurdo. Coisas inimagináveis. Que me cativam bastante. Sinto falta disso nos folhetins de hoje. Dias Gomes sempre alfinetou a política brasileira. Tudo que ele sempre escreveu tá acontecendo hoje”, destaca.

O enredo da vermelha e branca não ficará restrito a enumerar novelas e personagens criados por Dias Gomes. João explica que pediu aos poetas que fugissem dessa tendência na hora de construírem seus sambas.

“Eu gosto muito de dar liberdade. Mas fiz um pedido especial que as obras não fossem focadas em novelas. Que não houvesse uma exploração de personagens e títulos. A proposta é falar do Dias Gomes e fazer um link com os dias atuais. Não estou falando de novela”, avisa.

O artista, campeão da Série A pela Viradouro em 2014, explica a linha que vai seguir no desfile da vice-campeã da Lierj em 2018.

“O nosso enredo traz as obras e seis personagens criados pelo escritor Dias Gomes, cujos temas abordados em peças, filmes e novelas são um retrato do Brasil de hoje. As obras de um dos mais importantes autores de teatro, rádio, cinema e TV, abordam com reflexão e bom humor questões sociais que estão em pauta ainda hoje no país. Serão trazidos em desfile temas como intolerância religiosa (em o Pagador de promessas), a vida no interior e os dribles que os políticos dão no povo (O bem amado e Roque Santeiro), a vida nas grandes cidades (tratados em O Espigão e Bandeira 2) e o realismo fantástico (presente em Saramandaia, cuja história até hoje permeia a imaginação do povo brasileiro)”, explicou.

‘Esse ano vai?’. Comunidade ‘cobra’ diretor de carnaval

Apontada sempre como a escola que vai ser campeã da Série A, desde a criação do grupo em 2013, a Unidos de Padre Miguel ainda não conseguiu o sonhado acesso ao Grupo Especial. O fato incomoda o diretor de carnaval Cícero Costa, que reconhece a necessidade de corar o trabalho com o campeonato. O dirigente revela que é cobrado pela comunidade da Vila Vintém.

“Particularmente, incomoda, pois parece que somos incompetentes. A comunidade desanimar é algo que me preocupa. Sou sempre parado pelas pessoas quando vamos subir. Mas eu espero que esse seja o ano. Trabalhar para isso nós vamos. Esse povo precisa dessa alegria”, admite.

Sincero, o diretor de carnaval revelou à equipe do CARNAVALESCO esta noite na quadra que em um primeiro momento ficou triste com o recebimento de apenas três obras concorrentes para o concurso. Mas ressalta que por outro lado a escolha pode se dar de uma maneira mais criteriosa devido ao número reduzido.

“Em um primeiro momento confesso que fiquei meio decepcionado. A escola paga prêmio ao campeão vem com carnavais competitivos. Esperava mais sambas sim. Pelo enredo também, a sinopse muito clara. Não aconteceu. Só que depois que escutei os sambas e vi que a qualidade é mais importante que a quantidade. Avaliamos bastante os sambas na quadra, de uma maneira minuciosa. Por isso a escolha se deu de maneira muito técnica”, revelou.

Pela primeira vez desde que a Série A passou a ter duas noites de desfile (em 2013) a Unidos de Padre Miguel foi sorteada para desfilar na sexta-feira. Cícero não nega que preferiam o sábado, mas promete que o espetáculo não será inferior por isso.

“Queríamos desfilar no sábado sim, mas o sorteio nos jogou para sexta. Não tem por que deixar a peteca cair. Faremos na primeira noite o que sempre fizemos no sábado, um espetáculo grandioso”, destacou.

Cícero contou que o carnavalesco João Vítor Araújo apontou três projetos para o desfile do ano que vem. Ele se identificou de cara com aquele que levarão para o Sambódromo em 2019.

“Quando o carnavalesco nos apresentou esse projeto eu de imediato adorei. Com o Ariano foi um sucesso e eu aposto demais nesse também. Vamos falar de como fazia suas críticas através de sua obra. Casa com o momento do país. Acredito que a aposta foi muito feliz”, suspira.

‘Teremos o samba do ano’, avisa mestre de bateria

Mestre Dinho, desde 2012 à frente da bateria da Unidos de Padre Miguel, foi eufórico ao analisar a obra campeã da vermelha e branca. Segundo o ritmista é a grande obra de 2019.

“A nossa fantasia é segredo de estado. Mas será uma fantasia bem leve. Vou com 250 ritmistas, número que venho trabalhando desde 2012. Vou desfilar com andamento entre 146 e 147 BPM. A nossa escola, desde que eu assumi, desfila com grandes obras. Temos novamente uma composição favorável. Acho que temos o samba do ano”, derreteu-se.

Com relação à análise do desempenho da bateria em 2018, Dinho acredita que o desempenho foi satisfatório, uma vez que a agremiação alcançou os 30 pontos no julgamento do quesito.

“Tivemos notas favoráveis, mas sabemos que precisamos ir sempre em busca do melhor. Novamente gabaritamos, mas perdemos um décimo que foi descartado. Vamos seguir o mesmo estilo de trabalho, atrás desse décimo perdido. Um padrão só de caixas com marcações firmes são meus objetivos principais”, aponta.

Preparação do casal começa neste mês

Com o samba definido o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Vinicius Anteunes e Jessica Ferreira vai iniciar a sua preparação a partir deste mês. O dançarino fez mistério, mas deu pistas com relação à fantasia da dupla.

“Tivemos uma evolução e saímos satisfeitos do desfile deste ano. Ainda não começamos a parte de coreografia e preparação física. A partir da escolha do samba vamos sentar com nossa coreógrafa para desenhá-la. A fantasia é bem irreverente, eu gostei muito. Pela primeira vez não vai será algo singular, cada um virá representado de uma forma”, adianta.•.

Jessica Ferreira confidenciou sua veia noveleira e revelou que gostaria de vir representando no desfile a inesquecível Víúva Porcina, personagem lendário de Regina Duarte na novela Roque Santeiro, exibida pela TV Globo em 1985. Ela revela que o ano de 2018 foi o mais desafiador de sua carreira.

“Foi um ano em que eu passei uma grande provação, que foi me preparar corretamente depois da lesão que sofri no desfile de 2017. Graças a Deus e com apoio do meu parceiro Vinicius Anteunes, conseguimos uma excelente apresentação. Eu sou muito noveleira, adorei esse enredo. Acho que minha personagem preferida do Dias Gomes é a Viúva Porcina. Já pensou eu de Porcina e Vinicius de Sinhozinho Malta (par romântico de Porcina em Roque Santeiro, interpretado por Lima Duarte)?”, brinca Jéssica.

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